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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Por águas nunca dantes navegadas


"Passei grande parte da minha vida profissional em empresas multinacionais, em cargos de de senior management, em paises e culturas diferentes, a conviver com equipas multiculturais e multidisciplinares, onde me habituei a ouvir e colocar na prática expressões como alinhamento, boas praticas, casos de sucesso, "walk the talk" - prometer e cumprir, foi uma vida focada e direcionada para resultados, onde tudo o que não se mede não existe, com os famosos indicadores de performance KPIs, factores chave de sucesso, habituado à ditadura impiedosa dos targets e resultados, e a pedir e atingir o inantingível, com base no histórico onde os 100% não são suficientes, e a famosa última linha da folha de excel que comandava uma vida de vertigem e pressão, a linha do revenue e profit, uma segunda vida de atleta de alta competição.
Hoje que vivemos no mundo da informação e comunicação, onde não existem segredos, onde a informação flui a uma velocidade incontrolável, este é um bem que deve ser partilhado sem receios e não usado como uma arma ou uma alavanca de poder. A famosa expressão "não vamos inventar a roda se já está inventada" faz cada vez mais sentido, navegar por águas nunca dantes navegadas é um luxo efémero, quem o faz são os iluminados e visionários e por muito pouco tempo diga-se, e ainda bem, porque os mais atentos estão aí para seguirem as boas práticas e se possível acrescentarem valor em relação às mesmas.
Boas práticas é uma expressão derivada do inglês best practice, a qual denomina técnicas identificadas como as melhores para realizar determinada tarefa. Por exemplo, as boas práticas para se calcular uma equação são as melhores formas para se atingir um melhor resultado, e por isso é sempre recomendável seguir as boas práticas, aliás em diversas profissões têm sido criadas normas de boas práticas que definem a forma correta de atuar dos respectivos profissionais.
E em cima dessas boas técnicas quando uma pessoa alinha de acordo com uma determinada ideologia (de uma empresa, de um organismo, etc.), significa que está a abraçá-la deliberadamente e a conformar-se à mesma. Por outras palavras, essa pessoa está a fazer tudo para integrar a mesma e juntar-se a todos os que partilham desta ideia.
O desporto não é diferente do modelo empresarial, aliás uma Federação, para além de ser uma empresa de vida, é uma Empresa no sentido literal em que o profissionalismo, os resultados, as boas práticas, os praticantes que são a base do edificío, o alinhamento de todos na mesma estratégia e a sustentabilidade financeira, estão intimamente ligados aos bons resultados.
Em Portugal tentei perceber quem e porquê no mundo desportivo, se tinha aventurado por águas nunca dantes navegadas. Nem de propósito encontrei uma Federação que navega literalmente uma onda de sucesso, uma modalidade que hoje é uma referência de alinhamento e boas práticas, a conversa que tive com o Presidente da Federação Portuguesa de Canoagem, Vitor Felix, foi dinâmica, fluída e muito esclarecedora, uma Federação que conseguiu uma receita de sucesso, um fenómeno, com inovação, ciência, atletas de elite, infraestrutura de alto nível, um modelo de treino, mas também um modelo económico sustentável, numa lógica de que os recursos serão sempre limitados, por isso, tal e qual como nas empresas, quem os conseguir alocar e usar da melhor maneira estará sempre no pelotão da frente.
Estas são as 5 razões para o sucesso da FP Canoagem, na opinião pessoal do Presidente Vitor Felix:
1. Infraestrutura o CAR de Montemor-o-Velho, a construção da sua pista, com o aproveitamento excepcional de um leito abandonado do Rio Mondego, foi determinante para criar as condições de treino para atletas nacionais e internacionais, e determinante para a sustentabilidade financeira da FP Canoagem, exemplo dessa evolução foi a organização do Campeonato do Mundo Sénior, tendo sofrido diversos melhoramentos ao longo do tempo como o Hangar, as rampas de acesso e agora a torre de chegada e protecção lateral de vento.
2. Inovação – Kayaks Nelo, a marca Portuguesa de um ex-atleta da modalidade que acompanhou a evolução da canoagem em Portugal. A FP Canoagem teve a visão suficiente e a oportunidade de se associar a este caso de sucesso, estabelecendo uma parceria vencedora, a Nelo tornou-se expoente máximo da modalidade a nível mundial, conquistando em Tóquio 27 medalhas. Considerados os melhores kayaks do mundo, com 50% da produção mundial, é a mais conceituada empresa de canoagem do mundo e pode orgulhar-se de fornecer quase todas as federações de canoagem como a dos EUA, Brasil, Alemanha, Itália, Rússia, China, Austrália, entre outras.
3. Estágios em Portugal num aproveitamento numa primeira fase, do nosso clima ameno, um ano de inteiro verão para os países do norte da Europa, um paraíso à beira mar plantado, proporcionou e cimentou o crescimento económico que este acolhimento de equipas de vários países gerou. Numa fase posterior inverteu-se a lógica de tantos desportos nacionais, em vez de sairmos para o estrangeiro para podermos treinar com os melhores, passaram a ser as equipas estrangeiras a beneficiar do nosso fabuloso clima e poder competir com alguns dos melhores atletas mundiais, neste caso Portugueses - Fernando Pimenta, Emanuel Silva, João Ribeiro, José Garcia, Teresa Portela, Joana Vasconcelos, Francisca Laia, Beatriz Gomes e tantos outros.
4. Formação O treinador Polaco Richard Hope, não foi só instrumental nesta segunda vida em Portugal para gerar bons resultados, foi fundamental em criar os alicerces e passar o conhecimento, preparando a sucessão de uma geração de treinadores Portugueses que hoje dão cartas além-fronteiras, casos do Hélio Lucas e Rui Fernandes, adoptando um modelo que provou ser um caso prático de sucesso.
5. Recursos Humanos Atletas e Treinadores, o alicerce de qualquer edifício corporativo, o foco nas pessoas, os recursos humanos são os valores intrínsecos de qualquer organização, e a FP Canoagem, nomeadamente este grupo de atletas que tomou conta dos destinos federativos, com o Mário Santos á cabeça em 2004, teve essa noção presente, com o foco no aumento e crescimento de praticantes, aumentaram a base em 27% sendo actualmente 3.500 atletas, e, nas palavras de Vitor Félix, este é um foco sempre presente, até para o aparecimento de novas "estrelas".
Eu acrescentaria uma sexta e uma sétima razões de sucesso, aquilo a que hoje se chama propósito, algo que está acima das nossas próprias cisrcunstâncias, a vontade de acrescentar valor, plantar as sementes de algo que alguêm no futuro irá colher, sem termos a certeza que estaremos lá para ver... e uma sétima razão, os atletas dirigentes, quando um grupo de atletas resolveu em 2004 assegurar pelas próprias mãos, com muita paixão, os destinos de uma Federação, que antes de 2000 inclusive tinha perdido o estatuto de utilidade pública, tornando-a num caso prático de sucesso, prova que quem sente e vive a modalidade, aliada a uma gestão altamente profissional, orientada para os resultados, passa a ser uma verdadeira empresa de vida, para todos os que nela se envolveram.
Da nossa conversa resultou ainda a identificação de 2 factores, que na minha óptica ajudaram a criar o modelo de sucesso desta Federação, a FP Canoagem passou a ser identificada em termos nacionais e internacionais como uma marca, primeiro com os resultados desportivos nacionais e internacionais dos atletas portugueses, e após 2009 passou a ser reconhecida a sua grande capacidade organizativa, nomeadamente de grandes eventos internacionais em parceria com o CAR de Montemor. Exemplo dessa capacidade a organização do campeonato do mundo de velocidade em 2018, a maior competição internacional da Canoagem, que acabaram por contribuir como mais um factor de sustentabilidade financeira da FP Canoagem.
Por fim 3 grandes objectivos utilizando mais uma vez numa lógica empresarial, objectivos "SMART" simples, mensuráveis, alcançáveis, realísticos e num tempo definido.
1. Obter resultados desportivos Internacionais
2. Aumentar a base filiação da Federação
3. Organizar grandes eventos Internacionais
Em resumo, o problema sempre que existe, pode ser uma oportunidade, quando deixarmos de olhar para os nossos pequenos mundos, passarmos a partilhar a informação e os casos práticos de sucesso, actuarmos acima das nossas próprias cirscunstancias. A ideia é um bem maior, ter uma visão um plano e uma estratégia a longo prazo, estarmos todos alinhados num objectivo comum, sermos responsáveis e responsabilizados pelos resultados, profissionais do nosso oficio nas palavras do Presidente Vitor Félix, aproveitar os factores comuns a todas as federações sendo naturalmente um deles os atletas, criar sinergias e economias de escala numa lógica de serviços partilhados, muita profissionalização.
Como nos modelos anglo saxonicos, ao ser CEOs de uma Empresa, aliada a uma paixão que naturalmente se torna na nossa empresa de vida, vamos seguramente saber nadar e voar em águas nunca dantes navegadas!"

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