"Todos os clubes têm uma identidade. Clubes há que procuram representar uma cidade, como a Roma ou o Marselha, outros misturam-se com ideologias políticas, como a Lazio ou o Beitar Jerusalém, ou até religiões, como o Celtic e o Rangers. Há clubes que se dizem bandeiras de uma região e bastiões do anti-centralismo, como o Porto ou o Barcelona. Todos eles buscam a motivação, a energia, a gasolina nessa identidade. "Somos clube x e representamos a cidade/região/visão/religião y. Com muito orgulho. Contra tudo e contra todos. Até os comemos."
E depois existem os clubes, mais raros, que por força da sua História, popularidade e percurso se posicionam de um modo diferente. No excelente podcast Segundo Poste definiram isto como a identidade "Real Madrid". Clubes cuja génese é muito simples: "Somos os maiores e a nossa identidade é vencer". Ajax na Holanda, Bayern na Alemanha ou Juventus em Itália vêem à cabeça (Diga-se que os novos ricos Man City ou PSG também almejam essa identidade, saltando etapas e fazendo atalhos, através dos biliões extra-futebol).
Também é essa a génese do Benfica. Sempre o foi ao longo da sua História. O Benfica não se diz representante de Lisboa, nem do sul, nem de qualquer religião ou ideologia. Pelo contrário, o clube posiciona-se como representante de tudo e mais alguma coisa. O Benfica é do norte, do centro, do sul, de todas as religiões e todas as ideologias. Agrega todos juntos em busca da vitória. Daí o E Pluribus Unum que os fundadores instituíram logo em 1904 como o motto do clube.
O problema é que há 30 anos que o Benfica sofre. Sofre por más gerências, por más decisões dos sócios e por ser prejudicado externamente. É um gigante ferido e todas as hienas atacam quando o predador está ferido. E pior ainda, como estava ferido, foi-se afastando da sua génese. Porque já diz o povo, quando não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. E com o insucesso, vem o desespero e a perda de foco. Com Vale e Azevedo, por exemplo, o clube tentou a identifidade "Porto/Barcelona". Todos os outros eram inimigos (até contratos de televisão se rasgavam), cantava-se na Luz o "cheira bem, cheira a Lisboa" e tudo isso deu no que deu. As fotocópias são sempre piores que os originais. E peixe que muito sabe nadar, nunca a árvores vai saber escalar.
Também Luís Filipe Vieira tentou durante alguns anos o belicismo como modo de luta (aproveitando a onda do Apito Dourado) para atacar o maior problema e adversário que o Benfica alguma vez teve, de nome Jorge Nuno Pinto da Costa. Chamou inclusivé figuras dúbias como José Veiga ou Paulo Gonçalves para essa luta. Mais uma vez, também não resultou. Na guerra da lama, ganha o guerreiro com mais experiência e arte no lodo.
Com a primeira chegada de Jorge Jesus e a recuperação financeira, o Benfica reaproximou-se pela primeira vez da sua identidade "Real Madrid". Recomeçou (mesmo que primeiro de forma titubeante e depois na fase final de JJ e já com Vitória e Lage de forma retumbante) a vencer porque tinha de novo simplesmente a melhor equipa e os melhores jogadores. Os outros tinham a raiva e o Benfica ganhava porque tinha o Oblak e o Gaitán. Os outros enforcavam bonecos de vermelho ou levavam-nos o treinador e o Benfica ganhava porque tinha o Jonas e o Matic. O Benfica venceu nesses anos porque teve os melhores jogadores, as melhores equipas e uma onda vermelha a encher todos os estádios. E já estava de novo o Glorioso viciado em ganhar. Porque era o maior e com isso era o melhor. Simplesmente isso. A identidade "Real Madrid".
Mas a ganância levou a melhor. Ao mesmo tempo que os adeptos se viciaram nos títulos, os seus dirigentes viciaram-se nas vendas. No comprar para vender, no formar para vender, na celebração dos recordes dos milhões e dos milhões das comissões. Tanto extremou isso que acabou com o seu presidente de duas décadas afastado pela justiça e o clube novamente afastado do foco desportivo e com isso, mais uma vez, dos títulos.
O que vale é que o Benfica é como o personagem Rocky Balboa, que leva tanta pancada, mas nunca cai nem desiste. Volta sempre para mais. E este ano parece voltar com boas sensações e novamente focado no sucesso desportivo. Foi bom ver um treinador alemão chegar e dizer "se amas o futebol, amas o Benfica". Sabes, Rogério Chaimite. O Benfica é amor e não é ódio. É futebol e não é vendas. Vimos também contratações a serem feitas a pensar nos buracos desportivos e não nos excedentes financeiros. Enzo Fernández e David Neres são pedradas certeiras no charco das inúmeras contratações medíocres do Benfica nos últimos anos. É necessário seguir a vencer e lançar o desafio a Rui Costa para que seja ousado e arrisque se for necessário: não venda Gonçalo Ramos e traga mais 2 reforços que o plantel grita por necessidade (uma alternativa forte à dupla Enzo-Florentino e outra à dupla Rafa-Neres). Os proveitos desportivos e financeiros deste plantar primeiro e colher depois serão óbvios. Não fazer isto é fugir mais uma vez à identidade "Real Madrid". Ou melhor ainda, à identidade "Benfica".
Ps: 45.000 Red Pass vendidos é o sinal da força imponente do Benfica. E mais seriam, se se pusesse à venda. No dia em que este clube voltar a atingir o seu potencial máximo, será novamente imparável a nível nacional. Esmagador. É isso que os rivais sabem e é por isso que tanto o atacam. Porque temem o dia que chegue esse cenário do "apocalipse", em que voltarão a estar décadas a tentar colocar o gigante novamente de joelhos."
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