"Na derradeira jornada do campeonato, o Benfica bateu o Paços de Ferreira, na Mata Real, por 2-0, com dois golos do menino que tinha feito um hat-trick na final da Youth League. Nélson Veríssimo apostou em muitos jovens e o Paços Ferreira devolveu a gentileza com bom futebol
Já depois do 2-0, que lhe roubou poucas curvaturas felizes nos lábios, Henrique Araújo, impaciente enquanto aguardava o retomar do jogo no meio-campo, ouviu algo de Nicolás Gaitán. Finalmente, o sorriso, a serena gratidão, era a inocência na cara do miúdo. Ali, naquele metro quadrado, o futuro e o passado do Benfica trocaram cumplicidades e um pouco de verdade. Esta noite foi muito sobre isso…
Nélson Veríssimo, no derradeiro jogo como treinador do Benfica, inventou uma revolução na Mata Real. Na baliza estava Helton Leite, o futebolista que levou a braçadeira de capitão. À frente, Gilberto, Tomás Araújo, Morato e Sandro Cruz, o jovem que recentemente foi vítima de miseráveis injúrias racistas. Depois, o desafinado Soualiho Meite, João Mário e Paulo Bernardo, no meio, e Tiago Gouveia e Gil Dias nos corredores. Como 9, Henrique Araújo.
Já César Peixoto, que ainda podia sonhar com o 7.º lugar, magicou uma equipa a defender com uma linha de 5, que depois se desdobrava com o central pela esquerda Fernando Fonseca a abrir no corredor, libertando depois o lateral Lucas Silva para o papel de extremo. Os rapazes de amarelo têm qualidade com bola, sabem descobrir os espaços e os caminhos para sair de pressão. Butzke era a referência, aqui e ali com alguns pormenores de qualidade, que espirravam a cada toque na bola da bota de Gaitán, aplaudido por todos quando foi substituído aos 88’.
O primeiro golo da noite chegou logo aos 5’: Juan Delgado perdeu a bola para Tiago Gouveia, um destro na esquerda e com uma fome de anteontem para 1x1, que lançou Araújo na área, pela esquerda. À saída de André Ferreira, o avançado bateu com a canhota para a baliza, com um controlo de quem sabe o que está a fazer.
O Paços começou então a massacrar os visitantes pelo lado direito, com Hélder Ferreira em evidência, embora pecando um pouco na definição dos cruzamentos. Mas a rapaziada da capital do móvel ia deixando o Benfica muito desconfortável, chegando até ao intervalo com mais bola. Helton Leite ia sendo gigante (e assim continuaria, com a baliza por chorar, até ao fim). Os pacenses são uma equipa que privilegia o bom jogo e que tornou esta noite realmente agradável. Foi, aliás, essa a toada durante os 90 minutos, nunca foi duro ou defensivo, havia antes preocupação de jogar futebol. Aquela angústia que chega com a pressão competitiva parecia inexistente. Do outro lado, dos que estavam fardados de vermelho, já se sabe, há lugares por agarrar e os olhos de Roger Schmidt para convencer.
No meio-campo iam pontificando as sabedorias e discrições de João Mário e Luiz Carlos, de 29 e 36 anos, gloriosamente experientes perante a juventude no relvado. Antes do intervalo, após uma jogada ou outra de insistência, um cruzamento de Gil Dias com o pé direito encontrou o afinadinho Henrique Araújo, que voltou a usar o pé esquerdo, ao segundo poste, para encostar para a baliza. O enfado quando a bola não lhe chega é de killer.
No regresso do descanso, num ambiente pacato, os 5.635 testemunharam mais um momento terno com André Almeida a bater umas bolas com Gaitán, que admitiria no final do jogo que vai continuar mais uma temporada no clube. Jogaram juntos, no Estádio da Luz, entre 2011 e 2016. O jogo perderia algum interesse, menos fluidez quem sabe, fruto também das muitas substituições efetuadas pelos treinadores, com destaque para as entradas de Martim Neto e Diego Moreira, dois rapazes que estiveram em destaque na Youth League e na final do torneio, em que Tomás Araújo era o capitão e Henrique Araújo fez três golos.
Helton Leite voltou a negar um golo do Paços, a seguir foi André Moreira que tapou a baliza para uma estreia bonita de Diego Moreira, filho de Almani Moreira. E o marcador nunca mais bailaria.
Está feito, acabou-se mais um campeonato, desta vez com muitos miúdos em campo do lado do Benfica, o que não é sinónimo de aposta na formação. Já o sério madeirense Henrique Araújo transformou-se num rapaz simpático na flash interview, onde, para além de brincar que chutou com o pé que tinha mais à mão, lamentou não ter feito o terceiro golo, demonstrando ainda uma maturidade interessante. Estão ali para agarrar as oportunidades, explicou. O que vem aí? “Vou continuar a fazer o que tenho feito”.
Não tem corrido mal."
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