Últimas indefectivações

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Sejam bem-vindos

"Nas geografias longínquas, onde a vida é áspera, onde o fio da navalha é o chão que se pisa, e o pão que se rói é conquistado a ferros, dia após dia, pouco existe que levantei olhares e acenda sorrisos. Aí, nesses lugares é uma miragem, e a vida é um equilíbrio frágil e precário, a simples ideia do sucesso e da conquista é sinónimo de futebol e acendalha dos sonhos pessoais mais fervorosos. Nesse imenso planeta do infortúnio, a dor e a perda são duas irmãs inseparáveis, sempre à espreita, que acompanham as gentes pela vida fora, desde a mais tenra infância até ao último sopro, tantas vezes prematuro.
A esperança, sempre presente, às vezes ténue e esmorecida, reaviva-se com as notícias que chegam de um mundo mítico, com países de abundância, onde a comida é farta, e a vida é serena e feliz. Onde as crianças vão à escola sem medo nem insegurança, onde se vive até ser velho, muito velho de quase cem anos. Onde as ruas se enchem de vida a abarrotar de famílias felizes, com casas bonitas e novas, carros, lojas e esplanadas, cinemas, estádios, tudo! Esse mundo mítico, onde estádios fantásticos se enchem de multidões aplaudindo craques galácticos que ali chegam de todo o mundo para conquistar a fama e aumentar a glória dos grandes clubes, existe mesmo e fica bem perto, do outro lado do mar, repassada a costa de África e conquistada a Europa numa jangada que seja. Se há que arriscar a vida, que seja por um sonho que valha a pena. E este vale! Este país mítico, que outros sonham um dia alcançar, é também o nosso, tantas vezes subvalorizando na sua abundância por quem teve a sorte de nele nascer. E esse grande clube de jogadores-heróis que alimentam sonhos e inspiram superações é também o Benfica, imenso e grandioso que irrompe pelo mundo e arrebatar gerações. É um Benfica de braços abertos, lugar de partilha e de pertença, que se oferece a todos e que a todos acolhe. Por isso, só podemos imaginar, nunca sentir em todo a sua amplitude, o sentimento de alegria e gratidão que um refugiado acolhido em Portugal tem ao sentir que faz parte do Benfica, que estamos cá para o acolher, que pode ser um de nós. E isso é uma imensa dádiva dos benfiquistas à Humanidade, mas é, humilde e espontaneamente, como bem sabemos, uma mística profunda e um modo, único, de ser Benfica!"

Jorge Miranda, in O Benfica

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