"“O primeiro herói que eu encontrei fora de um livro era um corredor ciclista”. É por estas palavras que René Catinaud (1907-1985), mais conhecido por Georges Magnane, introduz o seu romance “Les hommes forts”, publicado em 1942. Ele evoca o encontro com o desporto e a fascinação pelos corpos robustos que nos cruzamos nas práticas desportivas. Magnane estudou o desporto no contexto de três décadas: de 1930 a 1960.
Decide tomar o desporto como objeto de estudo, abordando-o sobre o ângulo da sociologia. Em 1960, ele obtém um lugar no CNRS (França) e trabalha junto de uma equipa de investigadores dedicados à temática “Sociologia do Lazer e dos Modelos Culturais”. O autor apoia-se em várias monografias realizadas pelos estudantes do Centro de Formação e de Estudos de Educação, da Escola Normal Superior de Educação Física, etc.
O seu estudo sobre as instituições desportivas beneficiou da preciosa ajuda dos seus colegas. O dispositivo de inquérito e de pesquisa levado a cabo por Magnane em torno do desporto é bastante estruturado. O seu ensaio “Sociologie du sport” (1964), surge dois anos depois das obras de Joffre Dumazedier, “Vers une civilisation du loisir”, e de Edgar Morin, com “L'Esprit du temps”, duas obras que se inquietam sobre a massificação dos lazeres e da estandardização da cultura ligadas às transformações da sociedade industrial e a extensão dos lazeres na vida quotidiana.
A sua obra é a primeira do género em França e constitui uma peça histórica interessante, que permite pensar o fenómeno desportivo.
A sua obra foi traduzida em várias línguas, nomeadamente o português. A obra de Magnane abriu uma via para um conjunto de análises históricas, filosóficas e psicológicas, que Jacques Ulmann (em 1965), Michel Boeut (em 1968) e Bernard Jeu (em 1977) continuaram depois. A sua aproximação ao desporto, continua a ser considerada pertinente para alguns sociólogos contemporâneos. Mas não se pode reduzir Magnane a um simples observador crítico do fenómeno desporto. Ele viveu a “experiência desportiva” polivalente. Atleta, professor de inglês, romancista, tradutor, cinéfilo, maçom do Grande Oriente de France (iniciado na Loja “La Parfaite sincérité”, em 12 Abril de 1935, em Marselha), Magnane quis-se fazer de sociólogo. Um sociólogo original e em consonância com o seu tempo. Ele procurou compreender a sociedade e o sistema desportivo, através de um triplo olhar do homem de letras, do sociólogo e do desportivo. No seu pequeno livro Regards neuf sur les Jeux Olympique (1952), que não tem nada de sociológico numa primeira análise, coordenado por Joffre e Janine Dumazedier, ele propõe uma contribuição intitulada “L'esprit olympique”.
O desporto é suscetível de produzir os melhores e os piores efeitos, enquanto representação de um meio cultural. O autor está convencido do interesse social do desporto. Apesar da distância temporal do seu livro “Sociologie du sport”, cremos que, num trabalho sério sobre o desporto, não se poderá deixar de consultar a sua obra. O impacto da obra de Magnane pode-se apreciar, retrospectivamente, em função de indicadores precisos, objectivos, e, por outro lado, baseado em diversas fontes de informação.
Para concluirmos, Georges Magnane, que não se considerava como um autor de obras de sucesso, contribuiu para um novo “élan” da sociologia francesa, nos anos 1960, permitindo individualizar domínios concretos da sociedade contemporânea (sociologia do lazer, sociologia urbana, sociologia do trabalho, sociologia da delinquência juvenil, etc.). A leitura do seu livro, que parece mais empírico do que científico, conheceu um sucesso importante, em particular junto daqueles que se interessam (ou se interessaram) pelo estudo do fato desportivo."
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