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quinta-feira, 12 de março de 2020

É sempre o mesmo

"Pela proximidade dos jogos (Benfica-Moreirense e FC Porto-Rio Ave) deu muito nas vistas. Não me refiro aos erros dos árbitros, mas ao aproveitamento que deles se faz

Na jornada 23, o Benfica recebeu e empatou com o Moreirense a um golo, enervando os seus adeptos com medíocre desempenho. No entanto, por volta do minuto 61, explicou o antigo árbitro e comentador Pedro Henriques, em A Bola TV, que ficara um penálti por marcar a favor da águia. Na conferência de imprensa, Bruno Lage deu a seguinte resposta: «Nunca comentei lances e não será agora, que estamos sem vencer».
A propósito do mesmo lance, em oito linhas, escreveu Duarte Gomes, no seu espaço O árbitro de A Bola, o seguinte: «Rosic pisou, com o pé direito, o pé esquerdo do recém-entrado Dyego Sousa (...). Ficou pontapé de penálti por assinalar favorável à equipa visitada».
... E o Benfica perdeu a liderança, o árbitro realizou um «trabalho globalmente positivo», ainda segundo Duarte Gomes, mas o penálti que devia ter sido marcado e não foi depressa se varreu para debaixo do tapete.
Na jornada 24, o FC Porto recebeu e empatou com o Rio Ave, oferecendo aos seus adeptos uma actuação esforçada, mas pouco clarividente. No entanto, à passagem do minuto 56, Pedro Henriques, no programa de televisão A Bola de Sábado, identificou e fundamentou, com a clareza explicativa que o distingue dos restantes, um penálti por assinalar a favor do dragão.
Na conferência de imprensa, Sérgio Conceição deu o espectáculo que todos viram. Utilizou um discurso com ar esgazeado. Ao falar com falou e ao descarregar a sua ira na figura do árbitro, por acaso o mesmo que dirigiu o último FC Porto - Benfica, apenas reforçou a opinião de Justiça que, em entrevista à SIC, considerou que o futebol vive em ambiente de suspeição permanente e generalizada.
Sobre o mesmo lance, com direito a título («Erro com influência»), escreveu Duarte Gomes na edição de domingo, em A Bola (pág. 16), o seguinte: «Aderlan, já na sua área, chegou tarde e derrubou Marega (...). A infracção foi clara e óbvia (...). Soares Dias seguiu a trajectória do remate e terá, por isso, perdido esse instantâneo. Competia ao VAR dar-lhe a ajuda que se exigia».
... E o FC Porto não foi capaz de distanciar-se do Benfica em 100 minutos, mas o seu treinador foi célere em proclamar que o árbitro teve influência no resultado.
Duas situações idênticas no período de uma semana, envolvendo os dois candidatos ao título, dois resultados e dois lapsos idênticos, embora com tratamentos diferentes, a indicar que há erros de segunda (o da Luz) e de primeira (o do Dragão): sem importância no caso do Benfica, como se nenhuma influência pudesse ter no resultado final, escandaloso no caso do FC Porto, ou até mais do que isso, como se pode intuir do desatino de Conceição.
Dúvida minha: sei de práticas antigas e de vícios enraizados, mas será que insinuar, intimidar e fazer? Quero acreditar que não, mas o treinador do FC Porto deve pensar que sim. De outro modo não teria dito o que disse antes e depois do jogo com o Rio Ave. Ou será que, na perspectiva de especialistas e similares, erros na não marcação de penáltis são para esquecer se o lesado for o Benfica e, por outro lado, justificam tamanha gritaria se o prejudicado for o Porto? Ou porque o treinador de um é urbano no trato e coerente na palavra e o treinador de outro ferve em pouca água e quanto a coerência é consoante o jeito que lhe dá?
Há dois pesos e duas medidas, mas desta vez, pela proximidade dos jogos, deu muito nas vistas. Não me refiro, em concreto, aos erros de arbitragem, mas, sim, ao ignóbil aproveitamento que deles de faz. Olha-se em redor, e é sempre o mesmo.

A crise de resultado no Benfica é evidente, tendo esgotado o estado de graça de Bruno Lage e a paciência dos adeptos.
Sérgio Conceição deveria estar-lhe grato (à crise encarnada), pois foi nela que respaldou para no espaço de três jornadas chegar a líder isolado, prazer que neste campeonato ainda não tivera oportunidade de desfrutar. O que suscita, porém, outra questão e que tem a ver com a deficiente capacidade afirmativa portista em face da pronunciada e demorada quebra benfiquista. De aí, o descontrolo provocado pela empate diante do Rio Ave, impeditivo da descolagem esperada e que corresponderia a uma vantagem que daria ao Porto irrecusável conforto. Enquanto o Benfica andar a fazer de conta, Conceição terá a situação controlada, mas estes apagões nas equipas aparecem tal como desaparecem, quando menos se espera...
Com 30 pontos em discussão e, na teoria, com o calendário menos problemático, será altura de Bruno Lage começar a ver filmes para adultos e deixar-se de conversas inócuas e de comportar-se como paizinho dos jogadores a quem tudo se perdoa; aliás, os mesmos erros de Rui Viória e que conduziram à perda do título em 2018 e à sua saída meia dúzia de meses depois.
Lage precisa de inverter a situação fazendo o que tem de ser feito, que é pôr a equipa a ganhar, exigindo-lhe mais coragem e aplicação. A qualidade do plantel não é a desejável, mas é suficiente para não facilitar um centímetro que seja nas dez jornadas por disputar. O problema é que o próprio treinador tem-se enredado nos equívocos por ele gerados, contribuindo para que o colectivo pareça mais fraco do que na realidade é.
A lesão de Gabriel representa um dano irreparável, mas talvez com menos Taarabt se descortine solução com mais cabeça e se recupere a estabilidade que tem faltado. Além de, aproveitando como último exemplo o jogo no Bonfim, lage deve colocar ponto final na iniludível pouca disponibilidade de alguns elementos em tarefas de sacrifício: se querem ter bola é preciso lutar por ela e não temer nem os duelos, nem os contactos físicos."

Fernando Guerra, in A Bola

PS: O principal erro do Benfica - Moreirense, nem foi o penalty sobre o Dyego, foi o golo anulado ao Pizzi: Duarte Gomes e Pedro Henriques reconheceram nas suas crónicas que nenhuma imagem demonstrou que a bola tivesse tocado no 'braço' do Pizzi, sendo assim, é inexplicável como é que o VAR inverteu a decisão da validação do golo, tomada em campo...
Também é fácil dizer que os jogadores não podem temer os contactos físicos, quando são agredidos repetidamente durante 90 minutos, sem qualquer consequência disciplinar para os adversários!

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