"A época do SL Benfica já vai longa. Já passou a fase de grupos da Liga dos Campeões com a queda para a Liga Europa, já passou a fase de grupos da Taça da Liga com o não apuramento para a Final Four, já se percorreu todo o caminho para a Final do Jamor, já se caiu definitivamente da Liga Europa e já se disputaram 22 jornadas de um campeonato onde o SL Benfica já conseguiu uma vantagem de sete pontos sobre o adversário mais directo e também viu seis desses pontos evaporarem-se.
Uma época com vários e distintos momentos. Uma época onde o treinador já muito mudou e onde já vários jogadores rodaram por aquele 11 titular. Uma época onde até o mercado de inverno nos trouxe grandes movimentações, com a saída do recém-contratado Raúl de Tomás, do miúdo Gedson e do eterno Fejsa, e com a contratação do avançado ex-bracarense Dyego Sousa e do alemão Julian Weigl, por 20 milhões.
Tantos altos e baixos, tantas experimentações e mudanças, fazem-me ter de falar de pelo menos oito das muitas individualidades desta época encarnada. Não que sejam os principais destaques – negativos ou positivos -, mas porque as nuances da sua importância e desempenho esta época merecem debate.
1.
Bruno Lage – Mister Bruno Lage. Quem te viu e quem te vê. Do céu ao inferno por culpa própria. Responsabilidade total nos tempos que viveu no topo do paraíso e responsabilidade total no buraco que está a escavar até ao calor tórrido do inferno.
Há tanto para dizer, mas já tanto foi dito. Aliás, nas sete individualidades de que falo anteriormente, o factor Lage está sempre presente – seja pela positiva ou pela negativa.
Bruno Lage era o homem com o discurso de que o benfiquismo necessitava naqueles tempos de tormenta. Mas, aquilo que nos fortalece quando estamos embaixo não é o mesmo que nos mantém fortes quando estamos em cima.
Bruno Lage trouxe-nos uma alteração táctica e uma nova dinâmica que nos deu um título. Bruno Lage lançou com sucesso jogadores estagnados e miúdos do Seixal. Bruno Lage trouxe nova alma ao futebol encarnado. Esse mesmo Bruno Lage é o que agora nos dá um futebol pobre e sem nenhuma das ideias que anteriormente me fizeram adorá-lo.
Onde está o futebol entre-linhas? Onde está o jogo interior? O futebol apoiado? O gosto por ter bola? A pressão ofensiva? Morreu tudo com a saída de João Félix? Lage contrata jogadores, faz uma pré-época com o plantel, gere quase três dezenas de jogadores, mas tudo o que de bom ele trazia evaporou-se com a saída de um jogador?
Como pode a equipa defender tão mal já desde o início da época? Onde está a evolução dos miúdos do Seixal? Rúben Dias impõe-se como já se impunha, mas Gedson, Jota, Ferro, Florentino e os dois Tavares simplesmente estagnaram ou pioraram. Que ideia bizarra é esta de achar que quando tem de marcar deve abdicar do meio-campo e meter três pontas de lança na área?
Bruno Lage parece uma criança perdida no mundo dos adultos. Foi engraçado o primeiro impacto, mas agora está fora de contexto. Não sabe como colocar a equipa a jogar aquilo que ele pretende e nem sequer parece saber o que pretende do colectivo da equipa! Não parece entender as qualidades individuais dos seus jogadores e vai colocando-os em posições limitantes que nada os favorecem. E agora cada decisão que toma parece um acto de desespero para corrigir algo à pressa.
Que Bruno Lage é este?
2.
Dyego Sousa – Não o vi a jogar nestes seis meses que esteve na China e portanto falarei do Dyego avançado do SC Braga. Esse Dyego é uma excelente opção para o plantel de qualquer um dos grandes em Portugal.
Um avançado forte e capaz de segurar a bola e ganhar espaço entre os centrais, um avançado com boa técnica para conduzir bola e combinar com os seus colegas, um avançado com excelente qualidade de finalização, seja com o seu pé direito ou com a cabeça. Portanto, um avançado de área capaz de actuar tanto no jogo directo como no jogo apoiado, tanto pelo ar como pelo chão, e capaz de criar para si e para os outros oportunidades de finalização. Muito semelhante a Vinícius.
Para mim, o grande problema desta contractação de Inverno foi o seu significado. Com Vinicíus e Seferovic no plantel e sem João Félix ou qualquer outro que faça a sua posição, urgia contratar um segundo avançado, um jogador que jogasse atrás do ponta de lança, mais móvel e mais de frente para a baliza. Era essa a carência da equipa.
Contudo, contratou-se mais um ponta de lança. Deixou-se uma carência crucial por suprir e amontoou-se as opções para aquela posição onde só actua um jogador e no máximo, em casos extremos, só deveriam actuar dois. A mensagem da contratação do Dyego foi que o SL Benfica procurava mais um jogador para o chuveirinho. Não se foi buscar um avançado para melhor o jogo colectivo da equipa, foi-se buscar um avançado para o jogo de desespero de balões para a área nos últimos minutos dos jogos quase perdidos (ou empatados).
Este foi o meu receio com esta contractação e até ao dia de hoje é um receio que está descaradamente a comprovar-se. Um bom avançado que chegou mais para ser um problema do que uma solução.
3.
Adel Taarabt – Craque. Fantasista. Mágico. Futebol Total. Sim, o marroquino é mesmo craque. É o mais talentoso jogador do plantel encarnado. É o mais criativo e mais desequilibrador. É aquele jogador que quanto mais joga melhor fica, um craque perdido e que finalmente se vai reencontrando com o seu futebol. Quanto mais se solta mais nos delicia.
Taarabt está a ficar simplesmente impressionante no ataque encarnado. Cria jogadas do nada, livra-se de adversários como se nada fosse. Este seu crescimento em breve irá nos dar um jogador com ainda mais golos e assistências. A sua evolução tem-no aproximado da área adversária, pois está cada vez mais rápido, cada vez mais ágil e cada vez mais capaz fisicamente. Desde o início da época que tem sido o único jogador encarnado a procurar o jogo interior, o passe vertical. Agora é ainda mais que isso.
Este Taarabt é já muito superior ao do ano passado. Voltou a surgir na equipa principal do SL Benfica quase como um médio defensivo. Jogando mais recuado e mais focado nas missões defensivas. E esse foi um novo Adel – um jogador lutador e agressivo como nunca antes tinha sido.
Teve esse crescimento, mas não é algo que lhe seja natural. A verdade é que apesar do esforço, o médio marroquino é tremendamente trapalhão a defender – cotovelos ao ar e entradas fora de tempo – e um claro candidato à expulsão em todos os jogos.
É jogador de imaginação e não de destruição.
É dar-lhe asas para voar.
4.
Chiquinho – Tal como o alemão, também Chiquinho tem sido das maiores vítimas da interpretação dos adeptos e principalmente do seu treinador. Com jogadores para um 4-2-3-1, a equipa técnica encarnada força um 4-4-2 inexplicável.
Entre Weigl, Taarabt, Pizzi, Rafa e Vinícius, pode surgir um jogador talentoso e criativo de seu nome Chiquinho. Pode surgir este jogador a receber bola entre-linhas, a ajudar a equipa a subir no terreno em progressão; pode surgir este médio de frente a criar e a dar linhas de passe em zonas de finalização e aparecendo ele próprio sem marcação a finalizar. É mais um jogador em campo que pode contribuir para o preenchimento de todo o espaço ofensivo da equipa e proporcionando qualidade à construção de jogo e idealização de jogadas.
Contudo, é usual vermos Chiquinho fora do jogo, fora da sua zona, condicionado à marcação dos defesas. Está ali qual Mário Jardel ao lado de Vinícius à espera do cruzamento.
Chiquinho e Pizzi devem ser os vagabundos do meio-campo ofensivo, alternando entre si os posicionamentos, mais ao centro ou à direita. Mas só Pizzi o faz. Quantas vezes não dependemos da capacidade de Rafa acelerar 20 metros para chegar ao marcado Chiquinho? Quantas vezes não dependemos da capacidade de Taarabt em ludibriar tudo e todos para chegarmos ao marcado Chiquinho? Quantas vezes não dependemos dos cruzamentos laterais a 30 metros da baliza de Tomás Tavares para a bola chegar ao marcado Chiquinho?
Há um buraco no meio-campo ofensivo encarnado que urge preencher e esse buraco é a zona de acção do Chiquinho – ou deveria ser.
5.
Julian Weigl – Julian Sérgio Weigl Busquets, mais conhecido por simplesmente Weigl e potencialmente conhecido como o Busquets da Luz. O alemão foi a grande contratação de Inverno do SL Benfica. Chegou com as expectativas no topo, mas hoje é conhecido como o “passa para o lado e para trás”. Como é que um jogador pode ser tão incompreendido e tão desperdiçado?
Ponto prévio – Sérgio Busquets também o foi. Estávamos habituados a ver médios defensivos como Gattuso, Makélélé, Patrick Vieira e até Schweinsteiger. Jogadores a encher o meio campo defensivo com a sua presença aguerrida. Uns com pouca bola, outros com muito passe longo, mas todos com uma grande imposição física.
Aí surge este espanhol, perdido no jogo construtivo de médios mais criativos, sem uma presença física defensiva impressionante e com bola a correr poucos riscos. Era um “passa para o lado e para trás”. E hoje é reconhecido como um dos grandes 6 do século.
Falo no espanhol porque para mim Weigl tem tudo para ter o mesmo papel no SL Benfica. Tem qualidade para isso mas tem sido totalmente condicionado pelo seu posicionamento. Este médio parece ter sido contratado para ser o novo Javi Garcia ou Fejsa dos encarnados e isso é meramente uma má interpretação do jogador que ele é.
Weigl nunca vai ser um tractor no meio-campo, Weigl vai sempre jogar muito mais com o cérebro do que com a sua força física. Weigl tem de estar no centro da acção, tem de ser o eixo que liga os vários jogadores do Benfica, em constantemente movimento para oferecer linhas de passe, tabelas e passes de primeira. Colocar Weigl a jogar entre os centrais é tirá-lo da sua zona de acção; esperar que o seu jogo seja o de um trinco é não saber que tipo de jogador se contratou.
6.
Tomás Tavares – O júnior do SL Benfica. Tomás Tavares aproveitou a lesão de André Almeida para se ir fixando na direita da defesa encarnada. Logo mostrou qualidade a defender, mas notava-se que lhe faltava a confiança para se afirmar naquela lateral.
Ofensivamente, sempre foi mostrando grandes limitações, pelo simples facto de não conseguir assumir a bola nem uma jogada. Defensivamente, em jogos de maior pressão, mostrou sempre receio na abordagem aos lances. Ao contrário de Ferro e João Félix, Tomás Tavares não teve a arrogância para se afirmar logo no 11. Mas houve qualidade e houve tempo e o jogador foi crescendo, jogo após jogo.
Mas, em Janeiro, quando o jogador finalmente começava a ganhar confiança e a melhorar a sua intervenção ofensiva, perde inexplicavelmente o lugar para André Almeida. Aqui, o jovem lateral português foi muito mal gerido pela equipa técnica. Estava a corresponder, estava a subir exibicionalmente, estava em plena afirmação e foi relegado para o banco só porque o seu concorrente de posição recuperou de uma lesão.
Consequências? André Almeida voltou a lesionar-se, Tomás Tavares voltou a ser lançado e surge agora um jogador muito mais precipitado e encolhido. Neste momento, Tomás Tavares joga a medo e é o pior Tomás da época. Uma pena.
7.
Ferro – Francisco Ferreira apareceu no 11 a época passada com Bruno Lage. Foi um balão de oxigénio para o futebol encarnado. Um defesa sereno, com bom posicionamento defensivo, excelente leitura de jogo e uma qualidade de passe incrível. Um jogador confiante, um central limpo, um jogador capaz de ligar o jogo encarnado com os seus passes entre-linhas e as suas incursões no ataque. Todo o potencial para se tornar um defesa de topo.
Hoje, parece que o balão da confiança estoirou e Ferro se tornou puramente numa lástima. Dá pena ver aquele miúdo em campo. Não pode jogar. Não pode jogar porque está a prejudicar a equipa e está a prejudicar o seu próprio desenvolvimento. Um jovem cheio de potencial que jogo após jogo, fim de semana após fim de semana, vai piorando as suas exibições.
Tal como Grimaldo, Ferro é vítima do mau trabalho defensivo do colectivo, mas no seu caso é parte do problema. Traz pouco ao jogo com bola e sem bola é constantemente batido. Luisão tinha em Liedson a sua kriptonite. Ferro tem o seu Liedson em cada adversário que lhe surge pela frente. Não pode jogar.
8.
Álex Grimaldo – O lateral espanhol é craque. Ofensivamente é sem dúvida o melhor lateral a actuar em Portugal e possivelmente um dos melhores jogadores de todo o campeonato.
Durante a primeira metade da época vimos um Grimaldo ainda mais forte que o dos anos anteriores. Talvez pela carência criativa da equipa, vimos o espanhol constantemente participar no jogo interior, surgindo ele como o jogador a preencher o terreno entre o meio-campo e o ataque, criando assim tabelas, desequilíbrios e ocasiões de finalização tanto para si como para os seus colegas.
O lateral 10. Um lateral que ataque tanto claro que terá menos presença defensiva e até menos disponibilidade física para defender. Isso nunca foi problema porque o colectivo serve para isso, serva para criar compensações que permitam explorar o melhor dos jogadores.
Grimaldo tem sido uma vítima do fraco trabalho defensivo do colectivo do SL Benfica. Não só fica mais exposto como cada vez mais se vê obrigado a jogar com maior cautela perdendo assim a sua influência ofensiva. Além disso, criou-se a ideia de que o lateral precisava de um parceiro, alguém posicionado na esquerda a pisar os mesmos terrenos que ele.
Cervi, aguerrido como é, surgiu como o apoio defensivo do Grimaldo e essa aposta na garra defensiva do extremo trouxeram três perdas à equipa: Franco Cervi perdeu a sua acutilância ofensiva, Grimaldo joga cada vez mais condicionado no espaço e o colectivo perde dois jogadores de ataque e convida o lateral adversário a subir sem preocupações. A cautela defensiva tem exposto ainda mais a nossa lateral às investidas dos adversários."
Contradições atrás de contradições. Então o Lage perdeu as competências por obra de quem? E o Taraabt explodiu por obra de quem? É o chiquinho?
ResponderEliminarTalvez concorde com a má gestão da substituição do Tomás Tavares, mas dizer que os jovens estagnaram é não querer ver o crescimento da equipa. É preciso considerar que neste mês de Fevereiro jogámos de 3 em 3 dias. Foi uma decepção é verdade, mas andamos desde inicio da época a jogar contra 14.
CARREGA BENFICA TRINTA E OITO!
NENÉ
ResponderEliminarEm relação a Grimaldo, não será antes o oposto? Como se defende um defesa que não sabe nem quer defender?
Sinceramente é mais isto
"Grimaldo tem sido uma vítima do fraco trabalho defensivo do colectivo do SL Benfica. Não só (o colectivo) fica mais exposto como cada vez mais se vê obrigado a jogar com maior cautela perdendo assim a sua influência ofensiva. Além disso, criou-se a ideia de que a equipa precisava de um parceiro para o o lateral, alguém posicionado na esquerda a pisar os mesmos terrenos que ele."