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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Como se experencia a experiência?

"Estranho jogo este, no qual parece postular-se que a experiência se ganha não experimentando. O futebol é talvez a única actividade assim. O que falta a este jogador? Experiência. E o que se faz então? Espera por uma oportunidade, não experiência. Treina. Ou joga, mas pouco. Mas depois também se diz que é nos jogos e não nos treinos que se adquire maturidade. Valham-nos as equipas B e os sub-23, sim senhor, mas é terreno curto quando o talento é amplo. Os melhores não têm idade e antecipam a maturidade. Só não dispensam a coragem de quem os lance.
Há muito anos - que há coisas de que só os do século passado se lembram bem - o Benfica lançou cedo Chalana e aproveitou-o em pleno durante umas oito épocas até o trocar por um mealheiro gordo de Bordéus. Já o Sporting hesitou com Futre, admitiu cedê-lo por empréstimo à Académica - a ele, Futre, que é, como Chalana, um dos 5 melhores portugueses que vi jogar - e acabou por perdê-lo para o Porto. Perdeu o jogador e a transferência, a maior até então do futebol português, para o Atlético de Madrid. A história dá lições e deveria ensinar-nos que os maiores talentos não são como secretárias de recepcionista: ficam mal na sala de espera. Bernardo Silva valeu 15 milhões ao Benfica, num alegado bom negócio - diziam muitos ao tempo - porque não jogava. Foi duplo mau negócio, porque deveria ter jogado mais pelas águias e teria rendido muito mais dinheiro. Ponto comum: o talento que se espera que cresça quando já está maturado, ou então que ganhe músculo, na ilusão tonta de que se pode desenvolver no ginásio a concretização do talento que só o jogo autoriza. Não separe a máquina o que deus uniu.
Até porque alguns já trazem de origem tudo o que é necessário, como Trincão. Deixá-lo crescer? Não, deixá-lo é jogar. Reconhecer que o despedimento de Sá Pinto foi extemporâneo e mal explicado – e foi! - não impede que se pergunte como não houve mais cedo espaço para Trincão. Está ali um dos melhores da grande colheita portuguesa de 99, vintage seguramente, a mesma de Félix. E Félix é um bom exemplo de alguém que devia ter estado menos tempo na sala de espera.
No mesmo ano, 1999, nasceu no exótico Burkina Faso aquele que já é -demonstrou-o exuberantemente diante do Benfica - um dos melhores centrais do campeonato português, e dos melhores três ou quatro, não de um grupo anónimo de dez ou quinze. Tapsoba vai jogar em breve num grande da Europa, seja por cá ou noutro país. A maturidade precoce está lá toda, num pacote completo que inclui personalidade, qualidade técnica, velocidade, sabedoria na utilização do físico. O Vitória de Guimarães tem ouro. Ele e Marcus Edwards só não atingem o topo se não quiserem. Eles e quem os escolhe. E querem outra previsão de ano novo? Fábio Silva. Não engana. Está aí, pronto a explodir no Porto, o melhor ponta de lança português dos próximos anos, acima do bom nível de André Silva ou Gonçalo Paciência. E é mais que um ponta de lança, que Fábio sabe também associar-se e servir. Estou mesmo convencido de que já o melhor de todos os homens de área que treinam no Olival. Só falta prová-lo. E para isso só falta jogar mais vezes.

Nota colectiva – Nápoles É o exemplo de um clube sem estratégia, que está em perda sem entender porquê. Aurelio de Laurentis é o exemplo de presidente - como há alguns em Portugal – que por andar nisto há uns anos pensa saber mais que os treinadores e acredita poder impor-lhes regras absurdas no futebol. Não percebeu que foi Maurizio Sarri, na sua imensa competência técnica, a causa principal do crescimento da equipa que mais mordeu os calcanhares da Juventus em anos recentes. A opção seguinte foi pela experiência de Ancelotti e agora pela agressividade de Gattuso. Tinha tudo para dar mal, e está a dar. No futebol, ser competente vale sempre mais que ser experiente ou agressivo.

Nota individual– Romelu Lukaku No latifúndio, ele reina. Se há espaço, desbrava-o como ninguém. Conte, que o conhece bem, não hesitou em fazer crescer o novo Inter em redor do mais potente ponta de lança deste tempo. Com Lautaro Martínez faz uma daquelas duplas que os italianos adoram, de gigante e esquivo, como Skhuravy e Aguilera há um par de décadas num Génova memorável. E no país das marcações ao homem, está como peixe na água. Se cada um marca o seu, é só passar o dele, que o relvado se abre a seguir como as águas do mar Vermelho na história bíblica. E esta história acaba muitas vezes no fundo da baliza contrária."

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