"Há uns anos, em Manchester, onde estava para a cobertura de um jogo do United, deparei-me com uma fila imensa, que dava a volta a Old Trafford, onde milhares de adeptos dos red devils aguardavam pacientemente pela oportunidade de se inscreverem na lista de espera para acesso a lugares de época no mítico estádio. Aquela realidade, que traduzia um misto de fidelidade dos supporters e de estabilidade do clube, começa a haver um mínimo garantido de presenças nos estádios muito significativo e o facto do Benfica ter ontem encerrado a venda de red passes, depois de ter fixado um novo recorde em 45 mil unidades entregues aos sócios, não pode passar sem a merecida referência. Nestes dias em que a principal receita dos clubes vem da televisão, o espectáculo ao vivo, conservando a essência popular, é um bem a preservar. Os preços para o futebol não podem ser elitistas, sob pena de vermos replicados noutras latitudes os males da recente Copa América, que só teve nas bancadas quem podia pagar os preços estratosféricos, para a realidade brasileira, dos bilhetes.
Não são tão fundamentalista, como outras pessoas que muito prezo, quanto ao perigo de uma superliga europeia de clubes, algo que, com mais este ou aquele acerto na forma, será inevitável. No entanto, quando confrontado com a possibilidade do futebol ao vivo passar a ser só para os ricos, já me assusto e tempo pelo futuro. Desmond Morris dizia que os estádios deviam ser desconfortáveis, para os adeptos manifestarem, na provação, a sua fidelidade. Não irei tão longe. Mas compreendo. O povo é a alma do futebol."
José Manuel Delgado, in A Bola
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