"Na semana passada, os portugueses mais ligados ao desporto, e em especial ao futebol, voltaram a ser sacudidos com nova investida da brutalidade cega. Num jogo que era (e foi) amigável, no específico contexto da preparação da temporada para ambas as equipas, a que os adeptos - já com saudades da competição a sério - comparecem tanto de um lado como do outro, para conferirem as suas certezas com as suas novas expectativas, eis que, de repente, sem qualquer razão para o justificar, alguém toma os mosquitos por cordas e faz despoletar uma violenta batalha generalizada em determinado sector da bancada, com as infelizes consequências que, escassos minutos depois, sobraram sobretudo para outra vítima inocente, desprevenida e muito infeliz.
A festa - designadamente a festa dos adeptos benfiquistas ali presentes em número significativamente superior ao dos antagonistas - não ficou definitivamente estragada, apesar dos perigos incidentais surpreendentemente detonados, porque a polícia e o sistema de segurança do estádio rapidamente souberam pôr cobro ao despropósito dos provocadores e defender os incautos adeptos que, sem mais cautelas, tinham acorrido ao chamamento dos seus clubes e ao fascínio pelo grande futebol. Nada, nunca, absolutamente nada e jamais pode gerar ou justificar uma bandeira daquelas. E se num qualquer jogo de campeonato já é intolerável que situações desta natureza se continuem a verificar tão frequentemente nas bancadas dos estádios portugueses, ainda é mais absolutamente inacreditável que a bestialidade tome as rédeas na boca dos irracionais que se dedicam a tais práticas quando se trata de um jogo sem intenção competitiva, podendo ser disputado com maior acento na performance e no sentido do mais puro futebol.
Daí que eu releve, por um lado, a correctíssima decisão tomada pelo árbitro Vítor Ferreira (AF Braga), ao suspender a partida por longos sete minutos, logo que - aos 39' quando o Benfica já se havia adiantado ao marcador - se apercebeu da gravidade da inesperada situação. E, por outro lado, que saliente a atitude claramente condenatória assumida por Bruno Lage, logo nas suas primeiras declarações após o final do jogo: o nosso treinador voltou a demonstrar que mantém uma ideia clara e justa sobre o que deve ser o espírito desportivo essencial a nortear o comportamento dos atletas, dos dirigentes e do próprio público do futebol.
Assim espero eu que a própria decisão adequada do árbitro tenha correspondido não apenas a um desígnio pessoal do juiz naquela triste circunstância, mas um ditame do Conselho de Arbitragem e das entidades que tutelam a disciplina no futebol que, de futuro, passem a ser menos complacentes com circunstâncias como as que tristemente se viveram na tarde de Coimbra."
José Nuno Martins, in O Benfica
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