"Há muito tempo que não falava de futebol tão abertamente com um treinador. Há muito tempo que não encontrava um treinador de futebol que se dispusesse, tão francamente, a abordar os temas mais sensíveis sobre a sua equipa, os seus jogadores, a natureza subjectiva e solitária da decisão. Sem esconderijos, sem complexos, sem preconceitos. Falar do futebol real. Da natureza do pensamento sobre uma estratégia, da complexidade da análise de um adversário, da dúvida existencial legítima do jogo antes do jogo, da premonição, da aposta, da consciência de ter feito o trabalho árduo e invisível que ninguém vê.
A esmagadora maioria do adepto de futebol não sabe, nem sonha o peso enorme que cai nos ombros de um treinador responsável e rigoroso. Conhece o resultado e tudo julga em função da bola que bate no poste e entra ou da bola que bate no poste e sai.
Quem não viveu por dentro um balneário de futebol não pode saber. Não é uma ciência exacta. É uma destreza na gestão de muitos factores que podem influenciar e decidir um jogo, que podem transformar onze jogadores numa grande equipa, equilibrada e organizada, ou num caos sem solução.
Ouvir Fernando Santos falar na Selecção, da equipa nacional, dos seus jogadores, escolhidos entre um lote de cinquenta elegíveis, de como estuda o adversário, de como pensa o equilíbrio e o controlo do jogo, antes dele acontecer, de como reage quando surge o inesperado, quando se dá conta de que as coisas não estão a correr como o previsto. Ouvir Fernando Santos desmistificar o mito. Ouvi-lo na paixão maior de explicar uma equação em movimento. Foi um privilégio!"
Vítor Serpa, in A Bola
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