"O desporto é mais necessário do que nunca. Os progressos da ciência e da técnica, o desenvolvimento da máquina, da divisão do trabalho, a concentração urbana e as condições de alojamento, o aumento dos tempos de lazer e a melhoria dos níveis de vida transformaram a existência dos indivíduos. A civilização tecnicista fez nascer nele a necessidade crescente de movimento, da necessidade de uma actividade física compensadora, de um jogo e fonte de descontração e de distracção.
Nesta perspectiva, o desporto surge como uma espécie de refúgio seguro, permitindo preservar a integridade física e moral do Homem, face a certas ameaças do mundo moderno. Ele é o antídoto da uniformização imposta pelas estruturas sociais actuais e a passividade nascida das novas formas de trabalho e de lazer.
O desporto tornou-se um dos temas principais da imprensa escrita, falada, e da televisão, e o espectáculo desportivo explica, em grande parte, o interesse que tem uma actividade como um fato social. O desenvolvimento das actividades desportivas não é desprezível.
A actividade desportiva não tem o mesmo significado para todos. Cada indivíduo carrega consigo o seu temperamento, as suas possibilidades, as suas exigências pessoais. Ele dá um conteúdo original ao desporto e isso traduz-se: nas intenções, pela vontade de ultrapassar os seus limites; e na intensidade, por uma preparação, uma participação nas lutas desportivas e um esforço que varia segundo cada um. Trata-se, bem entendido, de envolvimentos na disciplina escolhida e no desejo de progredir.
O bem-estar e os perigos não são idênticos para todos. O desporto de alto rendimento distingue-se do desporto de massas. Para a sua elite, e para aqueles que se esforçam por o ser, a actividade desportiva exige um compromisso de todo o ser, uma disciplina a cada momento. Ele ocupa os pensamentos e orienta a maior parte das acções. O desporto favoriza as qualidades naturais e permite a afirmação da personalidade, ele revela o seu próprio valor. Ele é factor de promoção, pelo que a sua essência é a procura da performance, do resultado, uma vontade de se ultrapassar levada ao extremo. Para as massas, esta vontade existe, mas ela não é atingida pela mesma permanência, porque o atleta “amador” é submetido a obrigações que preenchem o essencial da sua vida. Apenas consagra à sua prática desportiva de eleição uma parte, mais ou menos grande, do seu tempo de lazer. O desporto para si é, antes de mais, um jogo, uma distracção, cuja a qualidade excepcional é indissoluvelmente ligada ao seu carácter de luta e de competição, a que poderemos chamar de “princípio de predação”. A vitória para o praticante é efémera. A vida quotidiana deixa pouco espaço para as preocupações desportivas.
O desporto não é aceite por todos unanimemente. Existe uma separação entre a intenção e a prática. De forma lapidar, “fala-se muito, e pratica-se pouco”. Os portugueses que o digam. Se as precauções necessárias foram tomadas contra os excessos possíveis, o desporto pode contribuir para o progresso humano.
O desporto cria situações variadas, fazendo jogar alguns opostos. Ele reflecte uma realidade quotidiana e contraditória. Ele revela a oposição e os limites de cada um. Ele faz surgir com brilho, e com drama, os valores mais elementares, isto é, os mais profundos. Ele promove, a aqueles que não recusaram o esforço, o conhecimento de si mesmo e dos outros. Ele pode ajudar o homem e a mulher na luta se conhecerem e se compreenderem. Em suma, ele é um incontável elemento de cultura."
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