"Tinha terminado o treino dos Galácticos, o dia já tinha sido longo e o Detective Colombo estava a despedir-se do Director Geral (DG) Robert West, no parque de estacionamento, quando são interrompidos por uma senhorita – “desculpe Sr. West, está a acontecer algo inaceitável com o meu irmão Roger e necessito de falar consigo. Pode dar-me um minuto?”.
O DG Robert West conhecia a Senhorita Kia Earl, irmã mais velha do jogador da formação do F.C. os Galácticos – Roger Earl – que viviam uma situação difícil. A mãe tinha falecido no parto do Roger e o Pai 4 anos depois, num acidente de viação. Por isso, a Senhorita Kia, que aparentava vinte e poucos anos, era Mãe e Pai de Roger e o DG Robert West estava mais do que sensibilizado, para falar com ela, que raramente o abordava e se o estava a fazer, então era mesmo muito importante.
O caso de Roger era sensível e o DG Robert West estava consciente dele. Era um jovem de 16 anos com muito talento. Contudo, jogava num Clube de pequena dimensão, de uma pequena vila a 40 kms dos Galácticos. Como queria melhorar e ser um campeão, decidiu transferir-se para o Galácticos, no início da presente época. Todos os dias ia para a Escola, de manhã cedo, com duas mochilas, que carregava durante todo o dia. No final das aulas, corria para o comboio, pois se perdesse o das 18h30, não conseguia ir ao treino. Depois, ao chegar à cidade, necessitava de caminhar apressadamente, durante 15 minutos. No final do treino, tomava banho a correr, fazia o trajecto de volta e só chegava a casa depois da meia-noite, onde a irmã o esperava, com o jantar. Estas rotinas repetiam-se diariamente. Nenhum dos dois se queixava de nada. A irmã apoiava o Roger e o Roger “corria” atrás do seu sonho.
“O que aconteceu Senhorita Kia?” – perguntou o DG Robert West. O que incomodava a Senhorita Kia era tão importante, que começou a falar, mesmo com o Detective Colombo por perto que, por isso, acompanhou a conversa, como um atento observador.
“Sr. West sabe o quanto o meu irmão deseja muito pertencer ao F.C. os Galácticos, quer ser aceite, integrado e contribuir para o sucesso da equipa e do Clube, com o que tem de melhor. Faz todos os sacrifícios e não se queixa. Contudo, nos últimos tempos anda deprimido. Comecei a ficar preocupada. Pensei que estivesse a comer mal, desgastado dos sacrifícios diários, mas não era nem é nada disso que o está a afectar” – começou por dizer a Senhorita Kia. Nesta altura, o DG Robert West estava a começar a ficar preocupado e disse – “esteja à vontade, estamos aqui para ajudar. O que se passa Senhorita Kia?”.
Depois de olhar para o chão, como que envergonhada e respirar profundamente, parecia estar a ganhar coragem, a Senhorita Kia disse – “depois de muita insistência, o meu irmão acabou por me contar o que o está a afectar. Quando chegou ao Clube, alguns colegas começaram a fazer-lhe alguns pedidos, como levar as bolas e os coletes para o treino. Acedia a esses pedidos para ser aceite e por ser o único novo jogador, na equipa. Porém e à medida que o tempo ia passando, estes pedidos passaram a despropositados e repetiram-se.”
“Quando a equipa viaja, independentemente do lugar em que se sente, é sempre obrigado a mudar de lugar, por causa de alguns “colegas” de equipa. No balneário, tem de esperar que esse grupo tome banho, pois não o deixam tomar banho, assim que chega ao balneário. Frequentemente tem a roupa molhada ou com nós, quando se vai vestir. Sofre ameaças, para não dizer nada ao Treinador e, agora, esperam-no no trajecto do comboio para o treino, para o intimidarem, ao ponto do Roger ter de mudar o trajecto, para o treino, para não se cruzar com eles” - começou por dizer a Senhorita Kia, que quase sem respirar, continuou – “esta situação é intolerável, inaceitável, inadmissível e tem que parar imediatamente, mas não sei o que fazer, necessito da sua ajuda”.
A Senhorita Kia tinha toda a atenção do DG Robert West, este todo o interesse em a ajudar e disse – “Senhorita Kia deixe-me louvar a sua coragem para nos abordar com um assunto tão sensível quanto desconfortável, agradecer-lhe a partilha, garantir-lhe que iremos tratar do assunto e que terá notícias minhas, antes do fim-de-semana”.
A Senhorita Kia estava mais aliviada, mas continuava preocupada com a situação e queria que fosse mesmo resolvida, para rapidamente voltar a ver o irmão a perseguir o seu “sonho” com entusiasmo.
Feitas as despedidas, a preocupação do DG Robert West e a vontade de resolver o assunto da melhor maneira, levou-o a abordar o Detective Colombo – “o que lhe parece tudo isto e que conselho me pode dar, para lidar da melhor forma, com esta situação?”
Enquanto pensava que esta situação era “filha” de outros culpados, já identificados, de estarem a “matar” a mudança no clube, nomeadamente das relações estereotipadas e da forma de lidar quer com as diferenças, quer com a frustração, o Detective Colombo começou por dizer - “Todos necessitamos de ser aceites, mantendo a nossa individualidade. Contudo, estas formas que utilizámos para sermos aceites, não só não produzem esse resultado, como criamos outros problemas, mas esta situação, para além de um desafio, poderá ser uma enorme oportunidade”. “Como assim?” – respondeu o DG Robert West.
“Repare” – começou por dizer o Detective Colombo – “em todas as equipas há pessoas com atributos, que lhes dão uma ascendência sobre os outros e, infelizmente, existem pessoas que os utilizam para reivindicar o controlo sobre as opções dos outros. Algumas pessoas ignoram-nos, reagem passivamente, vitimizam-se ou obedecem-lhes para serem aceites e por isso, mudam o que são, prescindindo da sua individualidade. Contudo e paradoxalmente, não só são rejeitados, como algumas vezes acabam por ser humilhados. Outras pessoas desafiam, afrontam, são agressivos, abusam, hostilizam e comportam-se como uns valentões, para serem igualmente aceites e manterem a sua individualidade, querem controlar as opções dos outros, mas ironicamente não conseguem controlar as suas e acabam por ser “escravos” dos seus impulsos, perdendo quer a sua individualidade e quer a aceitação por todos. Ambos acabam por nem conseguirem o que desejavam, por perderem a honra e a dignidade e em casos extremos, em que uma parte revele apatia, as consequências podem ser dramáticas”.
“Detective Colombo está a dizer-me que quer o Roger, quer o grupo de rapazes que fazem estes pedidos despropositados e abusivos estão a lidar com uma dificuldade? Não é só o Roger a vítima?” – perguntou o DG Robert West.
“Vamos por partes” – começou por dizer o Detective Colombo e continuou – “DG West acredita que abusar das outras pessoas ou obedecer a pedidos abusivos é o melhor para todos, ao longo do tempo?”. “Não, de maneira nenhuma” – respondeu o DG Robert West.
“Como se sente quando alguém ou alguma coisa o magoa, como por exemplo, quando alguém o aborda num tom de voz é agressivo, quando atacam a sua autoestima e importância ou quando afrontam a sua posição ou pontos de vista?” – perguntou o Detective Colombo. “Sinto-me irritado” – respondeu o DG Robert West, enquanto o Detective Colombo lhe faz outra pergunta – “o que lhe apetece fazer nestas situações e o que outras pessoas que conhece fazem nestas circunstâncias?”. “Confesso que tenho a tendência para reagir agressivamente, mas conheço algumas pessoas que reagem passivamente” – disse o DG Robert West.
“Pois bem, quando alguma pessoa ou situação externa nos magoa a irritação é activada, as pessoas interpretam-na como explosiva, confundem-na com fúria e confundem a fúria com agressão, consequentemente o nosso impulso de retaliar é activado. Algumas pessoas gerem este impulso explodindo, nas suas palavras reagem agressivamente, enquanto outros o gerem-no implodindo ou passivamente. Repare DG West em ambos os casos alguém ou alguma coisa magoou as pessoas e as pessoas são como que empurradas para fazer alguma coisa. Umas pessoas acreditam que se magoarem os outros eles vão perceber o quanto os magoaram, vão ajustar contas, é o olho-por-olho e o dente-por-dente e, se isto prevalecesse, então estaríamos todos cegos e desdentados. Outras pessoas acreditam que se magoarem a elas próprias os outros vão perceber que as magoaram. As pessoas só querem que as outras não as ataquem, afrontem, abusem ou magoem e, se o fizerem, que parem e não voltem a fazê-lo. A questão não está no que desejam, mas na forma como o tentam conseguir” – contextualizou o Detective Colombo.
“Detective Colombo está a dizer-me que as vítimas, no caso o Roger, e os valentões, nesta situação o grupo de rapazes que está a abusar do Roger, são duas faces da mesma moeda, que são mais parecidos do que nos apercebemos, por ambos terem sido magoados, uns serem vitimas dos outros e os outros serem vítimas dos seus próprios impulsos e por ainda ambos não terem a capacidade para lidar com honra e dignidade, com o que os magoou. Contudo, são diferentes na forma como lidam com essa situação, os primeiros implodem, criando problemas a si próprios e os segundos explodem, criando problemas aos outros e, eventualmente, a si mesmos?” – perguntou o DG Robert West, enquanto “dispara” uma nova questão – “mas o que é que fez o Roger para magoar os outros rapazes?”.
“Algumas vezes, há pessoas que são magoadas por figuras que representam a autoridade, como pais, professores, treinadores, dirigentes ou gestores, não sabem responder a essas situações com honra e dignidade e acabam por fazer aos outros aquilo que essas pessoas lhes fizeram a eles. Há situações em que as outras pessoas apenas fizeram algo que em algum momento das suas vidas lhes foi negado e passou a ser considerado inadmissível para elas. Outras vezes, as pessoas confundem os sentimentos com a forma como os expressam, como que se o que sentem de desconfortável justificasse as reacções agressivas” – tentou clarificar o Detective Colombo.
“Ok, já percebi porque há pessoas que são fortes com os fracos e fracos com os fortes e porque “fortes” e “fracos” passam ambos pela mesma dificuldade: conter o impulso de retaliar e redirigir quer a irritação, quer a frustração para algo construtivo, útil, razoável, aceite socialmente e sensato moralmente” – começou por dizer o DG Robert West e continuou – “necessitamos de (1) parar de imediato com os abusos, pois os ataques, as afrontas e os abusos repetidos são inaceitáveis; (2) melhorar a capacidade dos nossos jogadores, treinadores, dirigentes, colaboradores, pais e adeptos fazerem pedidos aceitáveis evitando-se ataques, afrontas e abusos, de conterem o impulso de retaliar e responderem com honra e dignidade, quando surgirem pedidos despropositados e abusivos ou algo que os magoe, e de emendarem as situações despropositadas que criem, se não queremos comprometer a melhoria e a mudança no Clube.”
O tempo tinha passado a voar, já era muito tarde, mas o Detective Colombo e do DG Robert West sentiam que tinha surgido um problema, que o estavam a começar a resolver, que haviam identificado mais um responsável por “matar” a mudança – lidar com os ataques, afrontas e abusos, com o que nos magoa – e já tinham imaginado um plano estratégico – formação - para abordar construtivamente a situação.
A caminho de casa, o DG Robert West recordava inúmeras situações idênticas à do Roger e dos “colegas”, que tinha presenciado, quando estudava, nas empresas em que trabalhou, nas relações treinador – jogador e de parte dos adeptos com a própria equipa. Começou a pensar como tudo poderia ter sido diferente, para melhor, se todos conhecessem o que ele tinha aprendido, compreendessem a situação e implementassem programas de formação, para as pessoas terem capacidades evitar estes momentos e lidar com honra e dignidade, quando surgissem. Chegou a casa e de imediato, mesmo sendo tarde, telefonou ao Presidente Angie, para partilhar o que tinha acontecido e aprendido e para o informar que tencionava implementar o programa de formação para jogadores, treinadores, colaboradores, dirigentes, pais e adeptos. Depois, colocou na lista dos seus próximos passos: (a) parar imediatamente com a situação do Roger e “companhia”; (b) falar com a irmã do Roger, até 6ª feira; (c) planear as formações."
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