"Os campeonatos profissionais regressaram e com eles regressou também a emoção e alegria de quem realmente gosta de futebol. Benfica, Porto e Sporting tiveram sortes diferentes. Os encarnados foram derrotados pelo Belenenses, no Jamor, enquanto que os seus dois rivais venceram as respectivas partidas, no Dragão e em Alvalade.
A existência da tecnologia veio trazer maior justiça às decisões das equipas de arbitragem (sempre limitadas ao olho nú, num contexto de análise dificílimo) mas aumentou também, sobre aquelas, a exigência para o acerto: a expectativa é que determinado tipo de erros deixem de acontecer, porque agora há meios e condições adequadas que os podem impedir.
Belenenses-Benfica
O encontro, disputado no Estádio Nacional, teve alguns momentos de análise interessante. Repescamos para esta crónica os mais determinantes:
- Salvio foi derrubado, na área adversária, por Reinildo. O toque, na parte de trás da perna, foi subtil e passou inicialmente despercebido à equipa de arbitragem. O VAR estava atento e cumpriu, bem, a sua missão;
- Licá foi rasteirado por Odysseas, na área do Benfica. O guarda redes encarnado perdeu o tempo de entrada à bola e acabou por derrubar, com o corpo, as pernas do avançado. Pontapé de penálti indiscutível. Amarelo bem exibido ao guardião encarnado;
- Na fase de construção atacante que culminiria com o golo de Keita, segundo do Belenenses, ficámos com a sensação que Lucca fizera falta sobre Pizzi. A infracção ocorreu ainda na zona intermédia do terreno: Eduardo conduzia a bola e o jogador do Benfica procurava chegar ao lance. Foi depois obstruído pelo corpo do jogador azul, que - de forma ostensiva e com o único objectivo de impedir a sua progressão - colidiu com o médio encarnado. O lance não foi de percepção fácil no relvado e pode ter criado, ao VAR, a ilusão de se tratar de uma "carga legal", mas para que isso acontecesse a bola teria que estar a uma distância jogável (e, naquele momento, estava a ser conduzida pelo colega de equipa de Lucca).
FC Porto-Feirense
A partida do estádio do Dragão teve um número anormal de lances que acabaram com a bola no fundo das redes, mas que foram anulados por razões diversas.
Aconteceu logo nos minutos iniciais (Marega introduziu a bola na baliza de Caio, mas o jogo estava já interrompido por falta do franco-maliano sobre um defensor, que para nós foi pouco perceptível) e, mais tarde, em várias ocasiões:
- Danilo ainda viu o golo erradamente validado pelo árbitro assistente, mas o médio estava claramente fora de jogo (valeu a atenção do VAR);
- Soares viu a jogada ser bem anulada por fora de jogo (a bola também acabaria por entrar na baliza do Feirense);
- Por último, Sturgeon viu o seu golo ser bem anulado por estar adiantado no momento do passe do seu companheiro de equipa.
O jogo teria, no entanto, outros dois lances determinantes: o golo mal validado a Filipe (o central brasileiro estava ligeiramente adiantado face a Tiago Mesquita, último defesa e beneficiou de um erro grave do VAR e árbitro, que decidiram anular uma boa decisão do assistente) e um lance, na área azul e branca, entre Alex Telles e Luis Machado (este menos claro): o lateral do FC Porto tentou desviar a bola mas acabou apenas por tocar na parte de trás da perna do médio fogaceiro, derrubando-o. A jogada devia ter sido penalizada com pontapé de penálti.
Erros graves que beliscaram, sobremaneira, a prestação da equipa de arbitragem.
Sporting-Boavista
Um jogo com menos situações complicadas, embora tenha tido dois momentos menos felizes, que analisaremos mais à frente.
Destaque apenas para a legalidade do primeiro golo do Sporting: houve a dúvida inicial se Montero - que viria a fazer a assistência para Nani - estaria ou não em posição ilegal. A verdade é que o avançado colombiano do Sporting estava em linha quando foi servido pelo colega de equipa. Lance legal, bem analisado pela equipa de arbitragem.
O Big Brother e Keita, Nani e Mateus
O destaque desta crónica vai para estes três profissionais e como sugestão bem intencionada para que, em determinados momentos de jogo - sobretudo os de maior intensidade e de menor lucidez - tentem ter maior controlo e inteligência emocional.
Obviamente que a mensagem serve para eles e para todos os profissionais de futebol.
Hoje, todos os jogos são escrutinados ao pormenor, até ao mais infímo detalhe. Isso é verdade não apenas para a análise minuciosa das decisões dos árbitros, como também para as atitudes e comportamentos que todos os jogadores têm, a todo o momento, em qualquer parte do terreno de jogo.
Há dezenas de câmaras que filmam tudo, ao vivo e em directo e que depois as repetem e difundem até à exaustão. Há milhões de olhos que testemunham cada lance, cada jogada, cada frame... e formam opinião imediata. Sem filtros. Sem censuras.
No jogo do Restelo, Keita atingiu Rúben Dias com o braço/cotovelo no pescoço. Foi uma atitude igual a tantas outras que já vimos acontecer esta época. Não o fez com a maldade de quem quer bater e magoar, mas fê-lo de forma deliberada, porque perdeu, por segundos, o controlo das suas emoções.
Em Alvalade, Nani foi inicialmente obstruído por David Simão - que usou e bem o corpo para o marcar - e reagiu de forma impensada, atingindo a cara do jogador boavisteiro com o seu braço direito.
Mais tarde, foi a vez de Mateus ter um "momento mau" e pontapear Acuña, quando este protegia a posse de bola, que saía pela linha lateral.
Se me perguntarem se algum destes jogadores foi malicioso ao ponto de querer agredir e magoar o seu adversário directo, diria honestamente que não. O que é certo é que, em termos legais, as três atitudes dificilmente caberiam no mero comportamento antidesportivo.
Dar com um braço na cara de um adversário ou pontapeá-lo na perna, sem que a boa estivesse jogável e sem que nada o justificasse... é infracção punível com expulsão. Nestes casos, ela não aconteceu mas não seria descabido se assim fosse.
Convém que os atletas tenham agora em mente que nada escapa ao "Big Brother" em que se transformou o futebol profissional dos tempos modernos. Tudo se vê. Tudo se analise e interpreta. E todos vêem. Até os mais pequenos, que têm em muitos daqueles craques as suas grandes referências, os seus maiores ídolos.
Há gestos e atitudes que se devem evitar, mesmo que o calor do momento quase o justifique.
Isso treina-se, trabalha-se. Convém que os clubes invistam um pouco mais nisso, sob pena de ficarem privados de alguns dos seus atletas, com prejuízo óbvio para todos."
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