"As suspeições são o ‘pão nosso de cada dia’! Não há dia em que a imprensa não identifique um caso merecedor de atenção do Ministério Público, quantas vezes incorporando na notícia buscas já efectuadas pela PJ ou pelo DIAP
As provas da veracidade das suspeitas logo hão de aparecer – e até lá dão-se as notícias e escrevem-se muitos artigos (mas muito poucos com tino). Alguns dizem que estamos num país de cunhas e amiguismo – e a profusão de casos até lhes dá razão, nesta generalização que fica colada às características de um povo.
As redes sociais adoram estas situações. Com ligeireza se julgam pessoas, dependendo da cor política ou desportiva, escrevendo-se verdades absolutas, quantas vezes a coberto do anonimato, sem regras ou filtros. A imprensa alimenta-se, o público consome e absorve a suspeita como dado confirmado, os visados encolhem-se – acreditando os inocentes que o tempo os ilibará. Mas como o desmentido nunca tem a força da notícia, o anátema de suspeita fica como rótulo. Assim vivemos, assim rezamos para que não nos toque a nós.
Esta semana teve casos em barda e muito mediáticos. O tempo dirá se a sua gravidade corresponde ao mediatismo, exponenciado por envolver personagens afectas a clubes – ao que leio, em temas da sua vida privada. Sobre o conteúdo destes casos pouco se sabe e por isso nem me atrevo a pronunciar. Mas há outros que, pelo seu ridículo, pela dimensão inusitada e injusta que tomam, merecem profunda reflexão sobre a ligeireza com que se colam anátemas a pessoas.
Ousar por momentos pensar que Mário Centeno se influencia por dois bilhetes para a bola (que poderia evitar ter pedido) ou suspeitar que Nuno Artur Silva (não reconduzido na RTP) não soube separar águas entre ser administrador e dono das Produções Fictícias, são autênticos insultos à inteligência colectiva. Mas a verdade é que se repetem as notícias até à náusea e colam-se imagens que, para além de certamente injustas, são sobretudo ofensivas.
Discordo de muitas políticas económicas de Centeno mas, não o conhecendo, respeito-o porque merece o nosso respeito. Acho hedionda qualquer colagem de ‘corrupção’ que lhe façam, porque disso se trata. Sobre Nuno Artur Silva (que nem sequer conheço) é imperativo referir que a CGI da RTP lhe reconhece um comportamento exemplar como administrador – mas, porque não conseguiu vender a empresa da qual era sócio (que objectivamente definhou com a sua ausência), considera que deixou de reunir condições para continuar. Isto é perfeitamente insultuoso, sobretudo para ele mas também para todos os que pagam taxas – dado que a avaliação profissional objectiva é subjugada pelas aparências.
A mesquinhez é característica do nosso povo, tal como a inveja. Aqueles que têm sucesso, sobretudo financeiro, são olhados de soslaio, quantas vezes tolerados nos meios mais pequenos. Assim, não há que surpreender que tantos se afastem para outras paragens, optando por sair deste canto onde se adora saber quanto os outros ganham de ordenado (até com parangonas de jornais, sem qualquer espécie de pudor) ou se preocupam com dividendos sem se questionarem quantos empregos são gerados por estes investidores.
Ir para a política servir a causa pública, ou ir para gestor de empresas públicas, tem de ser muito mais que vocação – tem de ser paixão, porque apenas assim se compreende a loucura desta opção nos tempos que correm!
P.S. 1 – No meio desta loucura colectiva, aparecem notícias bem interessantes – como o controlo que a Islândia está a fazer do consumo de drogas e álcool entre os adolescentes. Depois de ter assumido ser um problema nacional, dado que os seus jovens há cerca de 20 anos eram dos que mais bebiam e consumiam, desenharam-se programas de ocupação da juventude, desde aumentar o período das aulas até desenvolver programas de ocupação cultural e desportiva. Assim, as estatísticas mostram que, dos 42% de jovens entre 15 e 16 anos que se embriagavam em 1998, se desceu para 5% em 2016. Os que experimentaram cannabis passaram de 17% para 7%, e os que fumam de 23% para 3%. Para além de se melhorar a saúde das gerações futuras e reduzir gastos, talvez agora se perceba melhor porque a Islândia se qualificou para disputar o Mundial da Rússia este ano.
P.S. 2 – Fico com uma visão menos optimista quando leio que a banca tem 25 mil milhões de euros de crédito ao consumo, o maior volume desde 2013, com crescimentos mensais médios de 82 milhões face a 2016. Se a isto juntarmos o aumento da exposição da banca ao crédito à habitação (98 mil milhões), aproveitando igualmente esta onda de crescimento da economia, começo mesmo a ficar preocupado. Mas a verdade é que rareiam os grandes projectos de investimento, sobretudo reprodutivos, as taxas de juros são baixas e a banca tem de procurar sobreviver no imediato. Compreende-se, assim, a preocupação do BCE com a banca nacional e a supervisão reforçada (e muito bem) sobre políticas de ‘governance’. Mas onde é que já vi este filme?"
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