"Não vou falar de «labregos» o afins (ou talvez sim...), vou falar da perplexidade que foi apanhar o secretário de Estado do Desporto (que amiúde parece só existir atrás de um microfone) a dizer que não há «clima de guerra no futebol português» - e ao ouvi-lo, lembrei-me do que sucedeu em 1943, no jogo com o Sporting que fez do Benfica campeão. Apesar de para fora de campo só ter ido o Azevedo, magoado pela bola que saiu em bala do pé do Teixeira - desse jogo soltou-se, inédita e apudorada, a «ordem superior» (que era como se tratava o que no governo de Salazar se decidia) que determinou:
- ... por se terem verificado infracções às regras da boa educação, tais como: golpes intencionais de violência; demoras escusadas no jogo; assomos de protestos; falta de compostura nas saudações; tirar a bola do sítio da marcação das faltas e mandar a bola intencionalmente para fora - com a agravante desses actos serem praticados na presença do sr. Ministro da Educação Nacional, são o Benfica e o Sporting multados em 2000 escudos, cada qual.
Dois contos não ganhavam, então, de ordenados mensais, os seus melhores jogadores - e a ideia era impor «de vez» o respeitinho («que era muito bonito»). Tinha-se «sorte» porque, em Espanha, o Salazar de lá, lançou mais rude o «ataque às incidências do futebol», ordenando que «perturbadores da ordem pública» (por «palavras ou actos», nas bancadas e não só...) fossem internados em campos de concentração:
- ... onde, em ambiente de disciplina e trabalho, terão tempo e oportunidade de meditar sobre o respeito que se deve guardar aos outros e sobre a forma de não dar rédea solta aos seus mais instintos.
Sim, eu sei: são outros os tempos e terão de ser outras as atitudes. E, não sendo preciso o campo de concentração - começa a ser preciso ao futebol de cá mais do que um SED a lavar-se como Pilatos, acantonado no lado mau da frase do Nélson Rodrigues que diz que no futebol o pior cego é o que só vê a bola..."
António Simões, in A Bola
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