"As designações de hard skills ou soft skills encontram-se fortemente dissiminadas na área empresarial e referem-se, em traços gerais, a: conhecimentos específícos, referentes a uma dada área profissional/técnica (ex: programação, finanças, engenharia, psicologia - frequentemente associados à área de especialização de cada pessoa), e competências ou atributos da nossa personalidade, como sejam, inteligência emocional, comunicação, cooperação, entre outros.
Fazendo um paralelismo com a área do desporto, estaríamos a falar, por exemplo, num dado nível de especialização de um treinador, no que respeita às áreas técnico-tácticas (hard skills) ou, a sua capacidade em dinamizar o grupo, fazê-lo evoluir, mantê-lo comprometido com o objetivo da equipa, através de competências específicas de comunicação e liderança (soft skills).
Curiosamente, alguns autores defendem que esta designação se encontra "trocada", na medida que que estas soft skills são, claramente, as mais dífíceis de desenvolver.
De facto, apesar de existir um enormíssimo número de estudos (nomeadamente, longitudinais, ou seja, que acompanharam os sujeitos do estudo desde o ano em que saíram da faculdade até 10 anos depois) que defendem que as ditas soft skills (que, para facilitar a sua compreensão, passaremos a designar, de uma forma mais abrangente, como Inteligência Emocional - ou seja, a minha capacidade em lidar comigo próprio(a), com o outro e com o mundo, de forma eficaz) estão sobejamente associadas ao sucesso que alcançamos (ou não) ao longo da nossa vida, em detrimento das competências "técnicas"...
Onde as podemos aprender?
Já em 1918, quando foi realizado o primeiro grande estudo nesta área (dados da National Soft Skills Foundation, EUA), foi identificado que as competênciais associadas à inteligência emocional, seriam responsáveis por 85% do sucesso alcançado e, quase 100 anos depois, num estudo realizado em 2010, foi identificado que as empresas investiam apenas 27,6% do seu plafond anual de formação, no desenvolvimento deste tipo de competências (dados referentes a empresas de cultura anglo-saxónicas onde, ainda assim, se observa uma maior tendência para apostar neste tipo de formação).
Por cá a realidade não é muito diferente.
Comummente, qualquer que seja a palestra que se assista sobre liderança (por exemplo), quando se questionam os especialistas sobre os fatores críticos de sucesso, muito antes de se verem referidas competências técnicas, encontram-se quase sempre destacadas competências como motivação, paixão, espírito de missão, autenticidade, capacidade de sacrifício, superação, determinação, paixão e, se calhar por isto mesmo, não será tão pouco usual assim assistirmos a processos de liderança atuados por pessoas que, dominando muito pouco o conhecimento científico da área em que operam, possuem um conhecimento exímio em mobilização e compromisso de pessoas.
No contexto de alta competição, por exemplo, recorrentemente se fala da determinação, capacidade de trabalho e superação de um dado atleta com muito mais frequência do que da sua "perícia" - aliás, a um dado nível de excelência, é sem dúvida a sua capacidade de auto-regulação emocional que vai determinar "aquele 1%" a mais na performance que irá determinar a vitória/o sucesso.
Rafael Nadal, Djokovic, Phelps, Simone Biles, Iniesta, entre tantos outros deram igualmente o seu testemunho acerca da importância das competências emocionais para o seu desempenho.
Mesmo no contexto académico, temos inúmeras provas de que o fenómeno é idêntico - alias, a Universidade do Minho realizou um estudo acerca da performance dos nossos alunos, no que respeita à performance nos exames em matemática (supostamente, havia uma preocupação com o facto de estarmos "na cauda" na Europa) e concluiu que, afinal, não somos menos "aptos" (ou seja menos inteligentes) mas sim mais ansiosos (logo, com menor inteligência emocional).
Então, uma vez mais, onde as podemos aprender?
Se são, efetivamente, assim tão determinantes para o sucesso (pessoal, profissional), qual poderá (ou deverá) ser o papel das Escolas? Dos Clubes? Das Empresas?
Será uma questão de "terminologia"? E, se em vez de as designarmos de soft skills, usássemos o termo de critical skills, como alguns autores sugerem?
É porque toda a informação aponta nesse sentido:
são efetivamente críticas para alcançarmos sucesso e níveis superiores de felicidade e bem-estar!
Atuaríamos de forma diferente? Levaríamos este tema mais a sério? Para quando, a mudança de paradigma?
E, já agora, enquanto esperamos que as instituições assumam o seu papel (ou o papel possível) no reconhecimento de que é urgente e relevante integrar esta área de conhecimento e treino, naquele que é o seu âmbito de intervenção, o que podemos fazer?
É que, o reconhecimento da importância em desenvolver este tipo de competências deve começar em nós próprios, seja pela procura de literatura ou formações especificas na área, ou simplesmente pela procura de modelos que nos inspirem."
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