"Rui Vitória engendra outra arrumação libertando-se da 'herança' de Jesus e arriscando nova identidade, ou sujeita-se a enfrentar mau tempo na sua navegação.
Ao fim de seis jogos de preparação, com a Supertaça Cândido de Oliveira a uma semana de distância e o início do Campeonato a duas, como vai Rui Vitória sistematizar, depressa, o meio-campo dos encarnados? A pergunta é pertinente e foi colocada pelo jornalista Rogério Azevedo, enviado-especial de A BOLA a Lyon.
Escreveu ele que o meio-campo não desenvolve, só complica, que a defesa não soluciona os problemas que os médios criam e que os avançados estão muito longe dos índices de eficácia alcançados na última época. Não é preciso ser catedrático em futebol para verificar que poucas semelhantes se observam com o Benfica campeão. Dá a ideia de se estar a começar de novo, como se um mês de férias tivesse o efeito de uma esponja que tudo apagou quanto de bom se conseguiu antes. Parece que só resistiram as más recordações, de aí a oportunidade nas observações feitas, que sugerem reflexão profunda e medidas rápidas, antes que se faça tarde. É preciso acelerar o processo metamórfico das experimentações em soluções. Colocar certezas onde ainda há vários ses.
Existe justificada expectativa em redor da figura de Rui Vitória, sobretudo da franja mais céptica da família benfiquista, a qual precisa de se convencer que os bons ventos que orientaram o treinador na sua transição de Guimarães para a Luz ajudaram, sim, mas o que verdadeiramente foi importante na conquista do título 35 deveu-se à sua competência e saber e ao notável rendimento extraído de um plantel, com limitações, que potenciou através de um espírito de grupo à prova de bala...
Este será o ano da confirmação, embora se lhe coloquem novos e difíceis problemas, a dois níveis: por um lado, executar as mudanças que se impõem em termos de rejuvenescimento do plantel; por outro, manter a sua plenitude competitiva uma equipa ambiciosa e ganhadora, dentro e fora do país. Ou seja, para o adepto-comum, sempre muito exigente, o mínimo será apontar àr conquista do tetra e na Liga dos Campeões, como na temporada transacta, chegar aos quartos-de-final.
Em relação à integração de gente nova com reconhecida qualidade,ansiosa pela titularidade, aguardo cheio de interesse como vão ser resolvidas três/quatro dúvidas, a saber:
Na baliza, Júlio César beneficia de um estatuto de excepção à escala planetária. Tal como Buffon, por exemplo, faz parte de uma elite de 'guarda-redes eternos', mas a agradável surpresa chamada Ederson obriga, necessariamente, a repensar o caso. Os dois têm imenso valor e reclamam o lugar, embora com catorze anos a separá-los nas idades. O que suscita outro lado interessante: são ambos fantásticos, mas o mais jovem tem mais futuro e mais mercado, por isso será mais valioso.
Na defesa, ao centro, Luisão, sim ou não? É o grande capitão, a extensão do treinador dentro do campo, mas a idade não perdoa. Para recuperar a posição alguém terá que ser sacrificado. Lindelof? Jardel? Lisandro vai continuar em lista de espera? Kalaica é para deixar cair? A única certeza é a de que à ausência de Luisão correspondeu a explosão de Lindelof, muito cobiçado na Europa, além do aparecimento de um bloco de solidez impressionante.
Nas laterais, o ambiente é pacífico à direita, apenas com a necessidade de optar entre Nélson Semedo e André Almeida, em resultado dos momentos de forma de cada qual e das estratégias a utilizar em função dos opositores, sendo preferível, no entanto, definir de princípio um titular e um suplente em vez de se enveredar por dois 'semi-titulares'.
No lado esquerdo, julgo que a situação se apresenta igualmente confortável com a assunção de Grimaldo, um jovem de 20 anos com escola, destreza, audácia e de leitura fácil. Os méritos de Eliseu ninguém lhos tira. Fez pela vida, como se diz, mas as coisas são como são. Na Selecção. Fernando Santos mudou o que tinha de ser mudado, promovendo Raphael Guerreiro a titular e reduzindo Eliseu à condição de suplente pouco utilizado. O que de alguma forma serve de respaldo a Vitória, se não quiser adiar mais o que também no Benfica tem de ser feito.
No meio-campo, é que a porca torce o rabo e só não o torceu na última época pela razão simples de ter brotado do Seixal um fenómeno que foi remédio que aliviou dores e a luz que ajudou a descobrir caminhos. Um fenómeno que fascinou o mundo do futebol...
Sem ele, das duas uma, ou Rui Vitória engendra outra arrumação, libertando-se da herança de Jesus e arriscando nova identidade com fotografia de corpo inteiro, ou, prolongando o modelo mal desenhado que só funcionou pela entrada em cena de um selvagem incontrolável e arrasador chamado Renato Sanches, sujeita-se a enfrentar mau tempo na sua navegação: pelo que se viu até anteontem, nem Cervi se assemelha a Di Maria, nem Celis faz de Ramires. Além de um Carrillo que só tem transportado sombras..."
Fernando Guerra, in A Bola
PS: O Benfica de sucesso, sempre jogou com um médio-defensivo e um médio de ligação, sempre... Muito antes do Judas ser treinador do Benfica, já o Benfica jogava assim. Não me recordo de um modelo de jogo, com dois médios de contenção no Benfica, que tivesse tido sucesso ao longo de uma época... num jogo ou outro talvez, agora numa época inteira, nunca.
Portanto, a herança que o Rui Vitória tem que 'respeitar', é a herança do Benfica, e só do Benfica!
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