"1. Ontem, em dia de aniversário - 111 anos de uma história imensa -, o Benfica goleou o Estoril e combinou eficácia com uma elevada nota artística. Os primeiros quarenta e cinco minutos tiveram instantes de verdadeiro fulgor. Fulgor e espírito colectivo e momentos de virtuosismo individual. Diria que no Estádio da Luz, com perto de quarenta e sete mil espectadores, tivemos um verdadeiro 'lanche de luxo'. Uma tarde de aniversário, uma festiva, uma tarde com muitas e justas recordações. Foi uma festa do futebol. Como houve festa, igualmente tarde de aniversário, em modalidades de pavilhão onde as equipas do Benfica proporcionaram, igualmente, saborosas vitórias. O que fica, no entanto, é o agradecimento por estes noventa e quatro minutos de futebol de ataque, de uma sentida vontade de conquista, de uma fé na busca da 'perfeição final' que é, esta época, a reconquista da Liga. Que sendo, em termos de patrocínio, a Liga NOS deve ser, de verdade, a NOSSA Liga. Com a consciência que importa combinar coragem com humildade, confiança com esforço, lucidez com mérito, personalidade com prudência. E tudo isto em cada jogo que será, sempre, uma final. Como ocorrerá, desde já, na tarde do próximo domingo em Arouca. Como uma imensa onda benfiquista estou certo. Uma vez mais.
(...)
4. Esta semana foi fértil no que respeita à relação entre o futebol e o betão. E com um certo discurso político, pretensamente 'populista', a dominar algumas atenções e a motivar intervenções 'justicialistas' que julgam que os clubes podem ser, neste primeiro trimestre de 2015, elementos 'fracturantes'. Os Estados, todos eles e todos os regimes como é caso, agora, do chinês, sabem da importância do desporto e, do futebol por excelência, na agregação contemporânea. A França democrática, por exemplo, preocupada com a escassez de infra estruturas desportivas definiu uma política de betão entre as décadas de 30 e 50 do século passado e assim o número de estádio com mais de 20 mil lugares passou de 20 em 1920 para 130 em 1954. E se olharmos para a Liga francesa 'vemos' uma Liga que percorre muitas cidades em diferentes espaços e territórios do hexágono gaulês. Entre nós, e como também aprendemos num interessante estudo de Francisco Pinheiro - 'Futebol e Política na Ditadura, Factos e Mitos' - em 1940, o Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco, reuniu com os presidentes dos três grandes clubes de Lisboa (Belenenses, Benfica e Sporting) para os notificar que teriam de abandonar os respectivos campos para se instalarem no Parque de Monsanto, onde a Câmara Municipal iria construir três novos estádios. As infra estruturas planeadas para Lisboa a isso obrigavam: o primeiro a ser destruído foi o campo do Benfica (Campo das Amoreiras) devido às obras do Viaduto Duarte Pacheco. Hoje uma das principais entradas de Lisboa e espaço de concretização de um dos edifícios emblemáticos de um tempo concreto de Lisboa e que tem a marca indiscutível do Arquitecto Tomás Taveira. E assim, e nessa década de cinquenta -, de 1959 a 56 -, tivemos um conjunto de novos Estádios. Em Braga (1950), Antas (1952), Luz (1954), Alvalade (1956) ou Restelo (também em 1956) são exemplos dessa política. Onde se juntou planeamento com pragmatismo desportivo. Onde se combinou o apoio à prática desportiva com o arranque do desenvolvimento das competições profissionais que ajudaram a projectar as respectivas cidades. Sendo certo, como as avisadas palavras de Simone de Beauvoir evidenciam, que «o presente não é um passado em potência, ele é o momento da escolha e da acção»!"
Fernando Seara, in A Bola
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