"Estão a decorrer os Europeus de atletismo em Zurique. Competição sempre bela e, em regra, com sublime ética desportiva. Na semana em que passam 30 anos sobre o inolvidável ouro de Carlos Lopes na maratona dos Olímpicos de Los Angeles.
No dia que antecedeu o início dos Europeus, li e ouvi com atenção as palavras de Nélson Évora, também ilustre campeão olímpico. Palavras que merecem ser reflectidas quando denuncia, sem eufemismos, a diferença de tratamento perante delegações nacionais em competições internacionais.
E com razão. O futebol tudo absorve, tudo domina. Qualquer minudência é amplificada até ao insuportável. A iconografia (às vezes mesmos sob forma subtis de culto de personalidade) alimenta os egos. Qualquer chuto, defesa ou coisas ridículas fora do campo são transformados em feitos só ao alcance dos eleitos por uma qualquer divindade.
Este ano é elucidativo. Portugal esteve no Mundial de futebol, onde semanas a fio, só ouvimos noticiários sobre o tendão rotuliano de Cristiano Ronaldo ou os penteados dos jogadores. Foram recebidos por Presidente, primeiro-ministro, ministros e secretários de Estado. Tiram-se selfies, oferecem-se camisolas, empolgaram-se os discursos perante 23 jogadores, técnicos, dirigentes e restante séquito.
Chegados aos Europeus de atletismo, nem recepções, nem discursos, nem mensagens. Silêncio e desprezo perante uma grande delegação de 44 atletas que, com abnegação, sonho e pouco dinheiro, atingiram patamares elevados. Talvez haja um telegrama caso um dos nossos venha medalhado da Suíça...
Enfim, no desporto português há filhos e enteados. E na política, pais e padrastos."
Bagão Félix, in A Bola
E quase que havia filhos que tinham que declarar às finanças quando recebiam 500 euros do pai, não era, Bagãozinho?
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