"Há expressões muito comuns no desporto que merecem ser esmiuçadas. Por exemplo: «gerir o resultado» ou «fazer uma boa gestão do tempo». Estou para os jogos como a «gestão de expectativas» está para os economistas. Nem sempre com bons resultados, convenhamos.
Gerir significa, primacialmente, procurar uma boa conjugação se atingirem os objectivos (eficácia). No futebol, tem a ver, entre múltiplos factores, com o doseamento do esforço físico, o apuramento de forma, o esforço mental, o equilíbrio psicológico, a confiança ou falta dela. Numa palavra, tem a ver com pessoas, não com máquinas. E isto faz toda a diferença. E também porque, do outro lado, estão outras pessoas com objectivo simétrico. Por isso, gerir não pode ser dissociado de quem igualmente quer gerir, ainda que de maneira diversa e para um resultado diferente.
Mas gerir também quer dizer, no jargão desportivo, deixar passar o tempo com o menor sobressalto possível (leia-se, golos sofridos). O problema é que, não raro, em vez de se matar o tempo é o tempo que pode matar a dita gestão. À medida que se escoa essa variável inexorável que é o tempo, o gerir tem um duplo e contraditório significado: está-se mais perto da completa boa gestão, mas mais longe de a recuperar perante um percalço.
Na última jornada, os jogadores do Benfica resolveram gerir o tempo no Restelo. Acabou bem, mas quantas vezes, em circunstâncias similares, se pode acabar mal. Não teria sido melhor ir directamente para o 2.º golo, em vez de gerir tanto tempo com um resultado tão somítico? Até por causa da nossa gestão de nervos..."
Bagão Félix, in A Bola
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