"Muitas vezes esquecido como um dos grandes jogadores da história do futebol português, João Alves marcou uma época: no Boavista, no Salamanca e no Benfica.
Esta é uma ideia pessoal, muito pessoal, mas também acho que é por isso que a direcção do jornal me faz o obséquio de atribuir a responsabilidade de escrever nesta página praticamente aquilo que me dá na real gana.
Foi bom ver o João Alves a comentar na televisão do Benfica; foi bom encontrar o João Alves nos corredores da Luz e dar-lhe o abraço que ele merece.
João António Ferreira Alves é meu quase conterrâneo: de Albergaria-a-Velha, terra onde nasceu o meu pai.
Sempre foi baixinho, mas um jogador enorme. O que conseguiu no Boavista, por exemplo, sendo o grade artífice de um segundo lugar histórico no Campeonato Nacional, é de ficar registado a ouro nos cadernos sublimes do futebol português. Mário Wilson que o diga. E Nelinho. Um dia destes trarei aqui o episódio: Nelinho no FC Porto a estudar a foram de jogar de Alves; no Bessa a marcar o «Luvas Pretas» num jogo decisivo para o título... Não perdem por esperar.
«Luvas Pretas»: herdou-as do avô, Carlos Alves, jogador do Carcavelinhos, do Académico do Porto, do FC Porto e da Selecção Nacional. Foram uma homenagem ao homem que durante muitos anos comandou os destinos do Alba, um daqueles clubes-empresa que existiram por cá antes do 25 de Abril.
Dirão os mais novos, talvez com um toque depreciativo: o Alves só jogou quatro épocas do Benfica. Isso! Mas, primeiro: que épocas! E, segundo: houve Alves para além do Benfica. Um Alves tremendo!
No Salamanca, por exemplo, foi considerando o melhor estrangeiro a actuar em Espanha. No Salamanca!!! E à frente de Cruyff e Neeskens e Kempes. Esteve vai não vai para se transferir para o Real Madrid, em 1978, mas o limite imposto aos estrangeiros por equipa impediu uma contratação que seria, à época, sensacional.
O homem dos contratos milionários
Veio para a Luz. Onde já tinha estado como júnior. Depois, sem oportunidades, viajaria pelo Varzim e pelo Montijo antes de encontrar porto seguro no Boavista de José Maria Pedroto. «Saí pela porta pequena, entrei pela porta grande», dizia João Alves aos jornais.
Falava-se de verbas fantásticas: 25 milhões de pesetas para o Salamanca, um ordenado na ordem dos 200 contos mensais para Alves.
Falava-se que o presidente do FC Porto tudo fizera para o desviar para as Antas.
Sobre as verbas, eram tempos em que não se publicavam abertamente.
Sobre o presidente do FC Porto, foram coisas que sempre fez abertamente.
João Alves ficou uma época no Benfica antes de voltar a emigrar. Novos valores milionários: o Paris Saint-Germain pagou 32 mil contos por ele.
Foi infeliz. Lesionou-se gravemente. Depois sim, novo regresso. Para a Luz e com brilho.
Tenho a memória cheia de grandes momentos de João Alves com a camisola encarnada: aquela vitória por 5-0 ao Sporting, por exemplo, com todos os golos marcados na primeira parte. 1-0, Reinaldo; 2-0, Nené; 3-0, Reinaldo; 4-0, João Alves; 5-0, João Alves, de «penalty». Novembro de 1978: eu estive lá e vi. E não me esqueço.
E depois aquele jogo de Roma, entre tantos e tantos e tantos outros, os italianos rendidos ao futebol ofensivo do Benfica e jogava em qualquer estádio da Europa como se estivesse nas suas sete quintas de Sete Rios.
Passes longos, teleguiados, a bola colada ao pé como se houvesse a ligá-los um elástico invisível, a absorção dos ritmos de jogo, a velocidade mágica nos metros curtos da entrada da área para o remate sempre colocado, não em força, em classe.
João Alves não tem tido as lembranças colectivas a seu factor. Foi dos GRANDES (mas é de meter maiúsculas nisso!) que vi jogar e vi-o jogar tantas vezes.
É bom reencontrar aqueles que nos deram momentos especiais.
Seja nos corredores do Estádio da Luz, seja nos corredores da vida."
Afonso de Melo, in O Benfica
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