"Não acredito que, no meio do desassossego que estava a ser o jogo de Barcelos, tenha havido um único adepto do Benfica a abominar a ideia de ser Cardozo a avançar para a marca de penalty. Estou certo até de que, naquele minuto 90+4, não terá havido um único benfiquista que, por um segundinho que fosse, não tenha sorrido, confiante, ao vislumbrar a imensa perfeição cósmica do instante: Tacuara, de volta após três meses a recuperar de lesão, estava a ajeitar a lama à volta do circulozinho branco da marca dos 11 metros; ia ser ele a marcar o penalty que poderia desfazer o 1-1 do marcador e, com isso, não só reconquistar moral (em vésperas de novo derby) mas também aumentar para seis os pontos de vantagem sobre o rival FC Porto, derrotado horas antes. E, se não é verdade que todo o coração benfiquista bateu forte de esperança naquele momento, aceito com toda a abertura o contraditório...
Porém, a felicidade de ver Cardozo, qual D. Sebastião, resolver de novo um desafio difícil rapidamente se transformou em desilusão. Tacuara falhou o penalty, o jogo acabava ali a decepção (ou desencantamento) logo acendeu a revolta e a indignação: «Como é possível que não tenha sido Lima a marcar?! Não era óbvio que o Cardozo ia falhar?!»; ou então: «Como pode Jesus ver Cardozo avançar e nada dizer?! Não era óbvio que ia falhar?!»; ou ainda: «Ele vem de lesão, não tem ritmo nem confiança. Por que raios ninguém impediu tal heresia?! Não era óbvio que ia falhar?!»
Ouvi e encarei tudo à luz de uma nova realidade (e do penalty falhado, a da esperança transformada em desilusão) mas continuo a não acreditar que, naquele minuto 90+4, tenha havido um único benfiquista que não tenha gostado de ver Cardozo avançar para a bola. E creio até que se, ao invés, tivesse visto Lima... seriam muitos os impropérios.
O que aconteceu depois é movido mais por verdades lapalissianas típicas de quem se move em rebanho do que propriamente por sentimentos reais. É aquela lógica que leva a que, após as eleições legislativas, nunca se encontre quem tenha votado nos que (des)governam..."
João Pimpim, in A Bola
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