"O mecenato e o amadorismo há muito desapareceram da vida dos clubes e do futebol, no seu geral. O tempo das sandes como prémio de vitória e do electrodoméstico como benesse pela marcação de um golo estão hoje tão distantes quando o cumprimento de certos contratos notariais neste século XXI.
O futebol português, nos últimos 20 anos, conheceu profundas alterações ao nível da sua gestão, sobretudo a partir do momento em que os jogadores se foram valorizando e os empresários tomando conta das transações.
Para quem desde então conhece os nossos clubes, a principal mudança, além do betão, é, sem dúvida, a do perfil do dirigente. Enquanto técnicos e atletas ganham valências que dantes não tinam, assumindo a melhoria dos equipamentos, dos métodos de trabalho e da própria competição, do novo dirigente entretanto aparecido em cena sobra apenas a ganância: há o que se liga ao clube por factores meramente comerciais e o que expõe o emblema na lapela mas que no resto do tempo coloca os filhos e amigos no negócio das tão apetecidas comissões. Nada os diferencia, portanto.
Hoje, ao percebermos a economia das SAD, dos clubes e dos organismos de tutela, verificamos que os seus responsáveis funcionam na lógica do lucro, de especulação, da vantagem material e de muitas outras maquinações financeiras que, não enriquecendo as sociedades, como se comprova, sempre dão um certo jeito a quem delas aproveita...
Dir-me-ão que essa é a natureza do mundo em que vivemos. Pois sim. Gerir milhões de euros pagos pelo detentor dos direitos televisivos, mais umas dezenas de milhar provenientes da bilheteira, da publicidade e do merchandising, a que pode sempre juntar-se um saco de dólares de transferências internacionais, é uma tentação para qualquer um. Dizem até que o fazem por paixão e em prejuízo das suas vidas. E o pior é que há quem confie nessa gente!..."
Paulo Montes, in A Bola
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