"From: Domingos Amaral
To: Luís Filipe Vieira
Caro Luís Filipe Vieira
O senhor bem avisou, há uns meses, que o próximo ano ia ser de “contenção”. Com a gravíssima crise económica que alastra pela Europa, os principais mercados compradores de portugueses estão sem crédito disponível. Tanto em Espanha como em Inglaterra, o mercado retraiu-se e não está fácil vender jogadores, e muito menos pelos exorbitantes valores das suas cláusulas de rescisão. Assim, com a banca nacional em aperto, o modelo de negócio dos clubes nacionais entra em colapso profundo. Pequenos, médios e grandes habituaram-se a abastecer-se em mercados baratos e depois a tentar vender mais caro os seus jogadores. Pelo caminho, pagavam salários altos e também elevadas comissões aos intermediários. Mas, a roda da fortuna mudou. Ao mesmo tempo que o principal viveiro, o Brasil, se tornou um país caríssimo, o mercado de transferências está anémico. Pequenos, médios e grandes estão pois numa encruzilhada perigosa. Quase todos falidos, observam que quem ganhou neste jogo foram em primeiro lugar os jogadores, que estão ricos, e depois os intermediários. Com as receitas de bilheteira a sofrerem também por causa da austeridade nacional, como irão grandes e pequenos pagar as colossais dívidas que contraíram nos últimos anos para alimentarem as ilusões dos adeptos? Irão Benfica, FC Porto e Sporting aguentar os elevados salários que pagam, sem vender ao desbarato as suas principais pérolas?
Que este será um verão sem o habitual espectáculo das contratações para encher o olho dos adeptos, já todos o percebemos. O que ainda ninguém percebeu é qual será o novo modelo de negócio de instituições à beira do abismo. Terá chegado o tempo dos cortes salariais?"
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