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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Coerências e incoerências

"No desporto em geral e no futebol em particular, há uma regra consuetudinária: na incoerência, sê o mais coerente possível.

O curioso (mais estranho) é que haja quem queira ser o contrário: na aparência da coerência, acabar por ser da mais infeliz incoerência.

Hoje critica-se o árbitro por uma penalidade mal assinalada. Amanhã, se a favor da equipa apoiada, o silêncio é ensurdecedor. Hoje fala-se asperamente de um fora-de-jogo errado. Amanhã, a mesmíssima jogada é julgada com bonomia e compreensão. Hoje, com a equipa a ganhar, quatro minutos de tempo extra são uma eternidade inusitada. Amanhã com a equipa a perder, os tais quatro minutos adicionais são uma escassez manipulada pelo árbitro. Hoje o jogador é o mais violento de todos. Amanhã, se estiver na equipa que se apoia, já é u tecnicista por excelência ou um diamante quase polido. Hoje a mão foi na bola. Amanhã é a bola que vai ser na mão. E vice-versa. Hoje é uma falta para vermelho. Amanhã a mesma infracção é amistosa e nem amarelo justifica. Hoje a arbitragem foi calabótica. Amanhã, com os mesmos erros, passa a humana e pedagógica. Hoje dizer que uma tal caixa de segurança no estádio de um adversário foi aprovada pela FPF e UEFA é irrelevante e não absolve o clube. Amanhã dizer-se que estas entidades aprovaram(?) o décor de uma passagem para os balneários é respeitável justificação de sentença com trânsito em julgado.

O que me custa ver é pessoas inteligentes a levarem-se a sério nesta incoerência de falsa e puritana coerência. Prefiro quem não se leva tanto a sério (e se divirta até) na coerência da incoerência...

..."


Bagão Félix, in A Bola

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