"A crise aberta com a recusa do árbitro João Ferreira em arbitrar o jogo Beira-Mar - Sporting está muito longe de estar encerrada. Costuma ser assim com as grandes crises: põem a descoberto as questões de fundo e vão-se agudizando por etapas sucessivas, nalguns casos até à ruptura final.
O que aconteceu com este jogo foi grave e inusitado, mas veio mostrar até que ponto existe uma solidariedade corporativa entre os profissionais do sector, que se mantiveram unidos e deixaram o problema sem solução até ao último momento.
Não é fácil ser árbitro em Portugal, já que se trata de uma actividade sujeita a uma permanente suspeição e a um escrutínio que causa profundo desgaste a quem se expõe todas as semanas nos relvados.
Neste aspecto, os árbitros são muitas vezes comparáveis aos políticos, sujeitos à mesma pressão e desgaste. E que ninguém duvide que a maioria é gente séria e competente. Os árbitros debatem-se com problemas de diversa índole. Um deles é o aumento constante da exposição mediática e a polarização de conflitos de maior amplitude que muitas vezes encontram a válvula de escape no Futebol. Outro problema é o facto de o espectador em casa ter hoje muito melhores condições técnicas para ajuizar do que o próprio árbitro. Quando ele erra, por distracção, negligência ou dolo, já o mal está feito e tornou-se irreparável. Por outro lado, as bancadas estão repletas de árbitros e treinadores informais que vêem e julgam muito mais com os olhos do coração do que com os da razão. Nessa medida, cada jogo tende a ser um barril de pólvora à espera do rastilho que o active.
Num futuro próximo terá de se reequacionar a forma como os árbitros julgam, dotando-os, eventualmente, de meios tecnológicos que os tornem menos falíveis, vulneráveis e, em alguns casos, aliciáveis. Para já, a crise está para durar, de tal modo que se pode mesmo falar da existência de uma espécie de 'apito negro', roufenho, quase inaudível e muito pouco digno de respeito."
José Jorge Letria, in O Benfica
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!