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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Quem espera nem sempre alcança


"Às vezes, o comboio só passa uma vez. Muito raramente, passa duas. E se não aparecer nenhuma?
Um jogo decisivo, uma chamada à seleção, uma oportunidade num clube grande, uma final, parecem ser oportunidades transformadoras. Mas para quem tinha tudo para ser o melhor do Mundo, são só o reflexo disso mesmo. É normal que essas oportunidades aconteçam.
Por vezes, o comboio passa de repente. Uma lesão de um colega pode ser uma oportunidade inesperada no onze. O jogador tem de estar pronto, até porque não há garantias de que volte a aparecer. Esta parecia ser a história do guarda-redes Marc-André ter Stegen.
Começou a jogar futebol como avançado, no entanto perto dos 10 anos teve a coragem de substituir o guarda-redes da sua equipa juvenil que se lesionou em jogo. A paixão pela baliza foi quase automática. Antes de fazer 19 anos, estreou-se na baliza do Borussia Monchengladbach e tornou-se rapidamente num dos guarda-redes mais falados do Mundo.
Aos 22 anos, foi oficialmente apresentado como jogador do Barcelona, clube que representa até hoje. Entre 2014 e 2025, foram muitas as conquistas. Mas a relação entre ambos já foi bem melhor. No início de agosto, o Barcelona removeu temporariamente a sua braçadeira de capitão. Ter Stegen recusou-se a assinar o registo de relatório médico, necessário para justificar uma baixa de longa duração, que permitia ao clube poupar 80% do seu salário, segundo os critérios rigorosos de gestão financeira que tem sido alvo.
Não é a primeira vez que recebe um murro no estômago.
No auge da sua carreira, entre 2015 e 2020, nunca conseguiu ser o titular da seleção alemã. Foi sempre o número 2. Nem mesmo com pressão de referências, conseguiu.
Lothar Mattahus, o jogador com mais internacionalizações pela Mannschaft, chegou a afirmar que após a grave lesão de Manuel Neuer, o titular da Alemanha devia ser Ter Stegen. Pediu a oportunidade de estar num jogo importante como titular, mesmo que Neuer estivesse disponível, mas o resultado é que houve quem fizesse uma pressão ainda maior. Em 2019, o Bayern chegou mesmo a ameaçar deixar de ceder jogadores à seleção se Neuer perdesse o lugar para Ter Stegen. Todos sabemos quem ganhou. A real oportunidade nunca apareceu e a esperança é cada vez menor.
No Euro-2020 (realizado em 2021, devido à pandemia Covid-19), o titular da baliza da seleção voltou a ser Manuel Neuer. Ter Stegen não participou por estar lesionado.
Essa altura é provavelmente o trigger-point da (ainda não anunciada desistência) sua carreira. Em agosto de 2020 foi operado ao joelho direito. De acordo com os serviços médicos dos blaugrana, a cirurgia ao tendão patelar foi um sucesso e permitiu corrigir algumas fibras tendinosas que lhe causavam dor.
Em maio de 2021 voltou a passar por um procedimento terapêutico no tendão patelar. Começou aqui uma nova saga da sua carreira, as lesões. De qualquer forma, fica a ideia que mesmo que estivesse apto fisicamente dificilmente ia tirar o lugar a Neuer.
Em dezembro de 2023, durante uma pausa para viagens internacionais com a seleção alemã, Ter Stegen teve dores persistentes na região lombar. Após tratamento conservador, o Barcelona confirmou que não resultou e resolveram submetê-lo a uma cirurgia na região lombar. Esteve indisponível cerca de dois meses.
A 24 de julho de 2025, Ter Stegen voltou a ser submetido a uma cirurgia na região da coluna lombar. Por precaução, a equipa médica estimou um tempo de recuperação maior, para garantir uma recuperação segura e sem recidivas. Mas a reação do capitão foi diferente. À entrada para a sua 11.ª época no clube, defendeu que houve muitas informações incompletas acerca do seu estado clínico e acabou por não assinar logo o relatório médico.
Lá acabou por aceitar assinar o consentimento, passado um dia da decisão da sua destituição como capitão dos catalães. O relatório foi validado e confirmou que o alemão ficará afastado pelo período mínimo de quatro meses. Consequentemente, Joan Garcia pôde ser inscrito e será o provável titular da equipa nos próximos tempos.
A tensão entre Ter Stegen e o Barcelona, especialmente em 2025, pode ser interpretada como o resultado de uma conflituosa dinâmica de liderança desportiva. A dificuldade dos clubes em equilibrar os interesses do jogador com as exigências do fair-play financeiro e da gestão institucional. O atleta não concorda que para o mesmo diagnóstico médico desta vez o tempo de recuperação seja pelo menos o dobro. Normal. Acho eu.
Mostrou cautela pessoal e profissional, talvez por medo de ser descartado, mal interpretado ou até substituído. A sua reação é compreensível para alguém com histórico recente de cirurgias. Do ponto de vista do clube, mostra fragilidade na gestão do grupo e na comunicação de timing de recuperação.
Por outro lado, a resolução rápida do caso com o guarda-redes a reassumir a braçadeira de capitão mostra que houve diálogo. Mas também demonstra que o verdadeiro comboio nunca passou na vida de Ter Stegen. E pelo andar da carruagem, não vai passar."

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