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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Da sombra à glória


"APÓS UM LONGO PERÍODO FORA DAS OPÇÕES, JOSÉ BASTOS APROVEITOU UMA OPORTUNIDADE INESPERADA PARA SE FIXAR ENTRE OS TITULARES.

Num plantel de 25 jogadores, só 11 pisam o relvado de início. Os outros esperam, entre a fé e a frustração, que chegue a sua hora. Mantêm o corpo em forma e o espírito sereno, porque sabem que a oportunidade não avisa. A esperança é chama e sombra: tanto inspira como inquieta. “Quando voltarei a jogar?” A pergunta ecoa no silêncio dos dias. Mas os grandes atletas não desesperam. Trabalham no escuro, longe dos holofotes e dos aplausos. E, quando o momento chega, agarram-no com alma para não mais o soltarem.
José Bastos teve um início de carreira de sonho. Começou a jogar futebol como federado ao serviço do seu clube do coração, o Benfica. Distinguiu-se nos vários escalões de formação e estreou- -se oficialmente pela equipa de honra frente ao Lusitano, na 21.ª jornada do Campeonato Nacional 1949/50. Nessa época, sagrar-se- -ia campeão nacional como titular da baliza dos encarnados. A temporada terminou de forma épica, com a vitória na Taça Latina. Nos anos seguintes, consolidou-se como uma verdadeira muralha, tornando-se indispensável nas redes benfiquistas.
Contudo, com a chegada de Costa Pereira, o seu lugar passou a estar em risco, até que o perdeu para o novo companheiro de equipa. Bastos passou para um lugar que todos os jogadores temem: o de suplente. No final da temporada 1955/56, parecia remetido a terceira opção, en - quanto o jovem Sebastião era testado num amigável frente ao Flamengo, para definir quem seria o número 1 dos encarnados na disputa da Taça Latina.
Numa tarde de infelicidade, o guarda-redes sofreu dois golos comprometedores e foi substituído por Bastos. O guardião entrou e exibiu-se com uma segurança impressionante: “Pareceu-nos senhor de si próprio, dominando bem a situação. Oportuno a sair, feliz num ou noutro lance e uma defesa de grande valor, em voo e a soco, a safar o tiro de um livre de Rubens.” No final do jogo, Bastos saiu do relvado com um sorriso rasgado. “Há praticamente duas temporadas que estava afastado do primeiro team […], esperei sempre uma oportunidade como esta. Confesso, porém, que às vezes desanimava… Hoje, sinto-me tão feliz como se me tivesse saído a sorte grande.”
Otto Glória confirmou: Bastos seria o titular em Itália. O guarda-redes correspondeu às expetativas e, apesar da derrota nas meias-finais frente ao AC Milan, esteve irrepreensível. No jogo de atribuição dos 3.º e 4.º lugares, o Benfica ganhou ao Nice por 2-1, e Bastos foi um dos heróis do encontro. Com uma estupenda exibição, deixou a imprensa radiante, considerando ter sido o jogo da sua vida. Impulsionado por estas prestações, foi indiscutível na temporada seguinte, contribuindo com as suas defesas para que os benfiquistas ganhassem o Campeonato Nacional e a Taça de Portugal.
Saiba mais sobre este fantástico jogador na área 22 – De Águia ao Peito, do Museu Benfica – Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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