"Na eleição (pessoal e intransmissível) para o Comité Executivo, Pedro Proença ficou em último lugar, com apenas sete dos 28 votos necessários para ser eleito
São cartas, candidaturas, eleições, interesses, diplomacia, influências. São jogos nos bastidores (não de bastidores…), e a prova provada da importância que, hoje, a indústria do futebol assume para muitos protagonistas.
Resta saber que protagonistas. A recente reunião magna da UEFA, em Belgrado, sublinhou algo essencial para entender a geopolítica desportiva que gira em torno das grandes decisões. Na eleição (pessoal e intransmissível) para o Comité Executivo, Pedro Proença ficou em último lugar, com apenas sete dos 28 votos necessários para ser eleito. Ele que fizera parte do órgão, por inerência das anteriores funções como líder da associação europeia de ligas.
Isto é, Proença, no que ao cotejo internacional diz respeito, trocou o certo pelo incerto, ao candidatar-se à presidência da Federação Portuguesa de Futebol. E rapidamente percebeu, esta semana, na Sérvia, que o prestígio internacional, enquanto dirigente desportivo, se conquista ao longo de muitos anos, muito trabalho e crescente influência junto dos seus pares, e jamais cai do céu, ainda que se tenha sido um árbitro de topo ou um presidente de liga no seu país.
O resultado da eleição para o Comité Executivo da UEFA só surpreenderá os mais desatentos, e é uma derrota pessoal. Nunca será uma derrota do futebol português, considerando o tipo de cargo e o processo de candidatura. O que não quer dizer, obviamente, que o futebol português não perca, no seu todo, com o péssimo resultado de Pedro Proença nesta sua primeira investida em cargos eletivos na estrutura dirigente do futebol europeu.
E mesmo a celeuma entretanto levantada é uma espécie de espuma dos dias de conveniência para tentar justificar o óbvio.
Foi o novo presidente da FPF, enquanto candidato ao Comité Executivo da UEFA, que entendeu escrever às 55 federações integrantes, referindo expressamente o apoio de Fernando Gomes, que, na realidade, não lhe tinha sido concedido pelo anterior número um da Cidade do Futebol. Ora Proença jogou alto, e sem rede. Falou num dirigente de altíssimo prestígio na UEFA e na FIFA, adregado ao longo de década e meia de contactos, viagens, cimeiras, negociações e conquistas diplomáticas, trouxe Fernando Gomes à colação, quando, na realidade (bem ou mal, é algo que devemos analisar, sim, mas a jusante do momento e das suas consequências), não tinha o apoio expresso e nominal do agora Presidente do Comité Olímpico de Portugal.
Perante estes factos (e também bem ou mal, a conclusão é posterior), Gomes reagiu e contradisse a missiva original de Proença.
Há várias pistas para a análise da situação criada. Desde logo a errada convicção de que, tendo sido líder das ligas europeias e assumindo o comando da sua federação nacional, esses seriam bons argumentos para convencer as federações votantes dos seus eventuais méritos para o Executivo da UEFA.
Pois uma coisa, como ficou provado à saciedade, não tem a ver com a outra. Há muito trabalho a fazer, muito entendimento da geopolítica desportiva que é, hoje, uma das variáveis mais significativas da influência de uma confederação continental na modalidade mais transversal no planeta.
Entendimentos — alguns mais mediáticos mas, sobretudo, muitos mais subtis dos que outros — e uma capacidade de ganhar peso negocial que só com o tempo e com a experiência se consegue.
Deveria Fernando Gomes ter respondido à letra, quando confrontado com o seu putativo apoio (não declarado nem concedido)? Talvez não, embora se compreenda a mágoa do antigo presidente da FPF e o conhecimento que tem de uma espécie de desmantelamento de uma equipa tricotada a filigrana, oleada e muito profissional e que, de repente, se vê no meio de ondas inesperadas na Cidade do Futebol.
Porém, independentemente da resposta de Gomes que tanto mau estar criou na nova FPF e no seu Presidente, parece-me certo que Proença não seria eleito, nesta altura, para a cúpula executiva da União Europeia de Futebol. Dificilmente conseguiria os tais 28 votos que legitimariam a sua eleição. Daqui a dois anos, com caminho percorrido, trabalho feito e eventual prestígio adquirido, o panorama pode, de facto, ser bem distinto.
Também não me parece que o pedido de audiência (já agendada) ao Governo traga nada de novo neste quesito, e nem será, certamente, bem visto por Aleksander Ceferin e seus pares, em Nyon. Os recursos à tutela não são habituais nestas situações, não apresentam nenhum argumento razoável e não aportam, normalmente, quaisquer benefícios aos interlocutores. Ademais, na Suíça, são mal vistos e convenientemente interpretados…
Portugal é candidato à organização da fase final do Europeu Feminino de 2029, e tal poderá ser reconhecido como evento teste para a fase final do Mundial, no ano seguinte. Dispõe de todas as condições definidas no caderno de encargos, nas mais variadas áreas de impacto. Que formalize a sua candidatura e, seguramente, pelo prestígio internacional conseguido em muitos anos, pela evolução sustentada da vertente feminina do seu futebol e pela coincidência temporal com a fase final mundialista de 2030, será um candidato vencedor.
Importa, nesse evento e na projeção do Mundial, aproveitar todo o (imenso) trabalho feito por uma estrutura profissional e muito experiente. Ninguém perdoaria à atual Direção da Federação Portuguesa de Futebol um desbaratar do capital de confiança construído com tempo e talento.
Pedro Proença, inteligente e arguto, sabe-o. E não quererá perder a oportunidade de o passar à prática, seja na organização de competições de grande visibilidade, seja no perfeito entendimento da dimensão internacional, prestigiada e prestigiante, da FPF.
CARTÃO BRANCO
Faltam seis dias para se conhecer o novo Presidente da Liga Portugal. A semana passada tive ocasião de sublinhar que Reinaldo Teixeira, pela sua imensa experiência de gestão, pelo conhecimento interino do funcionamento da instituição, e pela paixão de trinta anos pelo futebol, desde a estrutura mais ligada à base da modalidade (a Associação de Futebol do Algarve), ao contacto, como Delegado e, posteriormente, Coordenador dos mesmos ao nível das duas competições profissionais, é a escolha óbvia.
Ademais, o candidato José Mendes passa a ser o Presidente de Mesa de Assembleia Geral recordista no período de marcação de eleições (45 dias, quando o habitual variava entre 15 e 20…), e fica na história como o candidato que não o era e que, quase por magia salvadora, passou a ser…"

Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!