"Mantendo-se fiel a uma ideia que não tem resultado, o Benfica abre as portas à felicidade dos outros. Em Moreira de Cónegos, o empate (1-1) apareceu de penálti e já depois da hora, depois de mais 90 minutos quase sempre desinspirados. Já lá vão cinco pontos perdidos em quatro jogos
À 4.ª jornada, e depois da derrota no primeiro jogo em Famalicão, o Benfica volta a perder pontos no norte. O empate em casa do Moreirense (1-1), arrancado a ferros já bem dentro dos descontos num penálti fortuito, torna num mal menor uma exibição em que mais uma vez a equipa de Roger Schmidt mostrou falta de rotinas, um coletivo sem ideias e uma equipa desesperada quando o parece que vai correr mal, corre efetivamente mal. São cinco pontos perdidos, todos fora de casa, e a sensação quase permanente de que não há evolução neste Benfica é evidente, numa altura em que o plantel ainda está em mudança.
Face à falta de rendimento da equipa, nada que duas vitórias seguidas mascarem, é incompreensível que à 4.ª jornada Roger Schmidt continue com a teimosia do duplo-pivô Leandro Barreiro/Florentino Luís, para mais quando a equipa nem sequer atinge aquilo que seria de esperar com dois jogadores que, na sua essência, são redundantes: seja o controlo do meio-campo ou os equilíbrios. Sem Aursnes, o alemão chamou Di María ao onze e, inexplicavelmente, tirou Tomás Araújo do eixo da defesa, quando o jovem central português até estava a ser um dos poucos oásis dos encarnados neste início de temporada.
Foi com Barreiro e Florentino em campo que o Benfica permitiu uns primeiros 10 minutos em que o Moreirense teve todo o espaço para fisgar o último terço encarnado em ataques rápidos, não poucas vezes consequência de erros na construção da equipa de Schmidt. Madson foi, nesta fase, um quebra-cabeças para o Benfica: logo aos 3 minutos, um erro de António Silva permitiu a cavalgada de Alanzinho, que viu o compatriota sem marcação à direita, mas Trubin antecipou-se. Com grande facilidade de remate, Madson ainda obrigou o Trubin a mais uma defesa atenta, antes do Benfica conseguir, finalmente aos 10 minutos, travar o ímpeto da equipa da casa, com uma pressão, pelo menos, um pouco mais competente.
Daí até ao intervalo, a bola foi do Benfica, mas os encarnados nunca encontraram boas soluções para servir Pavlidis. Kokçu pela esquerda perde preponderância e Prestianni esteve pouco em jogo. Só perto da meia-hora, num remate de Di María na marca de penálti após cruzamento de Carreras, se vislumbrou um qualquer sinal de perigo. Maracás liderava uma defesa bem organizada da equipa da casa, que se colocava atrás mas não deixava de cheirar as suas oportunidades. Já nos descontos da 1.ª parte, a bola entraria mesmo na baliza de Trubin, num lance com origem em mais um passe errado, desta vez de Di Maria. Na transição, Alanzinho encontrou Gabrielzinho, que bateu o guarda-redes ucraniano, mas uma falta anterior salvou, por ora, o Benfica.
Ao intervalo, Schmidt acordou com 45 minutos de atraso e amputou o duplo-pivô, lançando Renato Sanches para o lugar de Florentino. E quando o campeão europeu em 2016 avançou no terreno, houve mais Benfica: os primeiros 15 minutos da 2.ª parte são o melhor período dos encarnados no jogo. Curiosamente, os melhores momentos do Benfica esta época, os últimos 25 minutos frente ao Casa Pia, acontecem quando Schmidt tira Barreiro. Ele há coincidências.
As duas grandes oportunidades dos encarnados, agora mais dinâmicos, com mais presença ao meio, acontecem aqui. E quase seguidas. Aos 51’, um entendimento na zona central, uma miragem no jogo de Benfica, culmina com um calcanhar delicioso de Prestianni, que isola Pavlidis. O remate do grego foi travado por Kewin. Nem dois minutos depois, um lance de Carreras pela esquerda deixou a defesa do Moreirense desequilibrada, com Di María a surgir à direita livre para rematar após um primeiro esforço de Pavlidis. Seria Maracás a cortar uma bola que já seguia para a baliza. O Benfica carregava, o Moreirense ia fechando os caminhos estoicamente, mas o esforço não podia durar para sempre.
Só que o Benfica, ao invés de aproveitar o elã dos primeiros minutos, voltou a esmorecer. Ou melhor, a voltar ao rame-rame da 1.ª parte, muita parra e pouca ou nenhuma uva, uma pobreza de ideias e de atitude. E com isso o Moreirense foi acreditando, agarrando as suas nesgas de oportunidade. Maracás quase marcava aos 62’ após livre lateral e já nos últimos 10 minutos de jogo novo erro de construção dos encarnados deu prémio à equipa de César Peixoto. O passe defeituoso de Carreras, numa transição, deixou a bola para Benny que, brilhante, lançou Ofori de calcanhar. O remate do ganês ainda bateu em António Silva, enganando Trubin.
Se o Benfica já era uma equipa com a cabeça no ar, depois de sofrer tornou-se apenas desesperada. Com Rollheiser já em campo, foi ao banco buscar o único extremo disponível, João Rego, e as intenções estavam ali bem escritas: chuveirinho para a área, confusão, caos, à espera que um santo apareça, um momento de sorte. E esse momento de sorte pareceu, não que o Benfica tivesse trabalhado para ele aparecer, mas apareceu. Aos 90’+7, Marcos Leonardo marcou de penálti, um desses penáltis que só acontecem quando, de facto, o caos reina numa área."
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