"Carlos Alberto foi surpreendido com a titularidade e surpreender com a sua qualidade
A posição de guarda-redes é singular, seja qual for a modalidade. Treinam-se à parte do restante grupo, nos jogos vestem-se de forma diferente e estão confinados a um espaço bastante limitado. Se for suplente, a situação é ainda mais aguda, pois as oportunidades são escassas.
Carlos Alberto era o exemplo perfeito disso. No plantel principal de hóquei em patins desde 1956, nunca conseguiu estabelecer-se como titular. A partir de 1965, com a ascensão de Ramalhete, que se tornou referência da equipa, passou a jogar cada vez menos minutos.
Em 1967, com o Benfica a realizar uma excelente temporada, em que conquistaram o Campeonato Regional e o Metropolitano, os encarnados eram apontados como principais candidatos a sagrarem-se bicampeões nacionais. Contudo, dias antes da comitiva benfiquista partir para Lourenço Marques, surgiram dificuldades inesperadas, Livramento e Nogueira estiveram para não viajar por não conseguirem dispensa dos seus trabalhos, e a solução só foi desbloqueada com a intervenção do presidente da Federação de Patinagem, Alberto Mesquita. O alívio resultante dessa noticia rapidamente deu lugar à preocupação quando os encarnados foram informados de que não poderiam contar com Ramalhete, que na véspera da partida 'tinha seguido para o Ultramar, em missão de soberania'.
Quando questionado se as hipóteses do Benfica ficavam assim reduzidas, o dirigente José Carolino dos Santos foi perentório: 'Ramalhete é uma baixa de vulto na nossa equipa, mas todos estamos esperançados num bom resultado, até porque estou convicto de que o substituto daquele jogador é capaz de arcar com a responsabilidade que, inesperadamente, recaiu sobre os seus ombros'. O dirigente referia-se a Carlos Alberto.
Com tantos anos remetido a segunda escolha, era a oportunidade perfeita para demonstrar todo o seu talento. O guarda-redes não desiludiu, tendo sido um dos esteios dos benfiquistas para a conquista do Campeonato Nacional, com a equipa a ser a menos batida da competição, ao consentir apenas 7 golos.
Os elogios não se fizeram esperar, com o treinador benfiquista, Torcato Ferreira, a afirmar: 'Carlos Alberto só no primeiro jogo acusou a responsabilidade de ter de substituir o titular Ramalhete. Depois, foi extraordinário de brio e aplicação, transmitindo plena confiança aos companheiros'. O desporto é momento, e é nos desafios de alto grau classe impera. Carlos Alberto esperou anos pela sua oportunidade e, quando a teve, brilhou.
Saiba mais sobre esta conquista na área 3 - Orgulho Eclético do Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!