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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Carta aberta aos adeptos do futebol (e não da impunidade)


"Uma bala perdida no relvado, elementos estranhos ao jogo a saltar para o relvado, indivíduos de colete azul a funcionarem como “armas sem dono” e um ambiente intimidatório que traz à memória os anos 80 e 90 do século XX, a quem tendo, idade, tem também memória e disponibilidade para isso.
Mas já não estamos em 1986, em 1991 ou sequer em 2010. Sim, 2010 quando fomos recebidos no mesmo estádio com bolas de golfe e animais de capoeira.
Na altura, a Comissão Disciplinar multou o FC Porto em 2500 euros porque o guarda redes do SL Benfica não tinha sido vítima de “lesão de especial gravidade” e a bola de golfe não chegou a ser considerado meio susceptível de provocar graves danos.
Aqui reside o principal problema do futebol português: a impunidade de que goza o FC Porto.
Não sei se é devido ao facto de desde o fim dos anos 80 quem mandou e manda na Federação Portuguesa de Futebol ou ser adepto ferrenho do FC Porto ou ser subserviente em relação a esse clube.
Subserviência essa traduzida na benevolência com que a AF Porto, desde então, é tratada pelas restantes Associações de Futebol do país quanto à indicação de nomes para os principais órgãos da FPF.
O que sei sim é que o problema não está na entidade Liga de Clubes nem no seu Presidente, que tem tanto poder para mudar as regras macias que protegem a impunidade como a Rainha de Inglaterra.
Reside no Orgão que tutela o nosso futebol, a Federação Portuguesa de Futebol, e nos dirigentes dos Clubes que compõem a Liga Portuguesa de Futebol Profissional.
Enquanto Vice-Presidente do SL Benfica, bati-me contra esse poder e contra os poderes que sustentavam o sistema de ódio que corrói o nosso futebol, quase sempre sozinho.
Enquanto Administrador da SAD do SL Benfica entre 2009 e 2012, bati-me contra a normalização das relações com o FC Porto que alguns (que por lá ainda andam) dentro da SAD procuravam fazer, em nome da “indústria” do futebol.
Enquanto Candidato à Presidência do SL Benfica, bati-me contra esses poderes, mesmo sabendo que estavam de forma implícita a torcer (ou até a fazer mais que isso) para que na cadeira da Presidência do SL Benfica não se sente, nunca, ninguém que honre a memória de Presidentes históricos que lutaram contra esse sistema!
Fico satisfeito que o Sporting, ao fim de tantos anos finalmente pareça entender que o único inimigo que vale a pena combater é o inimigo da verdade desportiva, do fair-play e da festa do futebol.
Sabemos quem trouxe o ódio ao futebol português. Sabemos que até Mário Wilson, um homem bom, honrado e de princípios e valores morais de elevadíssima estirpe, foi vítima de racismo por parte dessa raiz do ódio no nosso futebol.
Para quem não sabe, nasci no Porto.
Por isso dispenso lições sobre o Norte, sobre a minha cidade ou sobre como alguns poderes se relacionam com o segundo clube com mais adeptos na cidade a seguir ao SL Benfica.
O FC Porto não se confunde com a cidade do Porto e muito menos com o Norte de Portugal, região tão respeitável quanto qualquer outra e que não merece que a confundam com uma agremiação fomentadora de ódio.

É lamentável por isso ver a capa de um jornal de hoje em que se recolhem depoimentos que procuram dizer-nos que tudo o que temos visto no Dragão ou que vimos no antigo Estádio das Antas são conspirações ou julgamentos injustos. Ou que procuram confundir esse segundo clube da cidade do Porto com todos os portuenses.
Injusto, meus caros, é ver o SL Benfica gravemente prejudicado nos últimos 40 anos. Quantos títulos nacionais nos foram subtraídos com fruta e café? Demasiados.
Grave é entender que, como clube, não temos feito tudo o que podemos para terminar com este reinado de impunidade do FC Porto.
A impunidade e a batota não se “abraça”. Não se saúda. Combate-se.
É a obrigação do SL Benfica liderar de uma vez por todas um movimento de clubes que queira colocar termo a isto.
É a missão do Presidente do SL Benfica ser a voz dos milhões de adeptos que estão fartos de ver o mesmo clube levado ao colo pelas entidades que gerem o futebol português.
E é o dever de todos os clubes e seus Presidentes que queiram mesmo mudar para melhor o futebol português assumirem essa luta também como sua.
Não chega vir às salas de imprensa queixar-se da arbitragem ou queixar-se dos últimos 40 anos se essas queixas não forem sustentadas com acções concretas que decapitem os poderes podres do futebol português.
Os atuais Presidentes do Benfica e do Sporting têm que fazer muito mais que queixar-se. Têm que agir.
Por isso é inconcebível que qualquer acordo de Centralização de Direitos Televisivos tenha a concordância e assinatura do SL Benfica e Sporting CP enquanto o FC Porto gozar desta impunidade.
Aliás, é dever do SL Benfica bloquear qualquer acordo usando todos os meios disponíveis enquanto durar esta impunidade. Veremos durante quanto tempo o futebol português aguenta sem mais dinheiro, em especial o FC Porto.
É proibitivo apoiar para novo mandato na Federação Portuguesa de Futebol qualquer dirigente que não tenha feito nada para acabar com a impunidade do FC Porto ou de qualquer outro clube que ache estar acima das leis.
O SL Benfica merece mais e nosso futebol e os seus adeptos também merecem mais. Muito mais.
A principal mudança não depende dos outros. Depende de nós.
E de não sermos nós, ou os que temos entre nós e nos representam, a serem os maiores coniventes com tudo o que nos sobressalta, durante umas horas, para depois, aceitarmos como normal."

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