"Já se passaram cinco anos desde que Jorge Jesus saiu do Benfica, mas parece que a ideia da aposta da formação já se esqueceu. Acho que é uma boa altura de relembrar porque é que há cinco anos começámos a apostar tanto na formação, como a aposta na formação deu bons resultados em alguns clubes e porque é que a aposta na formação não tem dado esses resultados no Benfica. O pior que o Benfica poderia fazer era deixar de apostar na formação neste momento. A formação é o único caminho para o sucesso à disposição dos clubes fora das quatro grandes Ligas.
A necessidade de apostar na formação é francamente simples de entender. As futuras estrelas do futebol mundial têm hoje 15, 16, 18 anos. Se tivermos boas condições porque é que não podem surgir no Benfica? Foi esta a pergunta que Luís Filipe Vieira fez há cerca de dez anos e os resultados estão à vista de todos. Hoje em dia, contratar um jogador que seja capaz de fazer diferença numa competição europeia custa no mínimo uns 40 milhões de euros (entre preço do jogador, salário, prémio de assinatura e comissões). O Benfica tem capacidade para ter dois ou três assim. Mas não tem capacidade para ter quinze, como a maioria dos grandes clubes tem, no mínimo. A solução é criar esses jogadores na formação. Bons jogadores da formação também têm (ou deveriam ter) salários caros, mas não se tem que pagar a ninguém para os ter. Assim é possível um clube da periferia futebolística europeia conseguir ter um plantel competitivo a nível europeu sem gastar o que grandes clubes gastam.
No passado recente tivemos alguns clubes a conseguirem ter sucesso a nível internacional graças à formação ou à aposta em jovens jogadores. Nos últimos cinco anos, houve três equipas a chegar às meias-finais da Champions League que não estamos habituados a ver lá: Mónaco 2016-17, Roma 2017-18 e Ajax 2018-19. Destas três equipas, duas tinham como base a formação. O Mónaco montou uma equipa com uma série de jovens de 18-23 anos que foi buscar à sua academia (Kylian Mbappé, Abdou Diallo e Almamy Touré) ou a academias de outros clubes (Bernardo Silva, Thomas Lemas, Fabinho, Tiémoué Bakayoko, Benjamin Mendy e Gabriel Boschilia). A estes jovens juntou jogadores experientes como João Moutinho, Radamel Falcão e Danijel Subasic e conseguiu travar o PSG, vencer a Ligue 1 e chegar às meias-finais da Champions League. O Ajax venceu a Eredivisie, a Taça da Holanda e chegou às meias-finais da Champions com uma equipa onde dos onze jogadores mais utilizados, seis tinham passado pela equipa B nos anos anteriores (Donny van de Beek, Matthijs de Ligt, André Onana, David Neres, Noussair Mazraoui e Frenkie de Jong). Além destes, quase metade dos jogadores do resto do plantel vieram da formação ou foram contratados muito novos.
A triste curiosidade, é que se formos ver os clubes com melhor resultado líquido de contratações nos últimos anos, a lista é composta precisamente por Mónaco, Ajax e…. Benfica. Ou seja, nós produzimos o mesmo talento que Ajax e Mónaco, só que não tivemos uma gestão capaz de chegar aos mesmos resultados. O problema do Benfica não tem sido apostar em demasia na formação. O problema do Benfica tem sido gestão. O Benfica cria jogadores óptimos, vende-os à primeira oportunidade e depois fica à espera que a formação crie jogadores para os substituir. Se a formação não for capaz de responder no imediato a essa necessidade, o Benfica não contrata. Este é o erro. Foi isto que aconteceu com o Renato Sanches, com Ederson, com Nélson Semedo e mais recentemente com João Félix. A solução é francamente simples também. Não podemos vender jogadores só porque fizeram uma boa temporada. Jogadores deste nível são muito difíceis de criar. Nós temos que tirar mais rendimento desportivo deles antes de procurarmos o rendimento financeiro. E quando tirarmos o rendimento financeiro, se a formação não tiver ninguém para se apostar no imediato, temos que ir ao mercado. O que não se pode fazer de todo é acelerar processos só para não gastar algum dinheiro em reforços (que foi o que aconteceu com Tomás Tavares por exemplo).
Há cerca de quatro ou cinco anos, Hélder Cristóvão disse numa entrevista à BTV que um jogador da equipa B para se graduar da equipa B e saltar para a equipa principal tinha que fazer entre 60 a 80 jogos. Nenhum dos jogadores promovidos este ano pelo Benfica tinha um quinto disso. Só se apostou nesses jogadores porque a “Estrutura” do clube não quis gastar dinheiro em reforços. O único caso bem gerido pela “Estrutura” nestes últimos anos foi o caso de Victor Lindelof - Rúben Dias. Assim que Victor Lindelof foi vendido, a formação já tinha outro jovem pronto a ser lançado - Rúben Dias. Tirando este caso, todos os outros jogadores ou ainda não foram substituídos - João Félix e Nélson Semedo - ou foram substituídos com um penso rápido e o clube só decidiu investir a sério passado mais de um ano depois: (1) Ederson - Bruno Varela - Odysseas Vlachodimos; (2) Renato Sanches - Pizzi (adaptado a médio centro) - Krovinovic - Gabriel).
A formação do Benfica está a chegar aos anos de ouro. As gerações de 1994 e 1997 foram muito boas, mas as gerações que estão a bater à porta (de 2000, 2001 e 2002) são também muito boas. É importante que o plantel da equipa principal seja curto, de maneira a que a porta esteja aberta para jogadores como Gonçalo Ramos, Tiago Dantas, Morato, Pedro Álvaro, Ronaldo Camará, Paulo Bernardo e Rafael Brito possam ter as suas oportunidades. Porque se não tiverem aqui, vai aparecer um Mónaco ou um Valência a tirar proveito deles. Quase que aposto que um desses clubes que já deve estar a esfregar as mãos chama-se Wolverhampton."
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