"Há muitos jogos a recordar daquele SL Benfica de 2009/10, mas o confronto do Vélodrome assume-se como uma das referências da mítica temporada pelo peso da história e pelo impacto da segunda mão no imaginário encarnado. Depois do empate em Lisboa a uma bola, quando Ben Arfa silenciou a Luz nos instantes finais, foi a vez do Benfica se superiorizar em Marselha, em 90 minutos de intensidade máxima e demonstrativos da qualidade individual que desfilava no relvado.
O Olympique de Marseille era comandado por Didier Deschamps, actual seleccionador gaulês e campeão do mundo. Após levar o Mónaco à final da Liga dos Campeões e revitalizar uma Juventus FC abatida pelo Calciocaos, recuperando-a sem esforço da Serie B, uma das figuras do Olympique campeão europeu em 1993 voltava a casa para conferir identidade a uma equipa de nível superior, que se transcendeu com as contratações de Lucho González, Gabriel Heinze e Stéphane M’Bia e conquistou a Ligue 1 e a Coupe de La Ligue, vitórias que integraram a imprevísivel fase das competições francesas entre o domínio do Lyon e o monopólio do PSG.
O SL Benfica começava naquele ano a construir as bases para o sucesso da segunda década dos 2000 e aquela equipa tornou-se de culto à custa de jogos como este – o ambiente no Velódrome era de cortar à faca e era obrigatório marcar para passar aos quartos-de-final da Liga Europa.
Da primeira mão saíram do XI Aimar e César Peixoto, entrando Carlos Martins e Coentrão para os seus lugares. O Benfica exibiu-se na sua abordagem habitual, com o losango intermediário a carburar e a garantir ao Benfica uma consistência táctica que permitiu disputar o jogo e superiorizar-se à equipa da casa. Nunca os jogadores do Benfica se sentiram amedrontados perante a responsabilidade daquele jogo e a exibição desinibida demonstrou-o.
Ramires garantiu o acompanhamento necessário a Javi Garcia no choque táctico com Lucho e Cheyrou; Di Maria tem em França uma das suas grandes exibições de águia ao peito, e garantiu com Saviola os desequilíbrios necessários para se colocarem (a eles próprios e a Cardozo) em boa posição para marcar inúmeras vezes – acontece que até ao golo de Maxi, aos 75′, a condescendência encarnada na finalização adiou o descanso na eliminatória.
O Marselha tinha em Taiwo, lateral nigeriano cobiçado muitas vezes pelo Benfica, uma locomotiva que percorria todo o corredor esquerdo e que permitia a Brandão aproximar-se de Niang na zona central. Porém, a presença física da dupla nos arrabaldes de Luisão e David Luiz nunca representou uma ameaça à organização defensiva encarnada. O golo marselhês nasce de um lance fortuito, após livre lateral, numa saída em falso de Júlio César.
Jesus, que previra na antevisão que as duas equipas marcariam, acertou também em cheio nas substituições: lançou Aimar para o lugar de um esgotado Saviola e, retirando Carlos Martins, introduziu Kardec na peleia. Do brasileiro viria o golo decisivo, aos 90’, após livre do genial número 10, que revolucionou o jogo ao entrar em campo.
Com Aimar na sala de operações, a qualidade de posse bola encarnada aumentou drasticamente, com o avanço das linhas de pressão a encurralar o onze adversário na sua própria metade e possibilitando a recuperação quase imediata da posse de bola, tornando-se num jogo de sentido único na sua fase decisiva.
Ganharia o Benfica com toda a justiça. A vingança, sendo um prato que é preferível servir-se frio, foi servida pelos encarnados com a frieza das grandes equipas. Aliás, foi tão bem aplicada que, o herói da primeira-mão, Ben Arfa, entrou após o segundo golo e foi expulso um minuto depois, por pontapear Alan Kardec. Temperamento demasiado quente para tanto gelo."
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