"A 23 de Novembro de 2016, o SL Benfica apresentou-se na Turquia com vontade de carimbar na quinta e penúltima partida da fase de grupos a passagem aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Depois do embaraço causado por Anderson Talisca na Luz, com o brasileiro emprestado pelas águias de Lisboa às de Istambul a fazer o golo do empate aos 90+3, e da humilhação em Nápoles frente aos azuis de Sarri (derrota por 4-2, num jogo em que o marcador esteve nos 4-0), os pupilos de Rui Vitória queriam mostrar uma nova cara.
E a primeira parte dos encarnados foi fantástica. Absolutamente assombrosa. Com classe e categoria, os então tricampeões nacionais massacraram os homens de branco e negro e foram para intervalo a vencer por 0-3. Gonçalo Guedes abriu o marcador no último dos primeiros dez minutos. Insatisfeitas com a vantagem mínima, as águias portuguesas não tiraram o pé do acelerador e foi precisamente uma “águia portuguesa” a dilatar a dita vantagem.
Nélson Semedo, numa incursão ofensiva, procurou o espaço interior e, à entrada da área turca, rematou em arco com o pé esquerdo e apontou um verdadeiro golaço. Com dois golos com carimbo do Benfica Futebol Campus, a turma portuguesa vencia na Vodafone Arena por duas bolas sem resposta a equipa da casa, com apenas 25 minutos jogados. Esperava-se o melhor, esperava-se o ressurgimento do Glorioso Benfica, ainda que por uma noite apenas.
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O tento de Fejsa seis minutos mais tarde veio cimentar essa esperança. Uma noite mágica em perspectiva. Durante toda a primeira parte, esteve em campo o melhor Benfica que Rui Vitória conseguia apresentar, o Benfica que nesse ano civil de 2016 havia gladiado olhos nos olhos com o FC Bayern de Munique de Guardiola. Sentia-se que para segurar a vitória, os encarnados só tinham que aparecer na segunda parte.
Não apareceram. Com muito mérito, assente essencialmente na crença e força de espírito demonstradas, os turcos mimetizaram a primeira parte dos adversários e alcançaram o empate. Cenk Tosun, aos 58 minutos, atirou a crença turca para níveis que se julgava serem inatingíveis depois do sucedido no primeiro tempo, com um golo acrobático. O Besiktas JK carregou e carregou com força.
Ainda assim, os visitantes, acanhados, conseguiram tardar o segundo golo dos pupilos de Senol Gunes. Tardar, mas não evitar. Tardaram-no até aos 83 minutos, minuto em que uma grande penalidade convertida por Ricardo Quaresma deixou claro o que viria a acontecer. O tempo escasseava, mas ninguém duvidava – nem mesmo os adeptos benfiquistas – de que o empate chegaria.
Chegou cinco minutos depois do 3-2. Vincent Aboubakar espalhou o êxtase pelas bancadas aos 88´, com o golo do empate que muitos julgavam inalcançável quando do final do primeiro tempo. A passagem encarnada, que ao intervalo parecia estar assegurada, ficou adiada para a última jornada. Os encarnados viriam a perder por 2-1 na recepção aos napolitanos, mas alcançariam os oitavos graças à derrota turca em Kiev, frente ao Dínamo local, por 6-0.
Nesta partida, o SL Benfica demonstrou ser capaz do melhor e do pior, ser bestial e ser besta, ser Yin e ser Yang. Tudo em 90 minutos. A partida de Istambul foi, por isto, um espelho do Benfica de Rui Vitória, um Benfica capaz de atingir o Céu e de seguida conhecer o Inferno.
A partida de Istambul é um constante lembrete do que o clube da Luz pode fazer e do que tem que evitar repetir. A partida de Istambul é um jogo a rever, não só pela qualidade e emoção da partida, mas também para que não esqueçamos do que somos capazes, para o bem e para o mal. A partida de Istambul, por mais penoso que seja revisita-la, tem que permanecer no nosso histórico colectivo, pois está marcada na nossa história.
A partida de Istambul, por tudo o que encerra, só pode ser avaliada conforme o que retirarmos dela no futuro: se aprendermos a não repetir o erro, veremos este jogo como um ponto positivo no novo trajecto benfiquista; se não o fizermos, veremos este jogo como mais um obstáculo que não conseguimos ultrapassar. Seja como for, voltaremos sempre a este jogo. Então, porque não agora? Tempo e aborrecimento para matar não nos falta.
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