"Algures entre 1994 e 2000, o Benfica passava por um dos seus piores tempos enquanto clube. No entanto, a paixão que em mim existia pelo clube não se limitava aos resultados. Era o clube, o seu significado, aquela mística que não se explica, mas sente-se, que fervilhava em cada momento da minha vida.
A juntar ao amor pelo clube, fervilhava também o amor pelo futebol. O talento que alguns me reconheciam e que não foi alcançado por decisões pessoais. Este texto, porém, não é sobre mim, mas sobre algo maior. Vejamos o seguinte: sempre que o Benfica perdia, eu vertia lágrimas de tristeza e, como miúdo que era, não percebia o porquê das derrotas. Era esse o meu nível de amor pelo Benfica. Mesmo quando jogávamos mal, como nos dolorosos 7-1, eu não compreendia como era possível uma equipa como o Benfica ser humilhada dessa forma.
Alguém se lembra dos 3-0 do Boavista na Luz? Hat-trick de um dos avançados mais letais do campeonato português, Kwame Ayew e eu, na minha casa, a ver o jogo através da SIC, a chorar como se fosse o fim do mundo. Para nota, o primeiro jogo que vi no antigo e único Estádio da Luz foi um Benfica 4-2 Boavista, já com um tal de Michel Preud’Homme na baliza e um Claudio Caniggia no ataque na longínqua época de 1994/1995. “Preud’Homme mete a bola em Mozer que joga na linha para Vítor Paneira…” e assim começava o meu ‘relato’ enquanto jogava à bola no quintal dos meus avós maternos. Era eu e uma bola, com um relógio no pulso que marcava o tempo. Normalmente, tinha 10 minutos para cada parte (sim, eu fazia duas partes), mas acabava sempre por prolongar o jogo por mais e mais tempo, até que me chamavam para ir almoçar. A equipa rival variava; ora podia ser o Porto, ora podia ser o Sporting. Dependia de vários factores e da aleatoriedade da minha imaginação. “Vitor Paneira passa por Mário Jardel e coloca a bola em Rui Costa. Rui Costa avança no campo de forma brilhante", toco no muro para assinalar a mudança de meio-campo defensivo para ofensivo, "tira dois adversários da frente e coloca a bola em João Vieira Pinto. Lá vai o camisola 8, menino de ouro do Benfica, tira dois adversários da frente e coloca a bola em Nuno Gomes que amortece para Luís Carlos. Luís Carlos finta Jorge Costa e Fernando Couto, fica na cara de Vítor Baía, faz um remate em força e é o GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLOOOOOOOOOOOOOO DO BENFICAAAAAAAAAA”.
Era isto que eu imaginava.
Nem sempre ganhava, na maioria das vezes o campeonato estava ali no limbo como está nesta época de 2018/2019. O último jogo era sempre um Benfica – Porto ou um Benfica – Sporting. Eu só queria jogar com um Maestro e um Menino d’Ouro, o resto era-me irrelevante. Nem sempre ganhava, mas divertia-me a sonhar com a camisola do Benfica, que vestia Olympic e tinha o patrocínio da Parmalat. Era genuinamente feliz e vibrava com os meus jogos imaginários tal como vibrava com os jogos a sério. Era um menino com uma bola branca e alguns quadrados vermelhos e verdes e um sonho. O sonho pode ter partido com o passar dos anos, a bola acabou quando rebentou. O menino continua a ver o Benfica, agora no alto dos seus 30 anos, com o desejo de querer ver o futebol mais bonito e atractivo a ser recompensado em cada competição. Com o desejo de um Benfica campeão em Portugal, vencedor da Taça de Portugal e da Liga dos Campeões.
Se eu voltasse a ser esse menino, só pedia um passe de Ferro para Grimaldo, que abre para Pizzi, que tira dois adversários da frente e joga para Jonas ou Seferovic que faz um passe a rasgar para João Félix e que descobre Luis Carlos na cara do guarda-redes adversário e finaliza de forma primorosa e dá o título ao Sport Lisboa e Benfica."
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