"Essa prática quase se generalizou em Portugal -- e no estrangeiro já vejo muitas equipas a marcarem assim os lançamentos laterais. Dentro em pouco, todas as equipas o farão.
Nos últimos dias vi dois golos resultantes de lançamentos laterais marcados com força para a grande área: o golo do Benfica ao Ajax, na sequência de um lançamento com as mãos de Salvio, e o golo do Feirense ao Vitória de Setúbal, após um lançamento de Fábio Sturgeon.
A comentadora que estava a acompanhar este jogo na TV disse que estes golos eram raríssimos, mas não é essa a minha impressão. Recordo no ano passado um golo do Porto contra o Mónaco, lá, decorrente também de um lançamento. E lembro-me de um golo do Benfica ao Porto no Dragão, no tempo de Jesus e Lopetegui, em que um lançamento lateral de Maxi Pereira permitiu a Lima abrir o caminho para a vitória encarnada.
E estes foram golos que retive, porque ocorreram em jogos importantes. Mas certamente houve muitíssimos mais.
A marcação dos lançamentos laterais perto da grande área adversária com muita força, para perto da baliza, é um fenómeno relativamente recente. A primeira equipa que vi a fazê-lo foi o Benfica, exactamente no tempo de Jorge Jesus. Admito que não tenha sido ele a inventá-los, mas em Portugal foi certamente ele quem os introduziu. A propósito, ficou-me na memória uma crítica do comentador Luís Freitas Lobo, que dizia não perceber por que razão o Benfica insistia nesse modelo, pois era óbvio que não dava resultado.
Ora, o que se viu posteriormente foi exactamente o contrário. Essa prática quase se generalizou em Portugal -- e no estrangeiro já vejo muitas equipas a marcarem assim os lançamentos laterais. Dentro em pouco, todas as equipas o farão.
E, com a passagem do tempo, cada vez esses lançamentos se tornarão mais perigosos, porque serão mais treinados e haverá mais jogadores especializados na sua marcação. Hoje, em Portugal, já temos futebolistas como Maxi Pereira que, apesar de ser baixo, consegue pôr a bola com força dentro da pequena área do adversário. E o referido Fábio Sturgeon colocou a bola pertíssimo da baliza contrária, provocando um erro do guarda-redes (tal como aconteceu, aliás, com Onana do Ajax).
As potencialidades dos lançamentos longos são óbvias. Hoje, um lançamento lateral perto da área é quase um canto. É verdade que, nos cantos, as bolas vão com mais força, permitindo remates fortes de cabeça; mas nos lançamentos laterais, se a bola vai com menos força, pode ser colocada com muito mais precisão. De facto, por muito que os pés sejam hábeis, as mãos são-no muito mais...
De certo modo, os lançamentos laterais longos vieram mudar o futebol. Antes, a marcação de um “fora” perto da área da equipa adversária não tinha qualquer perigo. Hoje, uma bola fora naquela zona do campo provoca calafrios às defesas - e angústias aos treinadores."
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