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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Classificações e arguições

"Sobre a Operação Lex Luís Filipe Vieira terá certamente todos os meios para se defender e espero, por todas as razões, que se prove a sua inocência.

Factos e feitos
Faltam 13 jornadas para se completar o campeonato. Na dianteira, tudo muito renhido e o Benfica, agora na segunda posição, a evidenciar que pode voltar a ser campeão, depois de muitas almas caridosas o terem remetido para o degredo. Nesta última jornada, tudo normal. O Benfica no seu estilo muito próprio e bipolar de uma meia-parte penumbrosa e outra luminosa, vencendo um clube com maturidade e competitividade como é o actual Rio Ave. O Porto vencendo um jogo difícil contra uma boa e bem treinada equipa como é o Sporting de Braga, podendo agradecer ao guarda-redes José Sá um quinhão decisivo na vitória. O Sporting perdendo no Estoril, com muito vento (creio que para as duas equipas) e, assim, evidenciando fraquezas depois de lhe acontecer o que ao Benfica na época passada e também nesta época foi 'o pão nosso de cada dia': lesões de jogadores importantes. Aliás, era uma questão de tempo. Taça da Liga ganha com empates arrancados a ferro, jogos sucessivos com vitórias tangenciais e exibições frouxas, adivinhava-se e avizinhava-se um dia como o da Amoreira.
O director de comunicação do Porto facebookiou aludindo à melhoria sensível do SC Braga de há três semanas a esta parte, assim insinuando, de novo, pretensas facilidades do Benfica no jogo da Pedreira. Além de mau-gosto de voltar a falar sobre o carácter e profissionalismo de uma equipa de futebol que deve merecer todo o respeito, nada disse sobre a facilidade das cabeçadas dos jogadores do Porto nos dois primeiros golos. Para mim, foram contingências e erros naturais de uma partida de futebol, mas aqui d'el rei se esses mesmos golos tivessem sido os do Benfica em Braga. O que diria o inefável director?
Por fim, Jorge Jesus falou das dimensões do relvado no Estoril. Já aqui as havia referido, mas para que conste volto a fazê-lo: 105m de comprimento e 70m de largura. Comparemo-lo com o de Alvalade: o mesmo comprimento (105m) e menos largura (68m). Esta ideia feita de que os clubes pequenos têm dimensões do campo inferiores, às vezes até dá jeito. Mas, não raro, é.

Bom sendo e clareza
1. Manda a prudência e a sensatez não embarcar na voragem mediática dos processos de investigação que por cá abundam e que culminaram, há dias, com a denominada 'Operação Lex'. Para tal já bastam a pletora de advogados que enchem o espaço televisivo, em que alguns nos esclarecem e outros nos confundem.
O certo é que com a recorrente e sistemática violação de regras do segredo de justiça, tudo mediatizado em ambiente ferozmente concorrencial de 'nós violamos mais do que os outros', nestes processos qualquer pessoa passa de investigada ou suspeita directamente a condenada, assim saltando todas as fases de um processo num Estado de Direito. Ou seja, suspeito, indicado, arguido, acusado, julgado, dissolvem-se na voragem de se decretar mediaticamente a condenação sem que haja a mínima hipótese de defesa.
Claro que os casos que temos vindo a conhecer são apetecíveis e excitantes. Atingem o coração do Estado e dos seus agentes de soberania, agora chegando a magistrados judiciais e do Ministério Público e a altos funcionários de Administração. Atingem o coração da economia, desde ex-banqueiros antes todo-poderosos e outros poderosos de terceiros países. E, 'cereja no topo do bolo', vêm atingindo o coração do futebol.
Todavia, tudo isto é também um claríssimo sinal de que não há pessoas ou instituições excepcionadas ao cumprimento da lei. Finalmente, diria mesmo.
Sendo esta coluna dedicada à área desportiva, em geral, e ao meu Benfica, em especial, e longe de querer tomar uma qualquer posição justicialista perante o que não sei para além do que cirurgicamente é divulgado como 'facto consumado', entendo deixar aqui algumas interrogações e algum desconforto.
A incomodidade resulta de ver o meu clube, justa ou injustamente, directa ou indirectamente, envolvida numa sequência de situações, umas notoriamente empoladas, outras a gerar alguma ambiguidade e que precisam de ser rapidamente dilucidadas para bem da indestrutível instituição que é o Sport Lisboa e Benfica.

2. Comecemos pelo 'caso Centeno'. Um caso ridículo, seja qual for o prisma sob o qual pode ser analisado.
Num assomo de purismo angélico e num exercício de indisfarcável excitação, assim surgiu uma pseudo querela à volta do ministro das Finanças. Tudo por causa de dois lugares por ele solicitados para ver um jogo de futebol no Estádio da Luz!
O risco de casos anedóticos como este é o de tudo confundir, misturar ou igualizar. Em faits-divers como este, a medida não está na essência, está, antes, na sua excitabilidade. A sua bitola não está na sua relevância, está mais na sua quase vacuidade. A sua marca não está na sua pertinência, está na sua conveniência. O seu eco não está na cabeça, antes deambula sorrateiramente entre a epiderme e o coração.
Algum povo até gosta destas coisas, porque assim se anima o sentimento à flor da pele de quem uniformiza a apreciação de todos os políticos como tendencialmente corruptos, desonestos e incompetentes. Eis uma forma a um pretexto para mais bater, sem pestanejar, nos outros. Sempre os outros, nunca os próprios.
Estes casos apressam e alargam o juízo fácil. Não dão trabalho, alimentam rumores e fornecem energia gratuita para o recorrente, informe e insidioso 'são todos iguais'.
Esta situação tinha os condimentos todos para ser apetitosa. Juntar no mesmo caldo um membro do Governo, um responsável pelas Finanças, um clube que suscita amores e ódios e um jogo de futebol é quanto baste para preencher a primeira página de um jornal, entrar leda e prioritariamente num alinhamento de um noticiário televisivo, encher as caixas de comentários e quebrar a rotina do quotidiano.
Mas, afinal, onde é que estava a grave infracção política ou ética? Será que, de repente, um ministro já não pode ser convidado ou solicitar um lugar de acordo com a natureza do cargo e a segurança ajustada ao mesmo? Será que o ministro do Ambiente não pode ir para a bancada presidencial do Dragão ver o seu FC Porto? Será que o ministro da Segurança Social não se pode sentar no camarote principal de Alvalade para ver um jogo do seu Sporting?
O exagero caminha inexoravelmente para tomar conta de tudo. O exagero vive de sinais exteriores e precisa de interlocutores que dele se apropriem. E que, de exagero em exagero, o propaguem.
Mas alguém, com seriedade e isenção, acreditaria que Mário Centeno poderia ficar condicionado na imparcialidade e integridade no exercício das suas funções como ministro das Finanças? Valha-me Deus!
Felizmente, foi arquivada a investigação do poder judicial, que bem poderia ter poupado tempo e competência para outras situações.

3. Sobre a 'Operação Lex' Luís Filipe Vieira terá certamente todos os meios para se defender e espero, por todas as razões, que se prove a sua inocência. Escrevo Luís Filipe Vieira, e não presidente do Sport Lisboa e Benfica. É indisfarcável a guia em procurar misturar Vieira e SLB e em envolver o clube nesta parafernália mediaticamente servida em doses cavalares. Como qualquer pessoa sei apenas o que tem sido dito, redito e desdito. Não tenho sequer o direito de ter uma opinião 'transitada em julgado' sobre este assunto. Todavia, diz-se que L. F. Vieira prometeu lugares e honrarias a um juiz desambargador, ou seja, serviu-se da sua função no Benfica para um assunto particular. Fundação do Benfica? Universidade (?) do Benfica? Ora esta nem existe e, ao que se sabe, na Fundação não está o juiz. Isto são factos. Dizem-me que o que, na vida pessoal de Vieira, estava em causa era um contencioso tributário em que qualquer cidadão tem direito a salvaguardar o que julga mais conforme à lei (ainda, por cima, tendo pago, até agora, o caso até ainda não foi decidido e a juíza a quem foi atribuído o processo terá dito que não conhece o juiz desambargador! Depois diz-se que Vieira é arguido? Sim, é. E depois? Já está condenado? E é a primeira vez que um presidente de um clube é arguido na sua vida pessoal, ainda que, nem sempre, distinguível da posição institucional?
Posto isto, espero que, no desenvolvimento deste processo, a legítima e eficiente defesa do bom nome de Luís Filipe Vieira seja realizada com total separação e independência em relação ao Sport Lisboa e Benfica, do qual é institucionalmente presidente da Direcção."

Bagão Félix, in A Bola

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