"Assente nos princípios da liberdade, habituou-se a criar o assombro nas ruas de Porto Alegre. No sangue corriam-lhe os genes que identificam o Brasil como berço universal do futebol e, desde então, não parou de crescer. Com a bola colada aos pés cumpriu todos os sonhos da infância e chegou, referenciado como sublime intérprete, a ilustres salas europeias - Paris Saint-Germain, Barcelona e Milan. Pelo caminho mostrou ser futebolista da cabeça aos pés e não um mero artista de circo, extravagante mas inconsequente. Ronaldinho Gaúcho era, ele próprio, uma gigantesca mentira cuja dimensão aumentava até falar verdade, só quando o golo estava perto. Foi assim desde menino, quando lutava pela afirmação social, até agora que nos deixou órfãos do malabarista mais concreto que o futebol conheceu. Com ele vão, também, as celebrações exclusivas de quem exaltava a glória com os dentes (sorriso largo, genuíno e feliz), as mãos (dedos polegar e mindinho) e a dança (ao ritmo do samba) que antecedia o abraço agradecido dos companheiros.
RG devolveu pureza ao fenómeno silvestre degradado pelos milhões da nova indústria e deu ao recreio o bónus sagrado da eficácia. Era um fantasma que aparecia e desaparecia num estalar de dedos; despertava os melhores sentimentos em todas as plateias, incluindo as mais hostis e, mesmo nos cenários mais bélicos e perigosos, festejava com bons instintos os quadros de beleza inconcebível que ia assinando. Nada do que fazia era contra alguém, pelo contrário, tudo revertia a favor do espectáculo. Num futebol dominado pelo conceito de fábricas em série, no qual a bola tende a tornar-se paixão clandestina, RG foi um desenho animado que corrompeu com graciosidade, inocência e imaginação filmes de cowboys, gangsters, polícias e ladrões e até de marcianos.
Foi um ser superior que desafiou o senso comum e pôs em causa as leis da gravidade; um talento desenquadrado da realidade que passava hora e meia a implodir o que déramos como verdades adquiridas, inventando sucessivas maravilhas que decidiam jogos e deslumbravam o Mundo. Passou mais de uma década a seduzir-nos com gloriosas transgressões aos manuais instituídos: humilhava adversários com magias fantasmagóricas, só pelo prazer juvenil de os ver atrapalhados; driblava quando não devia, rematava de onde estava condenado ao fracasso e, mesmo assim, transformou improbabilidades físicas em obras-primas; se tinha campo aberto para correr, travava, se tinha as vias congestionadas, acelerava; em euforia ou em depressão, falava sozinho, com adversários, companheiros, árbitros e vendedores de pipocas, diálogos que estendia à bola e até a Deus, com quem tinha pacto secreto para despertar a inspiração.
RG foi um dos mais extraordinários génios da centenária história do futebol, um artista assombroso, gerador de truques inimagináveis que nos encheram a alma e de milagres que credibilizaram o jogo como expressão de arte. Se à chegada suscitou as reservas habituais dos que, em vez de se renderem à evidência de uma nova dimensão, lhe apontaram desfasamento competitivo, superficialidade e intenções perversas, agora que pendurou as botas e se foi, devemos lamentar o adeus de um dos actores mais amados de sempre. RG nunca mostrou a irascibilidade de Maradona, a obstinação de Cristiano Ronaldo ou a regularidade de Messi; mas quanto ao talento puro, esse dom divino de que são feitos os extraterrestres, em nada ficou a dever-lhes. Foi tão grande, mas tão grande, que parece impossível (um sacrilégio) só ter ganho uma Bola de Ouro (2005). O futebol fica a dever-lhe, pelo menos, três - as de Nedved (2003), Shevchenko (2004) e Fabio Cannavaro (2006) deviam ter sido dele. Nada que altere o essencial: não precisa delas para ser um protagonista eterno e sublime do filme das nossas vidas.
Rúben Dias
de pedra e cal
No futebol, a sorte de uns costuma resultar da infelicidade de outros
Rúben Dias sempre contou para Rui Vitória. Os episódios da sua afirmação, porém, não lhe sorriram, tendo como ponto mais alto a apendicite que o afastou por seis semanas. Mesmo quando jogou, no início, fê-lo à esquerda de Luisão, ele que se formou como central descaído para a direita. O infortúnio do capitão permite-lhe agora jogar como e onde gosta. Se não tiver mais azares, será muito difícil tirá-lo dali.
Welthon subiu
mais um degrau
Às vezes o caminho até ao ponto mais alto não se concretiza em linha recta
Welthon foi contratado pelo V. Guimarães. Na impossibilidade de saltar directamente do Paços de Ferreira para um dos três maiores clubes portugueses (chegou a falar-se que esteve quase no Sporting), o Vitória é uma boa estação intermédia para os anseios de um dos melhores avançados a jogar em Portugal. Aliás, a cláusula de 30 milhões significa que até os vimaranenses acreditam no voo do jogador.
Fábio Veríssimo
perdeu audição
Diz-se que os árbitros são mais dóceis com quem actua nos grandes.
E é verdade
Fábio Veríssimo expulsou Jubal e Zainedine por insultos mútuos no V. Guimarães-Marítimo (24/9/2017). A peculiar decisão, validada pelas instâncias superiores, configurou a acção do mestre-escola sobre pecados de dois meninos malcomportados. Foram reguadas. Em Setúbal, Coentrão gritou-lhe aos ouvidos impropérios inaceitáveis; mas agora sofreu ataque de surdez e não agiu. É preciso ter uma lata..."
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