"A estatística é uma questão antiga que tem ganho destaque nos últimos anos, e que a imprensa tem vindo a explorar. É informação fácil de obter, sem muito trabalho, e em teoria a análise é correcta.
Com as ferramentas informáticas de hoje, todos são capazes de analisar jogos de futebol com base em dados estatísticos. Fazem-se rankings, com os parâmetros que cada deseja, analisam-se jogos e equipas de forma rápida, e tantas vezes leviana, trabalham-se os números como se mais nada existisse. No desporto, e em particular no futebol, estamos no campo das ciências humanas; com tudo, muitos analistas ignoram este dado essencial, como se o desporto fosse uma ciência exacta. O futebol não é economia, apesar das ferramentas de gestão serem fundamentais para gerir um clube de futebol. Mas a gestão dos recursos humanos é bem mais importante. Quem o ignora falha na gestão do desporto. E vai continuar a falhar.
Há uns anos, numa reunião com a administração do clube onde trabalhava, fui confrontado com um dado estatístico concreto. A equipa jogava muito para trás, pois o nosso ponta de lança tinha uma percentagem superior de passes para trás e para o lado do que para a frente. Tentei explicar que era o nosso pivô ofensivo, o tabelador, e que normalmente não tinha jogadores numa linha mais avançada do que a sua. Nada feito. Os dados eram concretos, o nosso 9 jogava demasiado para trás. Já estava a ficar aborrecido, mas os dados, acredito eu, estavam correctos. Não conseguia sair dali. Lembrei-me de perguntar aos administradores quantos passes para a frente, para o lado e para trás fazia o nosso guarda-redes. Claro que tinha uma percentagem próxima dos 100% de passes para a frente. Aí estava a resposta, a equipa jogava para a frente. Acabou a reunião. Nunca mais me incomodaram com o ponta-de-lança. Os números são importantes mas não são o mais importante!"
José Couceiro, in A Bola
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