"Alguém se lembra de Rui Vitória ou Sérgio Conceição suscitarem críticas públicas a jogadores? Há assuntos que só devem ser abordados na discrição do balneário.
A crise, na versão mais cáustica, o mau momento, a fase difícil ou o que se quiser chamar-lhe elevou o Benfica a tema principal de todas as conversas durante as sete jornadas do Campeonato já realizadas.
Não por ser o campeão em título, mas pelo colapso desportivo que os outros candidatos julgaram ver num ciclo de exibições e resultados pouco recomendável a quem elegeu o penta como objectivo supremo. Levantou-se uma espécie de remoinho ventoso, soprado de fora e de dentro, num aproveitamento grotesco e oportunista em vez de desunir contribuiu para unir com mais força.
A oitava jornada, no próximo fim de semana, inclui o clássico Sporting - FC Porto e, por conveniência, a santa aliança vai a banhos por uns dias, podendo a águia voar sem receio de tentativa de alvejamento, sem se saber, no entanto, como ficará o relacionamento entre ambos em função dos diferentes cenários:
Vitória do FC Porto que passaria a somar mais cinco pontos do que o segundo e poder sentir-se como meio campeão.
Vitória do leão, que assumiria a liderança com mais um ponto do segundo (FC Porto).
Empate, ambos a cederem dois pontos, sem alteração no topo da classificação, embora sujeitos à aproximação do Benfica, obrigado a ganhar na Madeira: é complicado, mas é a única saída, partindo-se do princípio que, na qualidade de tetracampeão, já deu avanço suficiente.
Se tiver sucesso nos Barreiros (mais três pontos) é garantido que a crise, o mau momento ou a fase difícil não apenas deixará de importuná-lo como, tudo leva a crer, mudará a residência para outra freguesia. Prova de que o futebol é imprevisível: ora fascina, ora surpreende.
O Sporting empatou em Moreira de Cónegos em jogo equilibrado, intenso e corajosamente disputado. O empate foi desfecho normal e, queixas sobre arbitragem à parte, penso que os treinadores estiveram de acordo.
É evidente que deixar fugir o FC Porto em vésperas de clássico não é boa notícia, mas aconteceu, pronto, motivo por que não se compreende a necessidade de Jorge Jesus em apontar o dedo a «um ou dois jogadores» como se a responsabilidade nas vitórias e nas derrotas não fosse, sempre, de quem manda, de quem prepara o plantel e define a equipa titular. Parecia-me, aliás, perceber no seu discurso essa alteração significativa: enterrar o 'eu' e festejar o 'nós', destacando a importância dos artistas.
Enganei-me, certamente. Alan Ruiz já está na cruz e, pelo que li, Bruno Fernandes tem lá espaço reservado. É verdade que nunca equipa todos devem sentir-se obrigados a trabalhar em benefício da comunidade, mas na hora de subir ao palco convém salvaguardar as diferenças entre o pianista e o carregador do piano. Em caso de dúvida, recomendo o estudo do percurso do Inter de Milão treinado por José Mourinho e que foi campeão europeu em 2010.
Jesus possui, provavelmente, o melhor plantel, como nos dois anos anteriores, mas ao pôr-se de fora no que toca à assumpção de culpas, porque foi ele quem resolveu aligeirar o meio-campo com o Moreirense, se calhau deu o primeiro passo para comprometer a época.
Alguém se lembra de Rui Vitória ou Sérgio Conceição suscitarem críticas públicas a jogadores? Há assuntos que só devem ser abordados na discrição do balneário, mas Jesus não respeita essa fronteira.
Este vai ser o último ano em que Portugal regista três emblemas na fase de grupos da Liga dos Campeões, não sendo previsível que haja capacidade, vontade e mentalidade para recuperar esse privilégio nos anos mais próximos.
Em vez de nos aproximarmos do sexto lugar do ranking europeu estamos a afastar-nos. Em vez de se encarar a presença na mais importante competição de clubes da UEFA como sinal de grandeza, de prestígio, de valorização e de enriquecimento dos clubes olha-se para ela como empecilho, por atrapalhar a envelhecida gestão de plantéis tão ao gosto de quem insiste em manter-se agarrado a conceitos desajustados ao que recomenda o futebol moderno por causa de canhestra teoria das prioridades apregoadas como se fosse a descoberta do século.
Há treinadores que a vendem a adeptos mal informados como a solução ideal para fazer figura nas provas do bairro, geralmente de pouca visibilidade e discutível impacte mediático em curto mercado como é o nosso. A propósito, Manuel Machado recomenda uma revolução para o futebol luso, dá exemplos e adianta sugestões. É inevitável, sobretudo ao nível da classe dirigente, bloqueadora e tradicionalmente receosa do desconhecido.
Como jogadores e treinadores continuam sem merecerem a relevância devida, ocupa~se o tempo com esgadanhadas discussões, algumas ofensivas e até insultuosas, fruto de deprimentes estratégias de comunicação sem pingo de pudor na subversão de valores. O futebol é um jogo e um jogo é uma festa, que aglutina; jamais um pasto de manifestações populistas que não reconhecem regras nem deveres de obediência.
O presidente da Federação Portuguesa de Futebol foi eloquente na carta que escreveu e só escutou elogios, do Governo aos clubes. Fica bem bater palmas, no pressuposto de, como é costume, tudo se manter como está, ao sabor dos interesses há muito instalados..."
Fernando Guerra, in A Bola
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