"Uma tarde de sol em Lisboa. O Benfica recebia o Barreirense para a Taça de Portugal. Venceu por 5-0 e encarrilou nos eixos da vitória na prova, batendo mais tarde na final o Sporting por 2-1.
Gosto, volto e meia, de trazer, a estas vossas páginas, histórias de clubes que o tempo foi fazendo desaparecer do mapa do grande futebol. Tantos são eles e não consigo esconder uma pontinha de saudade da CUF e do Montijo, do Oriental e do União de Tomar, do Tirsense e do União de Coimbra. E, claro!, do Barreirense.
Nada pois como ir à procura, forçando por entre jornais velhos como a Madame Curie foçou na pechblenda na busca incessante do rádio. E, assim, damos com episódios curiosos que puxam a corda fina das lembranças.
Começo, hoje, por citar.
'Com duas bolas em desfavor e o vento a favor, estava indicado que o Barreirense, na segunda parte, se lançasse abertamente ao ataque (perdido por um , perdido por mil...). Mas o Benfica, que durante o primeiro tempo tivera evidente dificuldade em bater a bem organizada defesa visitante (o seu golo desse período surgira sem grandes créditos para si e sem descréditos para os barreirenses), apercebeu-se que não era difícil contrariar essa ideia'. Ficam já a saber por estas linhas tão óbvias que Benfica e Barreirense se defrontavam. Para a Taça de Portugal, acrescento. Em Lisboa, na tarde soalheira de 15 de Maio de 1955.
'Bola a beijar a relva, cada jogador compenetrado no seu papel, o Benfica, de repente, parecia outro - e o Barreirense perturbou-se. (...) E, enquanto a equipa visitante se notoriamente perdia em hesitações, o Benfica continuava a atacar com ímpeto e magnífico sentido de jogo. Águas e Arsénio entonteciam a defesa da outra margem!'
Vamos já dar cabo do suspense, que isto não é nenhum filme de Hitchcock. O Benfica ganhou fácil. Cinco a zero, como gostava de escrever o grande Carlos Pinhão. E ganhou também essa edição da Taça de Portugal, batendo o Sporting na final por 2-1.
Águas e Arsénio
O Barreirense tinha aquele equipamento bonito de riscas largas, vermelhas e brancas. E como, nesse tempo, não havia cá problemas com confusões de cores, ao contrário de agora, que parecemos todos daltónicos com esta mania de usar as camisolas alternativas a esmo, o Benfica estava lá, no vermelho berrante das papoilas.
Águas e Arsénio entonteciam a defesa dos barreirenses.
Pudera! Três golos para Águas, dois para Arsénio (um deles espectacular, em pontapé de moinho).
Na sua retaguarda, Caiado e Zezinho.
Um carrossel. À roda e à roda e à roda.
'Deste modo, o Benfica impôs-se decisivamente - e os golos (a conta ficou em cinco) nem tiveram o condão de concretizar tanta superioridade de toda a ordem'.
Coluna e Palmeiro foram imperiais.
Costa Pereira defendeu um penálti marcado por Pinto.
Depois, os acontecimentos estragaram-se. Infelizmente para o público, até aí feliz. 'A partir do terceiro golo dos encarnados, que arrumou o jogo, as coisas tornaram-se algo feias; se aos barreirenses, nesse aspecto, cabe o mais largo quinhão de culpas (Ricardo Vale excedeu-se em 'desafios' à assistência), se o Benfica, aqui ali, também respondeu, a verdade é que o erro do árbitro, deixando Alfredo no terreno, fez pensar em impunidades que realmente existiram. Era, com efeito, muito difícil ao senhor Alfredo Rodrigues expulsar alguém do campo... Desde logo se estabeleceriam confrontos de critério que, pela certa, não formariam a autoridade do árbitro'.
Pois, até nas memórias, a arbitragem portuguesa fica mal. Um caso raro de eterna incompetência..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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