"Depois de ler a coluna do Miguel Cardoso Pereira, n'A BOLA de sábado, o meu pai disparou uma frase que haveria de assolar o lado filosófico da minha mente por todo o fim de semana: «um dia haverá um sistema com câmaras, por satélite, nem sei como, que avaliará os lances de todos os jogos e decidirá bem, sem ser preciso haver árbitros em campo».
Não deixa de ser curioso que, horas mais tarde, à conversa com um amigo sobre práticas médicas ele tenha expressado profundo cepticismo para com o que diz ser uma cada vez maior especialização, já que entende que esta leva à aplicação de algoritmos (baseados em casos passados) para decidir como tratar cada doente.
Num e noutro caso parece-me levantar-se uma série de questões éticas fundamentais. Em ambos, a desumanização coincide com os cenários apocalípticos de uma humanidade dominada por computadores por si criados. A verdade é que num e noutro caso tendemos a aceitá-lo se nos garantirem que desta forma se elimina o erro: que deixa de haver penalties por marcar, que deixa de haver gente a morrer por mau acompanhamento médico - veja-se como chegámos a admitir, depois da tragédia German Wings, que os aviões podiam até ser mais seguros se totalmente pilotados de forma automática.
De trás para a frente, desmonte-se a desumanização. Milhares de acidentes de avião são evitados pela perícia dos pilotos; o olho clínico de um bom médico acerta mais que os melhores livros todos juntos e, por fim, vamos à arbitragem. Discordo que o erro seja parte integrante do jogo (é algo a erradicar, se possível), mas atenção: se for possível um computador decidir (bem) todos os lances, é provável que a Justiça dos Estados também possa ter uma máquina por juiz. Estaremos dispostos a aceitar tal coisa?"
Nuno Perestrelo, in A Bola
PS: A iliteracia informática, misturada com a ficção-cientifica, e as profecias apocalípticas, que vendem livros e filmes, tolda muitas vezes as opiniões.
O uso da tecnologia na arbitragem do Futebol, será sempre uma ferramenta, a decisão final será sempre humana, até porque na maior parte das decisões existe subjectividade. Algo que já se passa, em várias outras modalidades, sem que mal venha ao mundo por isso...
No Ténis, aquilo que o programa faz, é uma medição... no Futebol existem algumas decisões idênticas, mas a maior parte, nunca será decidida por um 'computador'. O problema do uso do video no Futebol, é saber se as pessoas que vão operar esse sistema, são tão incompetentes ou corruptas como os apitadeiros que andam dentro do campo... Bastar compilar os bitaites dos especialistas (ex-árbitros...) nos pasquins todas as semanas, para chegar à conclusão que mesmo com muitas repetições e zoom's, continuam vesgos na mesma!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!