"O futebol é o desporto que, em teoria, menos deveria conduzir ao sucesso. Ao contrário de outras modalidades, joga-se com os pés e não com as mãos. Ora os ditos pés são, creio, a parte mais tosca para o homem se exprimir. Quase todos os outros desportos precisam das mãos - parte do corpo bem mais artística e habilidosa - para se jogar. No futebol, a mão é até pecaminosa.
Certo é que a primeira medida do sucesso no futebol é ter bons pés. Se possível, ser destro e canhoto. Bons pés significam força, direcção, capacidade de finta para , em futebolês, o chuto ter conta, peso e medida com o discernimento de se poder para jogar com o pé que se tem mais à mão, como dizia o saudoso Alves dos Santos.
Curiosamente, no guarda-redes o que é essencial é ter boas tenazes, embora o pé seja uma das medidas dos seus erros.
Passando ao lado das pernas e músculos (determinantes para a velocidade, salto e capacidade de reacção), chegamos à cabeça. E se por cabeça pensamos nas cabeçadas, tivemo-las ao longo do tempo, para todos os gostos. Até cabeças em forma de quilha podem ser um decisivo factor de sucesso porque provocam o efeito bilhar (o caso de Vata, embora ironicamente mais recordado pela mão).
Porém, se por cabeça pensarmos no juízo, as coisas mudam de perspectiva. Um bom jogador deve ter os pés bem assentes no chão. No duplo sentido. Maradona por ser baixo tinha um centro de gravidade tal que raramente caia, mas o juízo (ou falta dele) tem-lhe sido adverso.
Curioso é verificar que, no mundo do futebol, há quem tenha sucesso construindo, mas também o há quem lá chegue, destruindo. Daí a cotação aumentada das chamados trincos."
Bagão Félix, in A Bola
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