"Quatro golos de Rogério desfizeram o entusiasmo dos estudantes numa tarde em que Lisboa fervia de calor. O Benfica dava chapa 5 na final da Taça de Portugal. Voltaria a repetir a façanha nas duas edições seguintes...
NO dia 10 de Junho de 1951, o Benfica venceu a Final da Taça de Portugal, no Jamor, batendo a Académica, por 5-1. No dia 15 de Junho de 1952, o Benfica venceu a Final da Taça de Portugal, no Jamor, batendo o Sporting, por 5-4.
No dia 28 de Junho de 1953, o Benfica venceu a Final da Taça de Portugal, no Jamor, batendo o FC Porto, por 5-0.
Três conquistas consecutivas, todas rematadas a chapa cinco.
Três que podem muito bem ser consideradas quatro, já que em 1950, por via da disputa em Lisboa da Taça Latina, não houve lugar à Taça de Portugal. E no dia 12 de Junho de 1949, o Benfica venceu a Taça de Portugal, no Jamor, batendo o Atlético, aí apenas, por 2-1.
Mas desse jogo já falámos na semana passada, vamos então aos três-vezes-cinco, algo que dificlmente se repetirá na história do Futebol português.
No dia 10 de Junho de 1951, Lisboa viu-se invadida por estudantes. As capas negras brilhavam ao sol e a romaria começou cedo em direcção ao Vale do Jamor. O calor era sufocante, demolidor. Escrevia-se na imprensa da época: «Não foi um grande jogo, sem dúvida. Teve, todavia, aqui e ali, além de laivos de emoção e toques de bola factura de futebol. A A.A. sempre que procurou baixar a bola, deu melhor seguimento ao seu jogo ofensivo. O Benfica, com um Rogério em tarde de brilho, teve quem ordenasse o jogo vindo de trás, de uma defes segura, em regra. Moreira, Arsénio e Rogério, escalonando-se, recebiam a bola vinda da retaguarda e logo lhe davam o devido destino. Para a frente. Mas nem sempre, digamos. Houve muitos lances de rendilhado, sem progressão no terreno (...) O Benfica tirou, pois, boa desforra de há doze anos. Conquistou a Taça por mérito próprio, fazendo na final o suficiente para chegar a uma marca robusta, expressiva, eloquente. (...) Quando terminou o desafio, os 'benficas' seram largas ao seu entusiasmo. Por momentos tivemos a sensação da famosa final da Taça Latina de 1950. Quando Francisco Ferreira apareceu na tribuna de honra com a taça recolheu fartos aplausos. Os benficas deram então largas ao seu contentamento».
A arte de Rogério
PARA chegar à final de 1951, coube ao Benfica afastar o Sporting da Covilhã (4-1 em casa, 5-5 fora), o Marítimo (3-0 fora, 2-1 em casa) e o Atlético, finalista da última edição (5-3 fora, 1-0 em casa).
Depois, na final, os tais cinco-a-um. E os golos enfileiraram-se desta forma: 1-0 por Arsénio, aos 5 minutos; 2-0 por Rogério »Pipi», aos 14 minutos, de grande penalidade; 2-1 por Macedo, aos 26 minutos; 3-1 por Rogério «Pipi», aos 55 minutos; 4-1 Rogério «Pipi», aos 63 minutos; 5-1 por Rogério «Pipi», aos 77 minutos.
Quatro golos de Rogério - quatro! Nem o famoso Bentes, do lado coimbrão, o Dr. Bentes, o «Rato Atómico», foi capaz de ofuscar o brilho de »Pipi».
«O labor de Rogério, ontem em dia de abrir o livro», escrevia-se no «Diário de Lisboa». E prosseguia-se: «Se o seu segundo golo, terceiro do Benfica, fora extraordinário, o que se lhe seguiu andou na mesma bitola. Uma série de fintas, driblando para a direita e para a esquerda, terminando o 'bailado' com um chuto que chegou às malhas».
Com o seu talento, Rogério »Pipi» desfazia a última resistência dos estudantes. Falava-se em révanche. Fora contra a Académica que o Benfica perdera a primeira edição da Final da Taça de Portugal, em 1939. A vingança servia-se fria num prato com cinco golos. Desiludidos, os rapazes das capas negras regressavam às margens do Mondego. Sem razões para lamúrias. Nos anos que se seguiram, o Benfica voltaria a aplicar a receita dos cinco a Sporting e a FC Porto em novas finais do Jamor. Ficam aqui prometidos os pormenores dessas cenas dos próximos capítulos. Até já!"
Afonso de Melo, in O Benfica
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