"Escrevo, abismado, em cima da meia-noite. Portugal ainda tem particularidades únicas. Uma reunião, com um assunto importante, embora nem por isso transcendente, durou mais de dez horas para chegar a conclusões. Dentro de uma sala, um grupo restrito de sportinguistas a lutar heroicamente contra a fadiga, o tédio, o sono, a fome, a insensatez, até mesmo contra uma peculiar forma de masoquismo. Todos vencidos, no final.
A questão era apenas esta: o que fazer de um dirigente formalmente acusado de crime grave de lesa futebol e lesa clube?
O próprio dirigente dera, em devido tempo, uma resposta sensata: suspender funções, até se apurar a verdade. Fora, aliás, essa atitude que lhe valera, do presidente, um elogio sentido pelo enorme sportinguismo demonstrado. Porém, horas depois, o autosuspenso dirigente automudou de opinião, trazendo um infindável imbróligo aos seus pares, desgraçadamente regressados à pergunta angustiante: que fazer?
Contornemos, pois, as questões de estratégia pessoal, centremonos, apenas, na defesa do bom nome do clube, da moral desportiva e da ética dos comportamentos. Quem é acusado de tão graves crimes tem todo o direito de se defender do que diz ser uma falsidade, mas não pode, nem deve arrastar o clube na sua angústia, na sua inquietação e, especialmente, na sua suspeita. Mas se por uma fraqueza, a que todo o espírito humano está sujeito, decidir ficar, os seus pares têm de ter a coragem de dizer muito simplesmente: não pode! Teria sido essa a única maneira de defender o Sporting. Deploravelmente, a decisão foi outra."
Vítor Serpa, in A Bola
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