"Há dez anos, no inicio deste novo século, realizei uma série de entrevistas com grandes figuras do futebol português. José Torres foi uma delas. A doença já o incomodava e Torres fazia questão de não sair muito de casa. Durante algumas horas ficámos à conversa e ele contou vários dos episódios mais marcantes da sua carreira. É a altura certa para recuperar essa conversa.
Chamaram-lhe "tosco" quando veio de Torres Novas para Lisboa; foi o "padrinho" de Eusébio no lar do Benfica; jogou até aos 42 anos(!!!); marcou a Yashin o golo que nos deu o terceiro lugar no Campeonato do Mundo de 1966; foi o seleccionador da equipa portuguesa que se apurou para o Mundial do México e viveu o pesadelo de Saltillo. José Maria Pedroto, seu treinador no Vitória de Setúbal, chamou-lhe "Lagardére":«eu era o homem que saltava do banco para dar a "estocada final"». A estocada final do "Lagardére!" Antonio Tabucchi, esse Italiano que por causa de Fernando Pessoa e do «Livro do Desassossego» se transformou em português, dizia que ele era "a diferença que fazia realçar o génio, o homem da objectividade no meio dos artistas".
A Federação Portuguesa de Futebol e a Liga de Clubes entenderam que o seu funeral não merecia presença. No mesmo dia, a Liga, juntamente com várias figuras sinistras ligadas de há muito ao FC Porto, preferiu homenagear... um árbitro, Olegário Benquerença.
Percebe-se: ao contrário de que acontecia no tempo de José Torres, agora são os árbitros quem marca golos.
E a canalha perdeu de vez a vergonha!"
in O Benfica, por Afonso de Melo
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