"Com tão-só sete dias de treinos na pré-época, a equipa de Roger Schmidt fez o primeiro encontro e ganhou (2-0) ao Southampton no estádio em Inglaterra. Com ainda muito ritmo de treino e pouco Kökçü, que foi titular, pouco de novo se viu no Benfica - que ainda não mostrou um declarado dono do seu jogo com bola
O que se viu de novo
Pouco. Sete dias contados desde a entrada dos bronzeados e sorrisos de férias no Seixal, as peles menos morenas e a dentição já não tão à mostra pela força do trabalho de andarem a correr no primeiro jogo da pré-época, os jogadores do Benfica exibiram, como esperado, um ritmo de treino em largas fases do jogo. A pressão alta viu-se pouco, a rápida reação pós-perda de bola também só de vez em quando e as trocas de bola a poucos toques para atrair adversários e depois acelerar a jogada, idem - tudo marcas d’água do futebol de Roger Schmidt.
Em jogo de tão pouca taxa de natalidade de novidades viu-se, porém, já alguns indícios de uma inevitável: saindo Grimaldo, a saída de bola requereu mais do par de médios para a equipa tentar agitar a forma como o adversário a pressionava. Com os quatro laterais que jogaram, o Benfica assentou mais em combinações de passe sem alguém para agitar algo numa ação individual fora da caixa. Mas também se viu o que um lateral com as valências de Mihailo Ristic pode oferecer: verticalidade nas ações e agressividade a atacar a baliza, como no 2-0 que marcou ao rematar na quina da área. David Neres, ao acabar uma transição rápida, fez o primeiro golo.
Os reforços
Algo discreto, Kökcü parece ainda um pouco peixe a dar às barbatanas fora de água. Simplificou as ações ao máximo, preferindo o passe curto às tentativas de acelerar o jogo ao longo, de um lado ao outro do campo ou para lançar um ataque (fê-lo uma vez, com facilidade e precisão, para David Neres na primeira parte). O pautar do jogo ofensivo de toque passou mais por Chiquinho do que pelo turco. No lado direito da defesa, João Victor foi dos mais erráticos da equipa, precipitando-se bastante no passe na construção de jogadas ainda dentro do meio-campo da equipa.
Retornado do empréstimo, Tiago Gouveia pisou relvas distintas das que deixou pegada no Estoril, mostrando-se não tanto colado a uma ala, mas a deambular entre o centro (nas costas de Tengstedt, o pouco móvel avançado dinamarquês) e a esquerda. O drible pouco lhe saiu, tal como a Andreas Schjelderup, o norueguês que tentou algumas investidas em corrida com bola que pecaram depois na decisão subsequente. E ainda provocou a parada da tarde a Gavin Bazunu, guarda-redes dos ingleses que evitou o que parecia um golo cantado (depois de um roubo de bola perto da área e de João Mário lhe passar a bola só para ele encostar).
Tomás Araújo, vindo de Barcelos e do Europeu sub-21, pouco testado foi a defender, mas denotou aqui e ali a costela que o torna um central de qualidades especiais: assumiu na saída de bola, correu com ela e até fintou a pressão de adversários. Na lateral esquerda, o jovem Rafael Rodrigues, vindo da equipa B, foi certinho.
Como começou: Samuel Soares; João Victor, Lucas Veríssimo, Morato e Mihailo Ristic; Chiquinho e Orkun Kökcü; David Neres, Rafa Silva e Fredrik Aursnes; Petar Musa.
Como acabou: Samuel Soares; Alexander Bah, António Silva, Tomás Araújo e Rafael Rodrigues; Florentino Luís e João Neves; Andreas Schjelderup, Tiago Gouveia e João Mário; Casper Tengstedt.
O melhor
Com o seu habitual diabo fintador no corpo, o endiabrado David Neres torceu a espinha ao desafortunado lateral esquerdo do Southampton durante a primeira parte, cheio de receções orientadas e fintas curtas para arranjar os espaços onde inventou quatro remates. Marcou num deles, noutros dois sacou paradas vistosas do guarda-redes. Com Di María recém-chegado, ainda a assistir das bancadas, o desequilibrador individual da época passada mostrou que mantém o faro das fintas apurado.
A banda sonora
Aturem, por favor, o seguinte raciocínio.
No Benfica órfão de um pensador de jogo descarado desde a badalada saída de Enzo Fernández no Natal passado, espera-se que seja Kökçü, médio em quem o clube rebentou o seu recorde de transferências, a assumir na bola e no campo essa responsabilidade de por ele tudo ter de passar no miolo do futebol encarnado. Ao fim de uma semana de treinos, o turco ainda não foi esse íman de jogo para demonstrar as capacidades que se lhe reconhecem. Foi, sim, o ‘velho’ Chiquinho quem mais tocou na bola e ditou coisas na primeira parte - na segunda, Florentino e João Neves pouco se destacaram ofensivamente.
Chiquinho é Francisco, que é Francis se dito em inglês, que não era originalmente o nome de nascimento de Black Francis, o vocalista e cancionista dos The Pixies com quem, já lá vão os anos, questionou onde parava a sua mente. Por enquanto, o jogo do Benfica pergunta o mesmo. A boa notícia para os encarnados é que há mais do que tempo para ela aparecer."
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!