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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Neymar, o fantoche da ópera (de Schmidt)


"O que escreveria a genial pena de Nelson Rodrigues sobre Neymar? O acinte irrecusável levá-lo-ia, certamente, para uma das frases que o elevou ao altar dos imortais.
«Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. São muitos.»
Não duvidem, estimados senhores, a Neymar estaria reservado o «óbvio ululante», um lugar especialíssimo com vista privilegiada para o horizonte da idiotice desbragada.
Seu Nelson não era um homem paciente. O talento que lhe pulsava no peito tinha tanto de poético como de clamor, era uma extroversão genuína do que lhe nascia no cérebro e morria no punho onde a caneta se encostava.
Diria eu, com uma vénia ao maior dos maiores, que essa impaciência pelos «idiotas» assaltantes das mais sensatas normas da sociedade é a única linha contínua entre o intelecto de Nelson e a modéstia das minhas linhas.
Neymar, pois. Ao ver o PSG-Benfica (e, já antes, o Benfica-PSG e o Reims-PSG) dei por mim a imaginar o que escreveria o bom do Nelson sobre o espírito conflituoso e atormentado de um dos mais mediáticos avançados do futebol que vemos.
Não sei se replicaria a grosseria instintiva de Marco van Basten, para quem Neymar é «um jogador sujo» e um «chorão», ou se escolheria adjetivos mais edificantes. Talvez namorasse esses mesmos insultos, só para soltar um epitáfio com data de nascimento e falecimento futebolístico.
Esses excessos na escrita de Nelson Rodrigues vestiram décadas a fio a burguesia carioca e paulista. Construíram e esfacelaram criaturas, desenharam e esventraram anjos e monstros – mais monstros do que anjos.
Neymar seria, atrevo-me a dizer, um alvo demasiado fácil. A genuinidade com que se expõe à crítica chega a ser comovente. Simula, insulta, representa, é todo ele um teatro de falsidades, intercalado – naturalmente – por instantes que o poderiam colocar no patamar dos gigantes do jogo.
Mas Neymar não quer, Neymar não deixa. Coincidência ou não, o rapaz criado no Santos nem no top-100 dos melhores está, na lista agora divulgada pela reputada Four Four Two. Estão lá Pelé, Ronaldo Fenómeno, Zico, Garrincha, Romário, Ronaldinho Gaúcho, Sócrates, mas Neymar nem vê-lo.
Por falar em Sócrates, as posições sociais e políticas tomadas fora dos relvados deixam Neymar ainda mais sentenciado ao mais triste esquecimento. Uma ofensa hipócrita aos pais pensadores do movimento Democracia Corinthiana.
Um homem que veio do nada e que tudo tem, jamais poderia apoiar publicamente o Inominável, aquele que usurpa o mais básico humanismo para alimentar a clientela que o adula.
Neymar tem esta atração pela circulação em sentido contrário. Uma pena.

PS1: o PSG, de Nasser Al-Khelaifi, promete ópera e juntou os tenores mais caros e temidos do futebol atual. Neymar, Mbappé e Messi, juntos e ao vivo, uma delícia para os sentidos povo de Paris. As promessas de um futebol que atropela e foge são óbvias, mas o Benfica hiper-organizado e corajoso de Roger Schmidt provou, pela enésima vez, que os milhões não fintam, nem marcam golos. Neymar, nestes dois jogos, nem fantasma (da ópera) foi capaz de ser. Um fantoche, quanto muito. O Brasil merece mais dele, na relva e no palco político.

PS2: bravo, Benfica! O plantel 22/23 está a ser um digno representante da herança deixada nos anos 60 pelo emérito Sport Europa e Benfica."

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